Entenda: EUA evitam abismo, mas problemas e impasse político continuam

País falha em resolver problemas centrais; com Congresso dividido, políticos não conseguem reduzir déficit e bate em teto do endividamento

Fernando Ladeira

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SÃO PAULO – Em agosto de 2011 a divisão política nos EUA preocupou o mundo ao levar o país próximo a um calote, ainda que a questão não envolvesse problemas para captar no mercado. Naquele período, a agência de classificação de risco S&P surpreendeu ao dar ênfase ao risco político e retirar a nota triplo A da maior economia do mundo. No pregão seguinte, o Ibovespa desabou 8,08%.

Desde então, novos problemas surgem e as soluções costumam vir de última hora, mas sempre com alguma medida temporária. A “solução” do abismo fiscal parece ser mais uma dessas respostas “tapa buraco” e os próximos meses podem ser um repeteco da crise do teto da dívida pública de 2011.

De fato, o país já atingiu o teto do endividamento de US$ 16,4 trilhões. Os EUA somente não dão calote porque o Tesouro criou mecanismos para conseguir uma folga de US$ 200 bilhões, o que deve dar um alívio de dois meses. Barack Obama, presidente dos EUA, logo após aprovar a lei que evitou o abismo fiscal neste início de ano já pediu ao Congresso “um pouco menos de drama” para negociar os cortes de gastos do governo e aumentar o teto do endividamento.

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Um presidente e um Senado democrata, uma Casa dos Representantes republicana. O objetivo para ambos é o mesmo: redução do déficit público. Para isso, os dois lados precisam chegar a um acordo. Mas os caminhos para se chegar a isso não se cruzam, uma vez que os primeiros defendem um aumento na arrecadação via impostos mais altos dos ricos, enquanto os últimos pregam um foco na redução dos gastos públicos em programas como os de saúde.

O chamado abismo fiscal dava fim a uma série de cortes de impostos estabelecidos por George Bush no começo dos anos 2000 e colocava em prática, agora em janeiro, a diversos cortes de gastos se o Congresso não chegasse a um acordo sobre novas medidas para reduzir o déficit público. Isso foi acordado pelos políticos em 2011, após o intenso debate para aumentar o endividamento público. A CBO (na sigla em inglês, Comissão de Orçamento do Congresso) alertou em maio de 2012 que isso levaria o país à recessão neste ano.

Déficit público em caminho perigoso
Essa mesma comissão destacou, em relatório datado de novembro, que a dívida federal detida pelo público já excedia 70% do PIB (Produto Interno Bruto), um nível que não era visto desde os anos 1950.

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Eles projetavam que, com as medidas que levariam o país ao abismo fiscal, essa dívida cairia para 58% do PIB em 2022, e o déficit orçamentário passaria de US$ 1,1 trilhão no ano fiscal de 2012 para algo em torno de US$ 200 bilhões dez anos à frente.

Em um cenário alternativo, com a extensão dos impostos da Era Bush e sem o corte automático de gastos, o déficit de US$ 1,1 trilhão passaria para US$ 1,3 trilhão no final do período projetado, colocando ainda mais pressão sobre a dívida pública.

“Grandes mudanças às atuais políticas de impostos e gastos públicos serão necessárias para colocar o orçamento em um caminho mais sustentável”, resume a CBO. Entretanto, o acordo desta semana representa uma poupança pelo lado fiscal de apenas 1% do PIB, estima a EIU (Economist Intelligence Unit).

Com divergências, EUA pode viver drama semelhante a 2011
Assim, o centro da discussão do abismo fiscal parece que não chegou ao fim na noite de terça-feira. O Senado propôs estender os cortes de impostos para pessoas com salários abaixo de US$ 400 mil (originalmente, a ideia dos democratas era estender o benefício para salários menores de US$ 250 mil) e casais que ganham menos de US$ 450 mil, o que foi aprovado pela Câmara dos Representantes. Estes defendiam o imposto maior somente para pessoas com renda mensal acima de US$ 1 milhão.

Mas os cortes de gastos automáticos foram postergados de janeiro para o início de março. Os legisladores terão até esse prazo para encontrar alternativas para o US$ 1,2 trilhão em cortes de gastos automáticos nos próximos 10 anos, reforça a equipe do Danske Research. O prazo bate com as negociações para aumentar o teto do endividamento público, que deve ser elevado da metade pro fim de fevereiro, estima a EIU.

Então a “solução” de terça-feira está longe de resolver os problemas dos EUA.”O acordo mitiga o impacto total dos aumentos de impostos e cortes de gastos, mas é incompleto em muitas maneiras”, escreve Russ Koesterich, estrategista-chefe de investimentos da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo.

Ele também prevê que o aumento dos impostos trará apenas um modesto impacto fiscal sobre a economia, e reforça que o acordo falha em tentar resolver os desafios fiscais de longo prazo e deixa o problema do aumento do endividamento como algo em aberto no curto prazo. “Espere mais drama de fim de noite em Washington nos próximos meses”, alerta.

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