Forbes diz que Sanders está errado ao condenar impeachment no Brasil: “Dilma é caso perdido”

Enquanto muitos felicitaram a atitude de Sanders, a Forbes condenou a atitude do democrata e destacou vários motivos para tanto

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na semana passada, o pré-candidato derrotado para representar o Partido Democrata nas eleições presidenciais americanas deste ano, senador Bernie Sanders, divulgou comunicado condenando o que classificou como “golpe de estado” realizado no Brasil, através do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que entra na sua reta final e deve ser concluído neste mês. 

Enquanto muitos felicitaram a atitude de Sanders, outros condenaram a atitude do democrata. Dentre eles, o colunista da Forbes Kenneth Rapoza, que cobre América Latina. Em artigo, ele destacou que o político falhou em influenciar os votos no Brasil uma vez que, mesmo com a carta do americano, 59 senadores foram favoráveis para que Dilma se tornasse ré no processo (eram necessários apenas 41 votos naquele momento e 54 para que a presidente seja afastada definitivamente do poder). E aponta: “Dilma é um caso perdido”. 

A publicação destaca que as ideias de Sanders sobre o Brasil são desconhecidas e supõe que a sua visão para o País, provavelmente, está errada e também colide com a visão do presidente dos Estados Unidos Barack Obama sobre o processo. Em declarações recentes, o embaixador dos EUA no Brasil, Peter Michael McKinley, ressaltou que o processo de impeachment e as razões para tanto ocorrem dentro da lei. O STF (Supremo Tribunal Federal) supervisiona o processo e também diz que o impeachment é legal.

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Aliás, o presidente do STF Ricardo Lewandowski, que está conduzindo a última etapa do processo, foi nomeado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é do PT e que escolheu Dilma para ser sua sucessora. “Agora, Dilma finalmente sofrerá o impeachment como a maior parte dos brasileiros quer, supervisionada pelo juiz que foi nomeado pelo homem que a levou ao poder”, afirma Rapoza. 

“Os manifestantes podem chorar sobre o golpe como quiserem. Eles podem reclamar sobre a imprensa ‘anti-Dilma’. Mas eles não podem vencer essa luta uma vez que a lei não está do seu lado”, ressalta ele. 

Rapoza ressalta que não sabe de onde Sanders se informa mas que, provavelmente, por meios de comunicação que confundem a legitimidade da eleição de Dilma com outros fatos. “Além de ter violado a LRF, Dilma foi um dos piores casos de má conduta corporativa da história brasileira. Durante a sua gestão como presidente do Conselho da Petrobras, houve casos de propina e contratos foram manipulados”, aponta. Dilma não esteve diretamente envolvida, mas houve negligência, diz o colunista. Além disso, Marcelo Odebrecht a citou no esquema de caixa 2 da empresa para as suas campanhas eleitorais. 

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“Independentemente disso, Dilma não está sendo cassada por causa do escândalo Petrobras per se. Ela está sendo acusada pela violação da lei orçamentária. Isso é indiscutível. E essa é a lei”, afirma Rapoza, que destaca que Sanders parece mais interessado em agradar os eleitores do que olhar a realidade brasileira. 

Ele faz um paralelo do Brasil com os EUA e diz que, se Barack Obama sofresse impeachment, Joe Biden assumiria, o que é válido também no Brasil. “Michel Temer é uma autoridade eleita, como Biden”. Em segundo lugar, o governo brasileiro precisa cortar gastos, diz o colunista da Forbes ao defender a extinção do ministério da Secretaria Especial de Política para as Mulheres. “Realisticamente, o que o Ministério das mulheres faz que o Ministério da Saúde ou o Ministério da Educação não possam fazer para as mulheres? Honestamente, nos 14 anos que tenho cobrido o Brasil, eu nunca sequer tinha ouvido falar dessa pasta”, diz o colunista. Ele ressalta que Temer extinguiu o Ministério da Cultura, mas voltou atrás logo depois, o que significa que ele ouviu as pessoas. 

Em terceiro lugar, o gabinete composto por homens brancos é ruim em um país diverso como o Brasil, mas o País conta com Maria Silvia Bastos Marques como presidente do BNDES. Em quarto lugar, o novo governo busca avançar as suas políticas de austeridade fiscal e promover reformas (mesmo que haja alguns percalços pelo caminho). Em quinto lugar, ele destaca o programa de privatizações a ser promovido pelo governo Temer e ressalta que ele está sendo feito para melhorar a gestão das estatais e aumentar a eficiência. “Não é uma conspiração. A CIA não força a Petrobras a tomar empréstimos”, afirma.

“Por fim, Sanders está vendo o Brasil através de uma lente americana. Ou através de uma simples narrativa de bons contra maus, esquerda versus direita”, diz a Forbes. Ele rebate o argumento de Sanders de que o esforço para tirar Dilma não é um julgamento legal, mas político; só que isso ocorre em todos os processos desse tipo. 

Rapoza ressalta ainda que o PT deve sair derrotado das eleições de outubro e abandonou Dilma e que, para “desgosto” de Sanders, o poder Judiciário, que alega que o impeachment é legal, é o mais admirado pelos brasileiros. 

O colunista ainda ressalta que Dilma deve viajar para países da América Latina para escrever um livro sobre sua vida e pode até conseguir um escritor-fantasma para tanto. De acordo com ele, será fácil os “roteiristas pró-Dilma” destacarem o golpe contra o governo de esquerda do PT, mas é algo para ser refletido caso a história dela vire uma série do Netflix ou da Globo. 

“Um novo capítulo está chegando. Ninguém sabe o que vai acontecer a seguir e, por isso, deixarei alguns palpites”, diz o colunista. Rapoza destaca que o PT voltará a ser oposição, enquanto Lula enfrenta acusações de corrupção e pode ir para a cadeia ou ser inocentado e concorrer às eleições de 2018, ressalta ele. 

Rapoza aponta ainda que, após a saída de Dilma, a economia vai lentamente começar a melhorar, enquanto a investigação sobre a Petrobras continuará. Mas, com estas investigações se expandindo, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) vem buscando algum tipo de anistia. “Neste ponto, o legado de Dilma e Lula não será ter tirar milhões de pessoas da pobreza, mas a criação de um novo tribunal apenas para lidar com todos os escândalos de aparelhamento em empresas estatais. Alguém tem que ceder e isso será observado se o Congresso ou a população apoiará este acordo. Mas se o ‘smart money’ está apoiando o impeachment de Dilma, Bernie está errado sobre o Brasil, e é pouco provável que essa anistia ocorra”, finaliza.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.