FT destaca “crescente podridão do Brasil” e afirma: tempos piores podem estar por vir

"A incompetência, a arrogância e a corrupção abalaram a magia brasileira", afirma o jornal britânico, que destaca, contudo, que coisas boas podem vir a partir daí

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O jornal britânico Financial Times fez um reportagem bastante dura sobre o Brasil e destacando, mais uma vez, o esquema de corrupção que afeta o País e a economia. Em reportagem chamada “recessão e corrupção: a crescente podridão no Brasil”, o jornal afirma que a “incompetência, a arrogância e a corrupção abalaram a magia brasileira”. Soma-se a isso o fim do boom das commodities, que têm levado a oitava maior economia do mundo para uma profunda recessão. 

Além disso, os desdobramentos do escândalo de corrupção na Petrobras, afirma o jornal, só agravam a podridão. Mais de 50 políticos e dezenas de empresários estão sendo investigados, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é alvo de investigação formal por acusação de tráfico de influência por sua relação com a Odebrecht. Além disso, o FT afirma que há cada vez mais rumores de que a presidente Dilma Rousseff pode ser acusada. Isso ainda parece improvável, diz o FT, mas as chances ainda existem. 

Dois principais fatores levam a essa escala da crise. A primeira é algo que o FT classifica como a manipulação da presidente em relação à economia. Felizmente, afirma a reportagem, ela voltou atrás com relação ao modelo chamado de “nova matriz econômica” conduzida por ela em seu primeiro mandato. As taxas de juros subiram para vencer a inflação. Seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, procura cortar gastos. Estas correções necessárias, mas dolorosas, cortaram os salários reais, diminuíram empregos e diminuíram a confiança empresarial. Elas também levaram os índices de aprovação da presidente para os níveis mais baixos da história. Isso enfraqueceu ainda mais seu controle sobre os integrantes da coalizão governista, cujo apoio ela precisa para instaurar as medidas de austeridade.

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A razão principal, porém, é o escândalo de corrupção. Embora Dilma tenha presidido o Conselho de Administração da Petrobras entre 2003 e 2010, poucos acreditam que a presidente é realmente corrupta. Isso não significa que ela está salva, no entanto. Dilma ainda enfrenta acusações de que seu governo quebrou regras de financiamento de campanhas e “maquiou” as contas do governo, o que pode ser o suficiente para impeachment.

O jornal aponta que, até agora, os políticos em Brasília manifestam preferência pela permanência de Dilma no poder e que ela tome para o seu mandato os problemas do país. Mas esse cálculo pode mudar à medida que eles tentam salvar suas peles. Um grande aviso veio na semana passada, ressalta o FT, quando o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha mudou de lado e foi para a oposição depois de ser acusado de ter recebido propina, alegando que este era um governo de caça às bruxas. Pior ainda seria se Lula fosse processado, o que iria aprofundar seu racha com Dilma Rousseff, sua antiga protegida, o que poderia pavimentar o caminho para o impeachment.

“Não é à toa que o Brasil hoje tem sido comparado a um filme de terror sem fim. No entanto, coisas muito boas estão emergindo”, diz a publicação.

O zelo com relação às investigações na Petrobras demonstra a força das instituições democráticas do Brasil. Em um país onde os poderosos se colocam acima da lei, Marcelo Odebrecht, presidente da maior empresa de construção civil do Brasil, está preso. Esta semana, três executivos da Camargo Corrêa foram condenados a mais de 10 anos de prisão.

Além disso, promotores latino-americanos, portugueses e de outros países também estão investigando os contratos internacionais da Odebrecht. A Odebrecht nega qualquer irregularidade, mas tem uma subsidiária nos EUA e títulos vendidos em Nova York; assim, poderia enfrentar ações também nos EUA. O FT afirma que, se estas mudanças levarem políticos e líderes empresariais a pensam duas vezes antes de pagar um suborno, este será um grande avanço na luta da região contra a corrupção.

“Quanto ao Brasil, Dilma enfrenta um mandato solitário de três anos como presidente. Os brasileiros são pragmáticos, de modo que o pior cenário de um impeachment caótico pode ser evitado. Ainda assim, os mercados começaram a precificar o risco. Isso pode muito bem signifcar que tempos piores ainda estão por vir para o Brasil”, conclui o FT.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.