Eurasia fala em possível contestação de eleição se Bolsonaro perder, mas vê baixo risco de “ruptura democrática”

Analistas mencionam possibilidade de protestos e ataques a prédios do governo, além de greve de caminhoneiros e episódios de violência política

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de "motociata" em Campo Grande (MS) (Foto: Clauber Cleber Caetano/PR)

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A postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) de dobrar a aposta nas críticas ao sistema eleitoral brasileiro, contestar a credibilidade das urnas eletrônicas e atacar ministros de cortes superiores traz riscos de contestação dos resultados do pleito − e até favorecer episódios de violência política país afora.

É o que avaliam os analistas da Eurasia Group, consultoria internacional de risco político, que trataram do assunto em relatório distribuído a clientes na última segunda-feira (18). Eles acreditam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é favorito na disputa pelo Palácio do Planalto.

Os especialistas acreditam que, durante a campanha, a vantagem que Lula carrega nas pesquisas tende a diminuir, com a exploração de suas vulnerabilidades em propagandas de adversários e com Bolsonaro colhendo os frutos de medidas econômicas tomadas.

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A esperada melhora no desempenho do mandatário com o crescimento acima do esperado da economia, a redução da inflação dos combustíveis e o pagamento mais robusto de benefícios sociais deve impulsionar a campanha de Bolsonaro, aumentar a expectativa de vitória e favorecer possíveis contestações ao sistema eleitoral em caso de derrota nas urnas.

Ontem (18), Bolsonaro fez uma apresentação a cerca de 70 embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada na qual repetiu críticas às urnas eletrônicas, insinuações de fraude em eleições anteriores (sem apresentar provas) e acusou ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) de conspirar pela vitória de Lula no pleito deste ano.

No relatório distribuído a clientes, os analistas da Eurasia Group apontam que o período de maior risco de tensionamento deverá ser logo após o primeiro turno − marcado para 2 de outubro − ou depois de um possível segundo turno − marcado para 30 de outubro, caso nenhum dos candidatos alcance a maioria absoluta dos votos válidos (isto é, 50% mais 1, excluindo brancos e nulos).

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Eles mencionam possibilidade acima da média de protestos e/ou ataques a instalações governamentais, além de uma possível greve de caminhoneiros. Mas reforçam que a avaliação é que os riscos de ruptura democrática “permanecem baixos”.

“É improvável que os militares contestem a eleição, uma vez que os comandantes da ativa entendem que não teriam apoio institucional ou condições políticas de fazê-lo. No entanto, as polícias estaduais poderiam ser mais problemáticas”, observam.

“Governadores tomaram medidas para controlar suas forças policiais nos últimos anos, e a insubordinação direta dos policiais parece improvável. Mas em estados estratégicos, os oficiais podem fechar os olhos para os protestos, facilitando a escalada da violência”, apontam.

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O relatório ainda menciona o risco de ataques contra Lula ou Bolsonaro e diz que, em um “cenário extremo em que um dos dois primeiros candidatos é morto, quem quer que seja o substituto provavelmente se beneficiaria de tal fenômeno”.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.