Financial Times define em uma palavra a reação dos investidores à crise política brasileira

Por que o mercado brasileiro não parece ligar tanto para a crise política? Jornal britânico aponta algumas razões - e destaca que investidores estão "estoicos"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Outra semana e outra onda de escândalos de corrupção atinge o Brasil. É assim que o jornal britânico Financial Times destaca o início da semana político-policial brasileira, que contou com uma nova operação envolvendo o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e a prisão do ex-ministro do governo de Michel Temer, Geddel Vieira Lima.

Porém, o jornal destaca que, longe de chocar os investidores, o mercado de capitais já não se importa muito com o grau de deterioração da cena política do país (que parece um mais um show de crimes na televisão de baixa qualidade, segundo a publicação). Com isso, o FT destaca em uma palavra como os investidores brasileiros estão em meio à turbulência política: “estoicos”. Ou seja, impassíveis, frios e calmos apesar de todo o caos de Brasília.

A matéria lembra que a bolsa brasileira entrou em circuit breaker em 18 de maio, logo após a notícia de que Michel Temer foi gravado por Joesley Batista e teria dado aval para comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. “Mas, desde então, tem ficado relativamente estável, até recuperando parte do seu terreno perdido, enquanto o dólar, depois de chegar a R$ 3,38, negocia ao redor de R$ 3,30. O Ibovespa, ainda sobe cerca de 5 % no ano, enquanto o real caiu só 1,4%”, aponta a publicação.

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“Isso é pouco em comparação com o que muitos pensavam que poderia acontecer se o governo Temer perdesse seu rumo. Levado ao poder no ano passado após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Temer prometeu introduzir reformas fiscais difíceis”, ressalta a publicação. Por um tempo, pareceu que ele poderia até ser bem-sucedido, ao aprovar a PEC do teto de gastos no Congresso, diz o FT. Para financiar a mudança, ele precisaria também rever o generoso sistema de previdência do país, que permite que as pessoas se aposentassem com cerca de 50 anos. “Ele parecia estar pronto para fazer isso quando o escândalo JBS eclodiu, eliminando efetivamente os seus planos”.

Contudo, as expectativas anteriores de que o enfraquecimento da reforma da Previdência levaria ao cataclisma para os mercados brasileiros se mostraram exagerados. E o FT aponta algumas razões para isso: a primeira é a equipe de confiança nomeada por Michel Temer, liderada pelo ministro da Fazenda Henrique Meirelles e pelo presidente do banco central, Ilan Goldfajn e que ajudou na retomada econômica e no controle da inflação. Além da equipe econômica de “primeira linha”, o economista do Goldman Sachs, Alberto Ramos, apontou que os mercados brasileiros ficaram estáveis devido a um “ambiente externo ainda favorável e também por conta da falta de alternativas claras a Temer. Porém, Ramos adverte que as coisas podem mudar se a governabilidade continue a diminuir.

Ainda de acordo com o FT, outro fator que ajuda o Brasil é que, na frente externa, muitos outros concorrentes nos países emergentes no país da América Latina não parecem melhores. “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”, afirmou Alejo Czerwonko, estrategista de mercados emergentes da UBS Wealth Management ao jornal. Ele destaca que os títulos soberanos brasileiros em dólares pagam mais do que seus homólogos sul-africanos ou turcos, mas a situação política do nosso país não é pior do que a deles.

“Qualquer aperto da liquidez global ainda pode afetar o Brasil. Mas, desde que a equipe econômica de Temer mantenha uma mão firme no leme, parece que os investidores estarão dispostos a enfrentar as tempestades políticas à frente”, conclui a publicação.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.