Entre aversão ao risco e inflação, CDB é melhor investimento de janeiro

Maioria das métricas de investimento perde para IGP-M no mês; ouro e Ibovespa têm piores rentabilidades no período

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Apesar de 2011 ter começado com perspectivas positivas para os mercados e para o Ibovespa, a segunda quinzena de janeiro foi um balde de água fria para os mais otimistas, com a aversão ao risco – seja voltada para a Europa, seja focada na crise no Egito – voltando a prevalecer, trazendo um clima ora incerto ora negativo para a renda variável. Com isso, o Ibovespa encerrou o mês com desvalorização de 3,94%.

Mas o benchmark não ficou com o posto de pior investimento do mês, que coube ao ouro. A commodity metálica despencou 9,39% em janeiro apesar do clima de maior aversão ao risco, que geralmente se traduz em ganhos para esse tipo de investimento. Cabe lembrar que em 2010 o ouro foi o melhor investimento, com alta de 32%.

Já o dólar medido pela taxa Ptax registrou ganhos tímidos no mês, de 0,43%. Apesar da variação positiva, a moeda norte-americana não conseguiu superar a inflação, fechando janeiro com rentabilidade real de -0,36%. O mesmo aconteceu com a poupança, que registrou ganhos reais de -0,22% no primeiro mês do ano. 

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As únicas entre as principais métricas de investimento a bater o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercados) neste mês, que foi de 0,79%, foram os  CDBs pré-fixados de 30 dias e o CDI. O CDB superou por pouco a variação do CDI, ficando assim com o posto de melhor investimento do mês. 

Investimento Janeiro Real* Dezembro Real**
Ibovespa -3,94% -4,69% +2,35% +1,65%
CDI*** +0,86% +0,07% +0,89% +0,20%
CDB **** +0,88% +0,09% +0,86% +0,17%
Poupança +0,57% -0,22% +0,64% -0,05%
Ouro -9,39% -10,10% -3,53% -4,19%
Dólar Ptax +0,43% -0,36% -2,92% -3,58%
IGP-M +0,79% +0,69%

* Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 0,79% em janeiro de 2011
** Deduzida a variação do IGP-M que ficou em 0,69% em dezembro de 2010
*** Taxa Efetiva Andima
**** Taxa pré 30 dias

Referências macroeconômicas
Por aqui, Alexandre Tombini atendeu às expectativas do mercado e elevou a taxa Selic para 11,25% ao ano em sua primeira reunião à frente do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central). Tombini também aludiu a uma possível menor meta de inflação no longo prazo. Apesar do aumento da taxa básica de juro, a inflação segue preocupando. 

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O FMI destacou que o Brasil teve uma deterioração ‘brusca” nas contas fiscais, impedindo o País de atingir a meta do superávit primário. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu às críticas, afirmando que a conclusão deve ter sido feita por um “velho ortodoxo”.

Com um viés mais positivo, o Banco Mundial previu que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresça 4,4% e 4,3% em 2011 e 2012, respectivamente. Já a agência de classificação de risco Moody’s afirmou que os ratings soberanos dos países da América Latina e do Caribe devem ser beneficiados este ano pelas “significativas conquistas de 2010”. De acordo com a Moody’s, uma avaliação do rating Baa3 que o Brasil possui atualmente deve ocorrer no segundo trimestre deste ano.

Ainda entre os ratings, a Standard & Poor’s cortou a nota para a dívida soberana japonesa e, juntamente com a Moody’s, afirmou que poderia rever o rating da dívida soberana dos EUA caso não ocorressem mudanças na condução da política fiscal. Em discurso ao Congresso norte-americano, o presidente Barack Obama afirmou que os gastos do governo são insustentáveis e comprometeu-se a políticas de diminuição de gastos, com mais de US$ 400 bilhões que poderiam ser economizados na próxima década.

A economia norte-americana seguiu dando sinais mistos, com PIB e relatório de emprego se destacando entre as surpresas negativas – segundo Ben Bernanke, presidente do Fed, a expectativa é que o país cresça de 3% a 4% em 2011, um ritmo saudável. Por outro lado, o PIB chinês veio melhor do que o esperado, desencadeando novamente temores de que um novo aperto monetário por lá esteja por vir.

A luta para impulsionar o dólar
Com o Fed mantendo sua política monetária inalterada para não atrapalhar a ainda tímida recuperação dos EUA, o Banco Central implementou diversas medidas para tentar segurar a valorização do real. Além dos leilões no mercado à vista, o BC passou a intervir também no mercado futuro, com leilões de swap cambial reverso, e anunciou a realização de leilões no mercado a termo pela primeira vez em sua história.

Mas essas não foram as únicas intervenções da autoridade monetária nacional no câmbio. No início de janeiro, o governo anunciou que a partir de 4 de abril passaria a recolher dos bancos brasileiros, sob forma de depósito compulsório, 60% do valor das posições de câmbio vendidas em dólar que excederem US$ 3 bilhões ou o patrimônio de referência do dealer. A medida visa diminuir em mais de US$ 6 bilhões as posições vendidas dessas instituições.

Ainda no front cambial, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, afirmou que França e Alemanha não deixarão o euro falhar. Além disso, o periódico China Securities Journal afirmou que a China deverá permitir a valorização de 5% do yuan neste ano.

Europa e Egito despontam como focos de preocupação
A evolução da crise fiscal europeia foi acompanhada de perto pelos mercados. Do lado positivo, os leilões das dívidas portuguesa, italiana e espanhola surpreenderam os mercados. Entretanto, os investidores começaram a temer uma reestruturação da dívida grega depois de declarações de Lars Feld, assessor econômico do governo alemão. John Lipsky, diretor do FMI, afirmou que outro resgate pode ocorrer na Zona do Euro, caso os países periféricos falhem em se reestruturar.

Além disso, as autoridades do continente se reuniram em Bruxelas e depois em Davos para discutir a situação do bloco. O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, enfatizou a necessidade de executar reformas estruturais na Zona do Euro, com ênfase nos ajustes fiscais, devendo ser rapidamente implantadas para fortalecer as bases para um crescimento sustentado da região. Já Sarkozy afirmou que as maiores economias do mundo precisam tomar medidas para modificar o sistema monetário mundial, reformar a governança econômica e conter a volatilidade nos mercados de commodities.

O front político trouxe uma preocupação inesperada para os mercados. A onda de manifestações continuou no Egito, resultando em mortos, presos e feridos em confrontos. O alto índice do desemprego, a inflação, a corrupção e o autoritarismo do presidente Hosni Mubarak, que já completa 30 anos no poder, são os principais motivos para a ira dos manifestantes. Por conta do cenário tumultuado, a agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou de estável para negativa a perspectiva de rating do país, e a Moody’s cortou a nota. 

Cenário corporativo e as pontas do Ibovespa
No cenário corporativo local, o Bradesco (BBDC4) deu início à temporada de resultados, reportando lucro líquido de R$ 2,684 bilhões no quarto trimestre de 2010, alta 45,9%. Nos EUA, a temporada de resultados trouxe números de grandes bancos como Citigroup, Wells Fargo e Bank of America Merrill Lynch, techs, como Google e Apple, e petrolíferas, como Conoco Phillips e Exxon Mobil, entre ourtras.

De volta à cena nacional, a CSN (CSNA3) elevou sua participação no capital da Usiminas (USIM3, USIM5), sinalizando seu interesse no controle da empresa. Além disso, a Usiminas também informou ao mercado a venda da Ternium – notícia que agradou os investidores e impulsionou os papéis da companhia na sessão desta segunda-feira (31). Os ativos ON da Usiminas ficaram na ponta positiva do Ibovespa, com ganhos de 17,05% no mês. Já os papéis PNA fecharam janeiro com alta mais modesta, de 1,41%. 

Por outro lado, as imobiliárias ficaram entre as maiores quedas do índice no mês, com destaque para Cyrela (CYRE3) e Gafisa (GFSA3), com perdas de 15,74% e 15,20%, respectivamente. Pesaram sobre as empresas as perspectivas de uma possível redução no ritmo de crédito para financiamentos, além das projeções sobre os rumos da inflação e da taxa Selic.

As principais blue chips da bolsa também ficaram em foco no mês. A possível aquisição da Galp pela Petrobras (PETR3, PETR4) ajudou a derrubar os papéis da empresa no início do mês. Com um viés mais positivo, a estatal anunciou que suas reservas provadas de óleo, condensado e gás natural atingiram 15,986 bilhões de barris ao final de 2010, um aumento de 7,5% frente ao ano anterior. Segundo a estatal, em 2010 1,990 bilhão de barris foram apropriados às reservas provadas.

O noticiário em torno da Vale (VALE3, VALE5), por sua vez, trouxe um acordo provisório para o final da greve no Canadá. Além disso, os rumores da saída de Roger Agnelli da presidência da empresa – e as negativas da mineradora sobre o assunto – também seguiram em foco. Ademais, o diretor de relações com investidores companhia, Roberto Castello Branco, afirmou que o preço do minério de ferro deverá apresentar elevação pelos próximos 15 a 20 anos.

Por fim, fora do Ibovespa, o Banco PanAmericano (BPNM4) reconheceu que mantém conversas com outras instituições financeiras sobre o controle do banco, depois que surgiram especulações de que o rombo nas contas do banco seria maior do que os R$ 2,5 bilhões inicialmente divulgados, podendo chegar a R$ 4 bilhões. O BTG Pactual é o principal cotado para assumir o controle do PanAmericano.

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