Foguete perde força: The Economist adota tom mais cauteloso com o Brasil

Dois anos após matéria de capa revelar forte otimismo, publicação critica protecionismo, custos para investir no País e risco político

Fernando Ladeira

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SÃO PAULO – Em novembro de 2009, sob a manchete “O Brasil decola”, o cristo redentor assumia a forma de um foguete na capa da revista britânica The Economist. Passados pouco mais de dois anos, o Brasil volta a ser assunto da revista, mas, dessa vez, em um tom mais pessimista.

Na revista, publicada no final da semana passada, são duas matérias dedicadas ao Brasil. Na primeira delas, com o título “A reação do Brasil”, a publicação realça que as forças do País são reais, com um forte crescimento na história recente, mas que o governo devia se preocupar mais com os seus pontos fracos. “Uma taxa de crescimento de 3,5% pode parecer generoso para padrões ocidentais, mas está abaixo do que o Brasil precisa para continuar os recentes ganhos sociais – e do que poderia ser”, diz o texto.

Um País caro
Chama atenção da The Economist o fato de que algumas fontes de crescimento já estão se esgotando, como a estabilização e as reformas econômicas nos anos 1990 e o apetite da China por commodities. A força de trabalho avançando a um ritmo mais lento e os elevados custos para fazer negócios no Brasil – o que afeta negativamente os investimentos – são outros pontos de pressão.

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A revista vai além e critica, também, as regras para que 65% dos equipamentos para exploração de petróleo em águas ultrapofundas sejam provenientes da indústria nacional, o que deve ser mais dispendioso e atrasar os projetos do setor. Portanto, críticas não faltam à presidente Dilma Rousseff. “Seu esforço para reduzir os custos é muito tímido; ela é responsável pelo novo protecionismo no petróleo; e a impressão é que ela está preparada para fixar um crescimento abaixo de 4%. Isso seria prejudicial ao Brasil”, crava o texto.

Nesse cenário, os investidores devem começar a olhar mercados de crescimento mais rápido na América Latina, como o Peru, Colômbia e, talvez, até o México, enquanto os pobres serão os que mais sofrerão no Brasil. É válido lembrar que no começo desse mês o banco norte-americano Morgan Stanley cortou a recomendação para investimentos em ações no Brasil para “underweight”, ou performance abaixo da média do mercado, além de ter elevado a sugestão para Peru e México.

Risco político em alta
O outro texto reservado ao Brasil também trata da desaceleração econômica, mas faz mais referências ao risco político, com críticas à Petrobras (PETR3, PETR4) e Vale (VALE3, VALE5), por sucumbirem aos interesses do Governo em vez do de seus acionistas.

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A complacência das autoridades brasileiras com a expropriação da espanhola YPF pela Argentina também não foi bem vista. “Isso é arriscado: o Brasil é, realmente, diferente da Argentina, mas os estrangeiros podem não perceber isso. Os governos da Colômbia e do México abertamente se distanciaram da Argentina”, frisa a reportagem. Pesadas multas à norte-americana Chevron por um vazamento de petróleo na costa do Rio de Janeiro e a prisão de alguns executivos da companhia agora levantam questões se algum passo errado por aqui pode levar ao confisco do passaporte, alerta.

Otimismo seletivo
Por sua vez, a publicação fecha o texto ponderando que um pouco menos desse excesso de euforia com o Brasil pode ser salutar, prevenindo um movimento que poderia se tornar irracional.

“Isso pode persuadir o Governo a remover algumas das barreiras que seguram o Brasil. Apesar da meta geral de crescimento provavelmente ser mais modesta por alguns anos, há ainda muitas oportunidades, particularmente no agronegócio e na mineração, e em estimular o crescimento da demanda por educação e saúde.” Portanto, se antes o Brasil era avaliado com otimismo, agora o novo sentimento é um otimismo seletivo, conclui a publicação, citando um gestor de fundos da Explorador Capital Management.