FT lista 10 principais riscos para emergentes – e eleições no Brasil é um deles

No décimo - e último ponto - jornal destaca queda de Dilma nas pesquisas aumentam percepção de que se diminuísse intervenção, mas isso pode não acontecer

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após dois primeiros meses bastante ruins, os investidores estão mais positivos acerca dos mercados emergentes, com praticamente todas as classes de ativos do universo deste mercado ganhando valor. 

Contudo, após uma tempestade, alguns analistas destacaram ao Financial Times que seria extrapolar esse desempenho sem que houvesse problemas para o futuro, havendo ainda alguns grandes riscos que poderiam perturbar os ativos.

Com isso, o FT identificou dez riscos que podem se tornar um problema mais à frente. E o Brasil consta nesta lista, em décimo lugar, com a publicação britânica destacando a intervenção do governo e o risco eleitoral. Confira os dez principais riscos do mercado abaixo:

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1º Risco da economia chinesa não responder aos estímulos
Um risco-chave para os emergentes é que os chineses não possam gerenciar o seu crescimento econômico. O consenso de mercado aponta que Pequim, através de uma combinação de recursos fiscais e monetários, seja capaz de manter o crescimento do PIB acima de 7% ao ano. 

Mas e se esse raciocínio falhar? O programa de estímulos podem estar dentro do já planejado anteriormente, enquanto o financiamento na área social vem registrando queda. E esses pontos devem ser usados como métricas para que os investidores analisem o programa de estímulos. 

2º Setor imobiliário na China
O volume de vendas de propriedades na China caíram significativamente na comparação anual, aprofundando as preocupações dos investidores sobre a saúde financeira de alguns setores da economia altamente alavancados.

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Enquanto alguns grandes do setor podem resistir a uma condição de mercado mais adversa, os menores podem não resistir. De acordo com a agência de classificação de risco Moody’s destacou que uma das maiores vulnerabilidades do setor imobiliário é a sua exposição a altos empréstimos. 

3º Os investidores perderam a fé nos “shadow bankings”
O sistema financeiro paralelo aumenta os perigos de um erro de cálculo. No final de janeiro, um fundo de investimentos da China Credit Trust, uma das maiores instituições de “shadow banking” do país, fechou um acordo de última hora para evitar um calote e devolver aos investidores cerca de US$ 500 milhões, segundo o “Financial Times”. 

O acordo de última hora evitou a potencial falência do fundo. Esta falência não seria a primeira deste tipo, mas reforçou a preocupação do mercado com as operações de shadow banking, dado o grande número de investimentos em fundos do segmento cujo prazo termina neste ano e também o ambiente de redução da liquidez na China. 

4º Decepção eleitoral na Índia e na Indonésia
As ações das principais empresas indianas tiveram uma forte alta nos últimos meses, em parte pela crença de que Narenda Modi, que foi governador do estado de Gujarat por 12 anos, vencesse as eleições e virasse primeiro-ministro. Ele é visto por investidores indianos e estrangeiros como sendo amigável ao setor privado e com alta probabilidade de seguir com os projetos para melhora de infraestrutura. 

A Indonésia também vê recuperação, com a expectativa de que o partido do governador de Jacarta, Joko Widodo, ganhe as eleições legislativas de quarta-feira e o coloque da frente da linha de largada para a eleição presidencial em 9 de julho. Depois de dez anos sob a liderança do presidente Susilo Bambang Yudhoyono, muitos indonésios vêm pedindo mudanças.

Mas apostar no resultado de uma eleição é sempre algo arriscado, aponta o jornal e, além de haver possíveis transtornos, não há garantia de que os políticos eleitos cumpram as suas promessas, aponta a publicação.

5º Vulnerabilidade “subsaariana” por causa da China
A África subsaariana, com mercados denominados “de fronteira” por conta de sua baixa liquidez, podem ser duplamente vulneráveis à economia chinesa por serem menores e menos diversificados.

Os mais vulneráveis seriam Gana, Moçambique e Tanzânia dada a sua dependência e exposição ao gigante asiático e, de acordo com estrategistas do Bank of America Merrill Lynch ouvidos pelo jornal, a situação poderia ser tão grave que levaria até algumas economias a pedirem socorro para o FMI (Fundo Monetário Internacional).

6º Ventos contrários na Rússia
Se os investidores estão sendo excessivamente otimista sobre os dois países anteriores, há também certas ilusões sobre a Rússia. O índice de ações da bolsa russa tem uma queda de 14% no ano, mesmo depois de se recuperar do seu ponto mais baixo em março. A fuga de capitais foi de US$ 60 bilhões no primeiro trimestre, quase o mesmo valor de US$ 63 bilhões de todo o ano de 2013.

Mas a crise na Ucrânia não é a única questão e os ativos russos estavam desvalorizados antes da crise com o país vizinho também por conta do cenário macroeconômico em meio a uma economia mais fraca e uma desaceleração da demanda chinesa pelo petróleo e commodities russas. 

7º Venezuela e Argentina
O jornal destaca que, pelo menos na Rússia, a situação se cristalizou. Mas o contrário disso acontece na Venezuela e Argentina, lugares onde nunca se sabe o que irá acontecer. Apesar dos investidores terem sido acalmados pelo que parece uma vontade dos países em abraçar o pragmatismo, como o regime cambial da Venezuela e o acordo do governo argentino com a Repsol depois da desapropriação dos ativos da petrolífera, ambos os países estão extremamente disfuncionais.

Dezenas de pessoas foram mortas nas ruas das cidades venezuelanas em tumultos alimentados em parte pelo colapso da economia e escassez crônica de produtos básicos, como o leite, a farinha e o rolo de papel higiénico. Enquanto isso, a Argentina continua a impor controles de preços em uma tentativa mal sucedida para controlar a furia inflacionária. Os formuladores de políticas em ambos os países estão flertando com o desastre, aponta o jornal, que destaca que eles são exemplos de quanto as coisas podem dar errado.

8º Uma recuperação forte dos desenvolvidos pode afetar os emergentes
Se os mercados desenvolvidos se recuperarem, especialmente os EUA e a União Europeia, poderá diminuir os estímulos monetários, encarecendo assim o dinheiro global. 

Além disso, com os investimentos dos desenvolvidos parecendo mais atraentes, os mercados emergentes podem parecer uma opção relativamente pior, levando assim a uma fuga dos ativos dessas nações, elevando o rendimento dos títulos e levando à queda dos preços de ações.

9º Crise no México
Após ser apontado como um dos queridinhos entre os emergentes, o México pode representar também a sua queda. A flexibilização e “barateamento” do mercado de trabalho, a vantagem competitiva e as reformas do presidente Enrique Piñera Neto animaram.

 Contudo, o crescimento do PIB começa a decepcionar. Os gastos públicos aumentaram, mas o consumo privado e o investimento não conseguem se recuperar, sendo também um lembrete de quanto a economia norte-americana está a mercê dos EUA.

10º Intervenção do Estado e Eleições
É no décimo e último ponto que se chega ao Brasil. O jornal destaca que, para a maioria dos investidores, o papel do Estado é fornecer condições para um desenvolvimento saudável e mais igualitário para que, depois, saia do caminho. Mas não é assim o caso brasileiro, aponta o jornal, com os investidores rotineiramente culpando a mão pesada do Estado para que o crescimento da economia não ocorra como o esperado, em meio à forte intervenção nos setores de energia e fixação de preços administrados, principalmente nos combustíveis e serviço público. 

Seja como for, qualquer sugestão de que o Estado possa ser obrigado a refrear seus instintos intervencionistas é recebido como uma boa notícia por parte dos investidores, avalia o jornal. E foi assim que as pesquisas de opinião sugerindo um quadro não tão positivo para Dilma Rousseff em seu projeto de reeleição para presidente foram bem recebidas pelo mercado.

O Ibovespa se recuperou no ano e subiu 16% no rali eleitoral. Mas o FT ressalta que não deve se confundir isso com o item 4 – de decepção com o resultado eleitoral. “Poucos investidores estão apostando que Dilma vai realmente perder a presidência em outubro – embora um governante mais amigável ao mercado, como Eduardo Campos, levaria o preços dos ativos a subir. A maioria está simplesmente apostando que Dilma vai ler a forma que a situação está tomando”, avalia. Neste cenário, o perigo é que uma vez que a eleição já esteja encaminhada, o regime será como o usual.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.