Gestora de R$ 10 bi vê Brasil no fundo do poço e diz: “parece haver tempestade perfeita”

Analistas defendem que o noticiário negativo de março provocou um choque de realidade ante as expectativas de que Joaquim Levy pudesse efetuar os ajustes prometidos com tranquilidade

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – As expectativas de que a economia brasileira encerrará 2015 com uma deterioração no mercado de trabalho em um período de leve recessão indica a convergência de todos os principais indicadores macroeconômicos para um quadro já anunciado há algum tempo: a chamada “tempestade perfeita”, termo que sugere uma combinação negativa de inflação e juros elevados, baixo crescimento (ou recessão, no caso), elevação no desemprego, deterioração das contas públicas e subsequentes olhares mais atentos das agências de classificação de risco.

Essa visão, compartilhada por boa parcela dos agentes do mercado financeiro, é destacada em um relatório enviado pela Rio Bravo Investimentos a clientes. No documento, intitulado “O Fundo do Poço”, analistas da gestora responsável por administrar R$ 10,34 bilhões defendem que o noticiário negativo de março provocou um choque de realidade ante as esperanças de que Joaquim Levy pudesse efetuar os ajustes prometidos com tranquilidade. Pode ser que ainda haja mais turbulência do que a esperada anteriormente até que se caminhe para terrenos de maior estabilidade.

“A conjunção de más notícias pode ser vista como uma transição, um período necessário de ajustes doloridos e reconhecimento de erros e distorções. É este o sentimento que move o ministro da Fazenda, em quem parecem estar depositadas todas as esperanças da presidente da República em recuperar níveis de aprovação minimamente satisfatórios”, observa a equipe da Rio Bravo.

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Apesar da importância do apoio presidencial, o ministro também depende dos esforços do Congresso, que, embora tenha dado gestos de solidariedade, ainda representa uma incógnita ao governo. Tendo em vista a expressiva fragmentação da base aliada na Câmara e Senado, não se sabe exatamente qual será o desfecho da novela que envolve a aprovação dos ajustes trabalhistas e previdenciários – ancorados nas Medidas Provisórias 664 e 665.

As recentes manifestações de centrais sindicais adicionaram novos ingredientes ao já confuso cenário desenhado e pressionam parlamentares mais ligados à classe trabalhadora. Não se sabe qual será a disposição de muitos petistas em votar favoravelmente todos os pontos propostos por Levy em seu ajuste. Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Paulo Paim (PT-RS) podem ser alguns adversários do ministro da Fazenda, mesmo pertencendo ao mesmo partido da presidente. Muitos deputados ainda dizem que são baixas as chances das MPs saírem como entrarem, ou seja, sem relativas desfigurações.

“A dificuldade em se alcançar este equilíbrio turvou as perspectivas sobre o ajuste fiscal, e tem mobilizado todas as atenções do ministro Levy”, escreveram os analistas da gestora no relatório. “O tamanho das dificuldades fiscais, entretanto, não cessa de surpreender”, completam em menção à gestão anterior, que contava com Guido Mantega na Fazenda e Arno Augustin, no Tesouro. Para eles, a dupla teria sido responsável por deixar “um rastro de destruição poucas vezes observado na História da República”.

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Os riscos de uma década perdida
Ainda lutando contra os ajustes econômicos além da baixa coesão da base aliada no Congresso, a baixa popularidade da presidente Dilma Rousseff pode indicar que as coisas podem caminhar de forma mais lenta que a previamente esperada. De acordo com pesquisa feita pelo Datafolha em 12 de abril, 13% avaliam a atual gestão como “ótima/boa”, contra 60% de “ruim/péssima”. Os números são parecidos com os apresentados pelo Ibope 11 dias antes: 12% de “ótimo/bom” contra 64% de “ruim/péssimo”. A insatisfação popular e os protestos pelo impeachment reduzem a margem de manobra de Dilma para medidas impopulares. “As incertezas sobre esse ajuste pioram a percepção de risco sobre o país, e isso se reflete na elevação dos juros futuro ao longo do mês de março”, explicam.

Sobre a capacidade do governo em executar o ajuste planejado pairam os olhares e expectativas das agências de classificação de risco e, consequentemente, das companhias com qualquer atuação no Brasil entre outros agentes do mercado. Trabalhadores também estão altamente expostos às consequências. “As perspectivas negativas sobre o desempenho da economia e a desconfiança sobre a execução do ajuste fiscal impactam no volume de captações das companhias brasileiras em 2015. As emissões de títulos no mercado de renda variável e no mercado externo não foram uma opção para empresas em 2015”, afirmam.

Há quem diga, inclusive, que, se as coisas não saírem ao menos próximo do que está previsto no script, o país poderá viver uma espécie de “década perdida”, com a perda do grau de investimento e a consequente redução no volume de investimento estrangeiro com destino ao mercado brasileiro.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.