FT compara Dilma a Felipão e diz: “presidente pode ter o mesmo destino que o técnico”

Segundo a publicação britânica, ambos perderam as suas duas principais estrelas ''no meio do jogo'' e Dilma pode ter o "mesmo destino" de Felipão

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A Copa do Mundo já passou, assim como as eleições presidenciais. E os dois principais eventos prometeram – e agitaram mesmo – o ano de 2014. E o Financial Times destacou em reportagem dois personagens destes eventos – a presidente reeleita Dilma Rousseff e o ex-técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, que não foi bem sucedido ao tentar levar o Brasil ao hexa. 

O jornal britânico ressalta que teve um jogo difícil ao bater a Colômbia por 2 a 1 nas quartas de final, em pleno território brasileiro. E o FT compara esta vitória bastante acirrada à eleição de Dilma por apenas 3 pontos percentuais. 

E Dilma enfrenta uma má notícia: ela precisa de uma estratégia para sobreviver ao seu segundo mandato no poder após ter quatro anos decepcionantes, afirma o jornal. Enquanto isso, em julho, no jogo contra a Colômbia, Felipão perdeu o atacante Neymar (contundido) e o capitão Thiago Silva (suspenso). No jogo seguinte, o Brasil perdeu por 7 a 1 da Alemanha.

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E, segundo o jornal, Dilma também perdeu os seus dois astros, assim como Felipão: o superciclo de commodities, que desapareceu com a desaceleração da China e a Petrobras (PETR3;PETR4), que está se afundando em meio ao que se mostra o “maior escândalo de corrupção do País”. 

De acordo com o jornal, a preocupação mais imediata é justamente a Petrobras, em meio à má gestão e à corrupção. O FT destaca a investigação da Polícia Federal sobre o assunto e os depoimentos de Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. As delações envolvem o PT e partidos da base aliada. O PT, seus aliados e alguns empreiteiros negam as acusações. Dilma Rousseff, que presidiu o conselho de administração da empresa até se tornar presidente da República em 2010, também nega envolvimento.

Porém, as acusações estão ecoando no mercado nacional e também no exterior, principalmente após a deflagração da Operação Lava Jato na semana passada. O jornal ressalta que a Petrobras é responsável por um quarto das emissões anuais de títulos denominados em dólar do Brasil, além de possuir ADRs (American Depositary Receipts) na Bolsa de Nova York.

Separadamente ao escândalo de corrupção, o governo Dilma também levou os acionistas minoritários da Petrobras a registrarem perdas ao forçar a estatal a fornecer um subsídio aos combustíveis não oficialmente para ajudar a controlar a inflação.

“Hoje, Dilma enfrenta uma tempestade perfeita em grande parte, de sua própria autoria. O déficit orçamental e a dívida pública estão aumentando, a moeda está se desvalorizando, a inflação está persistentemente alta, a economia não está crescendo e o grau de investimento do rating de crédito do Brasil está por um fio”. 

A agitação social também pode estar no horizonte se a economia do Brasil continuar em queda. As classes trabalhadoras e os pobres votaram nela, afirma o jornal, mas isso pode estar ameaçado uma vez que o crescimento do emprego em outubro foi o pior desde 1998, e a extrema pobreza aumentou no ano passado pela primeira vez em 10 anos.

Mas o FT pondera: “nem tudo pode ser perdido. Os craques dos últimos anos estão faltando. Mas se, como prometido, ela pode encontrar um substituto crível para seu ministro da Fazenda em apuros, Guido Mantega, pelo menos Dilma pode empatar o jogo. Para isso, ela terá que dar independência para o ministro”. 

O fracasso, por outro lado, poderia significar que ela terá o mesmo fim que Felipão, que saiu da seleção e hoje é treinador do Grêmio, time de futebol de Porto Alegre. Esta cidade, aliás, é também onde Dilma iniciou sua carreira política. “Se ela não mudar o jogo, eles poderão em breve se encontrar juntos nas partidas de futebol locais” (apesar de Dilma torcer para o rival Internacional).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.