FT diz que Dilma deve esquecer Neymar e alerta: brilho no futebol pode ser “maldição”

Financial Times segue sua cobertura política esportiva sobre a Copa do Mundo, ressaltando em artigos diferentes que a economia deficiente deve voltar à tona

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Financial Times segue a sua cobertura política e de Copa do Mundo. Se, no final de semana, o jornal britânico ressaltou que Dilma sente as dores de Neymar, mas não deve ter sofrer consequências graves por isso, um artigo do blog Beyond Brics ressaltou que a presidente deve esquecer o camisa 10 que saiu lesionado do jogo Brasil e Colômbia, na última sexta-feira.

“Dilma deve esquecer Neymar. Que venha outubro, quando os brasileiros provavelmente estarão mais preocupados com a economia. E, neste campo, a presidente tem muito o que temer”. O blog destaca o último relatório Focus, que cortou pela sexta vez seguida as projeções para o PIB, para crescimento de apenas 1,07% em 2014.

E, conforme ressalta o blog, as previsões de alguns economistas são ainda mais sombrias, caso do BNP Paribas, que prevê um crescimento de apenas 1% neste ano e no próximo. A inflação também preocupa, aproximando-se do teto da meta (6,5% ao ano), enquanto os números da produção industrial são verdadeiramente desanimadores. Os dados da indústria mostraram uma queda de 3,2% no ano até maio, com a produção de bens de capital caindo 9,7%, bens intermediários registrando uma contração de 2,8% e bens de consumo, 2,2%.

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“Com números como estes, você diria que a economia deve estar em recessão. Na verdade, o último dado de atividade do Banco Central para abril, mostrou uma contração ajustada sazonalmente de 0,67% na base de comparação anual”. 

Com isso, o Beyond Brics questiona: por que 44% dos brasileiros ainda pensam que Dilma está fazendo um bom trabalho? A resposta reside não apenas na Copa, apontam, mas também em áreas cruciais como emprego e salário, em que a economia do Brasil está se saindo relativamente bem. A taxa de desemprego, por exemplo, está na sua mínima histórica. 

Enquanto isso, o rendimento das famílias também estão em níveis elevados, mesmo que tenha caído um pouco nos últimos meses. “Porém, os críticos dizem que os números de emprego e salário do IBGE não são confiáveis. Na verdade, são os resultados de pesquisas em apenas seis regiões metropolitanas.Outros estudos sugerem que a taxa de desemprego pode ser o dobro da taxa do IBGE. Mas se isso é verdade, por que os brasileiros não estão mais chateado com a gestão do seu governo da economia?”, questiona o Beyond Brics.

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Para o Beyond Brics, pode ser a Copa. O índice de aprovação de Dilma estava caindo antes do início do torneio e se recuperou com a visão positiva sobre o evento. “Mas, mais cedo ou mais tarde, com a derrota ou a vitória, haverá um amanhã”. 

Brilho futebolístico do Brasil pode ser uma maldição
Em destaque, está também uma visão não tão positiva sobre o brilho futebolístico brasileiro, feita pelo colunista de política externa do Financial Times, Gideon Rachman. Ele ressaltou que o brilho do esporte pode ser também uma maldição no País, uma vez que acaba priorizando mais estádios do que escolas. 

Dois incidentes – o desabamento de um viaduto em Belo Horizonte e a lesão de Neymar – mostram porque o brilho do Brasil no futebol pode ser uma maldição, assim como uma bênção. 

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 “Os motivos para comemorar o talento futebolístico do país são óbvias. As equipes brasileiras deram alegria a milhões de pessoas em todo o mundo. A camisa amarela, ainda mais do que a Amazônia ou as praias do Rio de Janeiro, é o grande cartão de visitas do País. Mas o brilhante futebol do Brasil parece, por vezes, não servir como uma inspiração para o brilho em outras áreas-, mas como uma alternativa” ressaltou.

Rachman ressalta que, por um tempo, no ano passado, parecia que os brasileiros tinham finalmente cansado do jogo. Durante a Copa das Confederações, um evento de aquecimento para o torneio deste ano, houve protestos em massa contra as grandes despesas para realizar a Copa do Mundo.

Enquanto milhões de brasileiros ainda vivem em favelas – sem acesso a saneamento decente, saúde, educação e transporte – o Brasil foi escolhido a “derramar” mais de US$ 11 bilhões para a construção de novos estádios, assim como todas as outras comodidades exigidas pela FIFA. Os manifestantes pediram escolas ‘padrão-FIFA’ e hospitais, ressaltou. 

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No entanto, as previsões de que esses protestos seriam repetidos em uma escala similar durante a Copa se provaram erradas. Ao invés disso, o Brasil se mobilizou frente ao drama futebolístico. 

“Uma ausência de agitação social em massa não deve ser um motivo de arrependimento. Os brasileiros têm todo o direito de ter orgulho da sua equipe e do torneio – que, apesar do trágico acidente em Belo Horizonte, foi geralmente bem conduzido. O risco é que as questões levantadas por manifestações do ano passado podem ter sido deixadas de lado pela euforia futebolística”, avaliou.

Os protestos no ano passado eram interessantes e importantes, avalia Rachman, pois destacou o descontentamento e as aspirações de milhões de pessoas. A reação do governo brasileiro também foi impressionantemente madura, afirmou. Enquanto o governo turco reagiu com hostilidade, Dilma reconheceu a legitimidade das reivindicações dos manifestantes e prometeu trabalhar mais para satisfazer as suas aspirações, avalia o colunista do FT. 

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Rachman também ressalta que os estádios estão funcionando muito bem, assim como o transporte aéreo. Assim, a Copa está sendo uma ótima experiência, que era o que o Brasil queria. Com isso, aponta Rachman, é provável que Dilma seja reeleita, “porque as pessoas têm expectativa de que o crescimento volte e também porque os seus rivais não são tão inspiradores”.

Por outro lado, entre comparações entre países, o colunista finaliza: sem Neymar, o Brasil poderia facilmente perder para a Alemanha na semifinal. A única coisa pior do que isso seria a perder, na própria final, a Argentina – vizinha e rival do Brasil. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.