Eurasia: “há quem diga que Lula fraco é bom para o mercado; não acreditamos nisso”

Consultoria de risco político reforça: ex-presidente mais fraco é ruim para o mercado, ao contrário do que se possa pensar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em relatório, a consultoria de risco político Eurasia destacou as recentes notícias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as suas implicações também para o mercado. 

Os analistas Christopher Garman, João Augusto de Castro Neves e Cameron Combs ressaltaram a difícil última semana do ex-presidente: no início da semana passada, o procurador Cássio Conserino afirmou que poderia denunciar Lula pelo caso do triplex no Guarujá, suscitando reações do petista. Aliás, Lula e sua esposa, Marisa Letícia foram intimados a depor sobre o caso pelo promotor. Somado a isso, foi deflagrada na quarta-feira a 22ª fase da Operação Lava Jato, chamada Triplo X, que se aproximou do ex-presidente justamente por conta do caso do triplex.

A Eurasia destaca a visão de alguns especialistas de que o enfraquecimento de Lula e seu possível indiciamento poderiam ser bons para o sentimento dos mercados, uma vez que o enfraqueceria para 2018. Com ele fora dos quadros, o PMDB e o PSDB colaborariam mais para a realização de reformas difíceis. 

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Porém, eles têm uma visão diferente de que isso se efetivaria. “Nós discordamos disso”, afirmam.

Colocado contra a parede, Lula está aumentando os seus ataques. “Ele prometeu tomar medidas legais contra a revista Veja por difamação, protestou contra a polícia por colocá-lo no alvo injustamente, assim como a sua família, e, recentemente, caracterizou as prisões de João Vaccari e do seu ex-chefe de gabinete José Dirceu como ‘injustas'”, afirmou.

A Eurasia ressalta a entrevista de Lula para blogueiros em meados de janeiro, em que o ex-presidente fez uma série de críticas (muitas vezes contraditórias) contra a política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff. 

Em meio às declarações, afirma a Eurasia, Dilma deve revelar uma política de crédito “forte” para desencadear o investimento e o consumo, redução das taxas de juros e aumento das políticas para incentivar a infraestrutura. “Simplificando, as dificuldades legais de Lula vão empurrar o ex-presidente e o PT mais para a esquerda”.

Como tal, um Lula mais aguerrido é um mau presságio para o ajuste fiscal, uma vez que torna mais difícil para Dilma para controlar a sua base no Congresso – o que explica parcialmente o pacote de crédito de R$ 83 bilhões. Ele também fornece o contexto para a crescente pressão política sobre o Banco Central em não elevar os juros”, ressalta a Eurasia. A consultoria ressalta ainda que o PT é crítico ao ajuste fiscal.

“Temos dificuldade em acreditar que o PMDB ou o PSDB assumiria o ônus político de votar em reformas impopulares se o PT está criticando-as publicamente. Além disso, mesmo que Lula esteja enfrentando desafios jurídicos e seja formalmente indiciado, o ‘espectro’ dele continuará em 2018”, afirma o relatório.

Um obstáculo chave para reformas fiscais e até mesmo para a direção da gestão econômica este ano em um cenário onde Dilma sobrevive impeachment será o crescente movimento do PT e  a virada para a esquerda. “Com Lula com problemas legais, essa tensão só vai crescer”, conclui a consultoria.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.