Filiação de Flávio ao Patriota indica estratégia de Bolsonaro para eleições de 2022

Analistas políticos acreditam que acordo com o partido permitiria maior controle sobre as decisões da legenda, repetindo a estratégia usada com PSL em 2018

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro e o filho, senador Flávio Bolsonaro (Foto: Carolina Antunes/PR)

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SÃO PAULO – O senador Flávio Bolsonaro (RJ) filiou-se ontem (31) ao Patriota, em um movimento que apontou para a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seguir o mesmo caminho em sua busca pela reeleição em 2022.

Antigo Partido Ecológico Nacional (PEN), o Patriota é apenas a 22ª bancada na Câmara dos Deputados, com 6 assentos na Casa (1,17%), à frente apenas do PV (4) e da Rede (1). Com o ingresso de Flávio Bolsonaro, a sigla passa a ter seu primeiro representante no Senado Federal.

Reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2012, o partido foi fundido com o PRP em 2018 para cumprir a cláusula de barreira ‒ regra que limitou acesso a recursos públicos a partir de desempenho eleitoral e que ameaçava ainda mais sua existência no próximo pleito.

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A sigla elegeu 49 prefeitos nas últimas eleições municipais (36 a mais do que em 2016) e 719 vereadores (recuou de 420 assentos nos legislativos locais no mesmo comparativo).

No ano passado, o Patriota recebeu R$ 21,003 milhões do fundo partidário ‒ ocupando a 15ª posição nos repasses, que variam de acordo com os votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, em uma lista com 23 partidos.

O montante corresponde a apenas 21% do recebido pelo PSL, sigla pela qual Bolsonaro se elegeu presidente em 2018 e que conta com a maior fatia do bolo: R$ 98,012 bilhões.

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Apesar de Jair Bolsonaro não ter confirmado filiação à sigla, esta é considerada uma tendência e já provocou tumulto dentro do partido. Em entrevista ao jornal O Globo, Flávio Bolsonaro disse que o presidente do Patriota, Adilson Barroso, deve fazer um convite nos próximos dias.

“A tendência natural é que ele venha. Agora vamos trabalhar por uma grande coalizão em 2022, com partidos como PP, PL, Republicanos, PSL e outras siglas que deverão fazer parte desta nova etapa do Brasil”, afirmou Flávio.

Integrantes da Executiva Nacional do Patriota ingressaram com uma ação no TSE para anular a convenção, vista como manobra para acomodar o clã Bolsonaro. O grupo teme perder poder sobre os rumos da sigla com o ingresso da família presidencial.

Sem partido desde novembro de 2019, Bolsonaro há tempos conversa com representantes de diversas legendas e até chegou a trabalhar na construção da sua própria (Aliança pelo Brasil), que não vingou.

Nos últimos meses, o presidente “namorou” com outros oito partidos: Progressistas, PTB, PSL, PL, PRTB, DC, Brasil 35 (antigo PMB) e Republicanos ‒ antigo partido de Flávio Bolsonaro e que hoje abriga o vereador Carlos Bolsonaro (RJ).

Mas o desejo de ter maior controle sobre os diretórios e a distribuição de recursos minou a possibilidade de acordo com siglas maiores, como PP, PTB e PL, que podem mesmo assim integrar sua coligação nas eleições do ano que vem.

Analistas políticos ouvidos pelo InfoMoney acreditam que o encaminhamento de um acordo com partido de baixa capilaridade nacional, apesar de trazer limitações, permite a Bolsonaro um maior poder sobre as decisões da legenda, repetindo a estratégia com o PSL em 2018.

“Para Bolsonaro entrar em um partido estruturado da forma que deseja, controlando o diretório nacional, é muito difícil. Roberto Jefferson (PTB) não vai ceder o partido a ele. Ciro Nogueira (PP), a mesma coisa. Valdemar da Costa Neto (PL) também. Acredito que ele deve ter negociado, confirmando sua ida ao Patriota, ter controle do diretório ou pelo menos uma divisão de poder”, observa Carlos Eduardo Borenstein, analista político da consultoria Arko Advice.

A tendência, na avaliação do especialista, é que Bolsonaro consiga formar uma coalizão forte para a corrida presidencial do ano que vem, mas o apoio efetivo em determinadas regiões dependerá de negociações e da conjuntura político.

Borenstein destaca que os partidos do “centrão” costumam se dividir nos estados e, sendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um candidato na disputa, aumenta a probabilidade de racha, sobretudo no Nordeste.

Ele também lembra que formalmente muitos desses partidos estiveram na coligação de Geraldo Alckmin (PSDB) em 2018, mas abandonaram a candidatura quando perceberam que ela não decolaria a tempo.

A possível filiação de Bolsonaro ao Patriota também poderia contribuir no uso da narrativa de outsider, usada nas últimas eleições ‒ a despeito de ser candidato à reeleição, com amplo histórico parlamentar e possivelmente apoiado por partidos com muita tradição no jogo político.

“Para o Patriota, é um bom negócio a vinda de Bolsonaro e seus seguidores. O PSL foi a segunda maior bancada eleita da Câmara. Acho difícil reproduzir aquele desempenho, mas de qualquer forma, é inegável que o partido daria uma encorpada. Isso significa mais dinheiro”, disse.

A baixa estrutura e os recursos reduzidos, contudo, podem ser um impeditivo para que parlamentares bolsonaristas que buscam a reeleição acompanhem o mandatário no movimento, sobretudo se mantidas as regras eleitorais vigentes.

“O Patriota não vai dar estrutura a ele. Mas o bolsonarismo é muito mais um movimento social, então consegue sobreviver mesmo com estrutura partidária mais enxuta. Eles têm uma capacidade de mobilização nas redes sociais muito grande”, pondera o especialista.

Do lado de Bolsonaro, ele salienta que partidos do “centrão” poderão dar tempo de televisão e certa estrutura à campanha. Além disso, o presidente disporá da máquina federal, que pode ter peso sobre o processo eleitoral.

Já Thiago Vidal, gerente de análise política da Prospectiva Consultoria, vê no movimento de Flávio Bolsonaro uma antecipação de movimento mirando as eleições de 2022, sobretudo em função do atual contexto político.

“O adianto das discussões sobre o pleito, com a divulgação de pesquisas eleitorais e a viabilidade da candidatura do ex-presidente Lula, antecipou também as articulações para formação de alianças”, salienta.

Vale lembrar que, no início do mês, Lula esteve em Brasília para uma série de reuniões com atores políticos, incluindo o ex-presidente José Sarney (MDB), o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ).

“Sem partido, Bolsonaro teria dificuldades para fazer movimentações desse tipo. Além disso, ao antecipar sua filiação, o presidente também visa a garantir que sua base de apoio tenha tempo hábil para trocar de legenda”, observa o especialista.

“Com isso, Bolsonaro busca reduzir a dispersão partidária de sua base mais fiel, que prejudicou a atuação de seus aliados nas eleições de 2020”, complementa.

A filiação de Bolsonaro ao Patriota depende da homologação das mudanças feitas no estatuto do partido, à revelia da Executiva Nacional, que dariam maior possibilidade de controle por parte da família presidencial.

Mas o movimento também pode ocorrer apenas após sinalizações mais claras de como serão as regras do jogo no ano que vem ‒ o que está em discussão em comissões da Câmara dos Deputados e precisa ser validado até outubro.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.