Entre agenda dos EUA, crise europeia e análise técnica, rumo do Ibovespa é incerto

Relatório de Emprego, números da Black Friday e Europa devem guiar a semana; perda de suporte traz viés negativo ao mercado

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – As referências divergentes dos mercados externos e os patamares de suporte da análise técnica devem dar o tom do que promete ser uma semana incerta para o Ibovespa.

De um lado, os indicadores norte-americanos devem continuar apontando uma melhora gradual da economia. Edgard Tamaki, da TCX, lembra que a revisão do PIB (Produto Interno Bruto) divulgada nesta semana se mostrou positiva, indicando um crescimento do consumo das famílias. Os resultados prévios da Black Friday também parecem apontar uma melhora no consumo por lá.

A principal referência da maior economia do mundo na semana, contudo, só será conhecida na próxima sexta-feira (3), quando será divulgado o Relatório de Emprego. Tamaki espera pelo impulso das contratações temporárias típicas do final de ano e, com isso, pode não vir “uma maravilha”, mas também não será horrível. “Se depender única e exclusivamente da economia dos EUA e do Relatório de Emprego, acho que o mercado tem uma boa chance de subir e ajustar as perdas dessa semana”, explica.

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Apesar de também esperar números regulares do mercados de trabalho norte-americano, Eduardo Machado, analista da Amaril Franklin, diverge de Tamaki na hora de avaliar a influência do indicador no humor das bolsas. “É importante, mas não traz muita influência; deve seguir bem previsível”, argumenta.

Análise Técnica e Europa pesam contra
Mesmo um cenário mais benigno nos EUA, a crise fiscal europeia pode trazer problemas para o índice. Depois da Irlanda ceder e aceitar ajuda externa para acertar suas contas, Portugal se coloca como próxima da fila para um possível resgate.

O governo português, contudo, nega os rumores com veemência – entretanto, a visão de Tamaki e Machado é de que, mais cedo ou mais tarde, o país seguirá o mesmo caminho da Irlanda. “O contágio já se alastrou. De janeiro a abril de 2011, Portugal tem que rolar cerca de € 14 bilhões de dívida – ou algo como 8% do seu PIB. O país pode até encontrar compradores para os títulos, mas os investidores vão exigir juros muito altos, e isso é exatamente o que o BCE não quer que aconteça”, explica Tamaki.

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Para o estrategista da TCX, a mudança de posição do governo de Lisboa pode ocorrer já esta semana, até mesmo para acalmar os mercados; já Machado espera que o país segure as pontas por mais algum tempo. “Eles não estão receptivos à ajuda ainda”, frisa.

O analista da Amaril Franklin afirma ainda que a questão fiscal do continente pode acabar aprofundando as quedas que a análise técnica já antecipa para o índice.“O Ibovespa rompeu um suporte importante entre 69 mil e 68.800 pontos, e está configurando uma busca dos 67 mil pontos”, explica.

“A análise técnica vê uma tendência de queda no curto prazo configurada – no intraday poderemos ver bastante volatilidade, mas a tendência da semana, especialmente os primeiros dias, é de queda”, completa.

Apesar de reconhecer que a crise europeia não deve ajudar o Ibovespa a subir – com a possibilidade de que a Espanha siga os passos da vizinha e acabe precisando de resgate também -, Tamaki minimiza o problema. Para ele, ainda que os problemas do continente não estejam equacionados, o BCE (Banco Central Europeu) vai encontrar uma saída.

A guerra e o gigante
Os dois também não mostram um consenso sobre as referências vindas da Ásia na semana. Tamaki espera que o conflito entre as duas Coreias siga chamando a atenção, “porque nunca se sabe o que a Coreia do Norte pode fazer”. Segundo ele, isso cria uma tensão nos mercados, fazendo com que o assunto fique na pauta dos investidores.

Já Machado acredita que o pior já passou na região, e não vê uma escalada dos problemas entre os dois países. Para ele, a informação mais importante do continente esperada para a semana é o PMI chinês, que pode agir como outro fator de pressão nos mercados caso decepcione.

Nenhum dos dois, contudo, espera novas medidas de aperto monetário no gigante asiático por hora. Para eles, a China deve esperar uma nova rodada de indicadores antes de adotar medidas auxiliares.

“Um aperto na China, se vier, será só no mês que vem. O problema lá é inflação, e a pressão do item alimentos, que pesa em um país com 1 bilhão de pessoas em processo migratório para as cidades, e com boa parte da população miserável. Tanto que o BC chinês está mexendo no compulsório, não na taxa de juro. Mas por mais que a China desaqueça, ela ainda cresce cerca de 9% esse ano – o problema é em 2011. Se a inflação continuar avançando, aí o governo pode elevar a taxa básica”, explica Tamaki.

Inflação em foco
Machado e Tamaki concordam em um ponto: o Ibovespa segue de olho lá fora, sem dar muita atenção às referências domésticas. A equipe de governo de Dilma Rousseff, por exemplo, não deve ter grandes efeitos na bolsa. 

“O mercado aceitou bem a indicação de Alexandre Tombini; o Guido Mantega agora começou a falar de austeridade, o que o mercado poderia sentir um pouco”, comenta Tamaki.

Machado lembra que a maioria dos nomes remanescentes já é consenso no mercado. “Teria uma surpresa se ela resolvesse, por exemplo, anunciar o José Dirceu como ministro. Mas acho que não tem nada que surpreenda na equipe de governo”, diz.

Para ambos, o que fica em foco no cenário doméstico são as perspectivas de uma alta da taxa Selic em breve, em meio a um cenário inflacionário em deterioração.

“O mercado de juros futuros já está bem pressionado por conta dessa expectativa [de alta da inflação]. Acho que a divulgação do IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado) na segunda-feira não vai influenciar, porque o mercado já antecipou, e já trabalha com essa elevação em breve”, explica o analista da Amaril Franklin.

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