Enquanto Dilma e Lula denunciam “golpe”, Temer e ministros revelam “herança maldita” e armadilhas

A veículos estrangeiros, Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçaram mais uma vez a "tese de golpe"; já Temer e ministros reforçam que problemas são ainda mais graves do que o esperado

Lara Rizério

Lula acompanha a cerimônia de posse de Dilma Rousseff no seu segundo mandato.

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SÃO PAULO – O afastamento de Dilma Rousseff da presidência acabou de completar uma semana – mas a guerra entre a petista e o governo interino de Michel Temer parece estar apenas no começo. 

A veículos estrangeiros, Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçaram mais uma vez a “tese de golpe”. Enquanto isso, o presidente em exercício Michel Temer e os seus ministros têm dado declarações reclamando de “armadilhas” montadas pelo governo da presidente afastada nos últimos dias do governo.

Em entrevista à Bloomberg, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou que a economia está em pior situação do que imaginava antes de assumir a pasta. Ele disse em várias oportunidades que o reforço das contas públicas e a contenção do aumento da dívida pública são prioritários para reconstruir a confiança na economia, golpeada pela recessão. Além disso, ao Estadão, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, afirmou que ficou surpreso com os dados do ministério e orientou a Caixa Econômica Federal  a suspender emendas e contratos do ministério até ele ter “clareza” sobre seu orçamento. Com isso, poderia ter espaço para “escolhas” ao longo do ano. E criticou o governo Dilma: “o governo anterior sempre foi expert em superestimar informações boas e subestimar dados ruins”.

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E, na segunda-feira,  Michel Temer deve apresentar um “inventário” da gestão da presidente afastada será apresentado ao público já nesta segunda-feira, listando os principais problemas e o plano para enfrentá-los. A ideia é transmitir a mensagem de que o governo atual funciona e não está paralisado como na gestão da presidente afastada. Ele e seus ministros farão prestação de contas sobre a situação herdada e o atual rombo, que deve ultrapassar R$ 150 bilhões. Já se fala até em um rombo da magnitude de R$ 200 bilhões. A assessoria de imprensa afirmou que Temer dará coletiva no início da tarde, mas não especificou o assunto.

Enquanto isso…
Enquanto isso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se pronunciou sobre o processo da impeachment da presidente Dilma em entrevista a jornais estrangeiros. Ele 
afirmou que o dia do afastamento da presidente Dilma Rousseff foi de “indignação” para ele. Além disso, ele sentiu derrota e frustração.  “Eu vi aquilo ruir, desmoronar.”

“Eu não queria estar naquele ato, eu não queria estar naquela foto, porque penso que foi uma sangria, e foi quase que um estupro feito na democracia brasileira que permitiu que a presidenta Dilma deixasse a Presidência antes de terminar o seu mandato”. O petista esteve presente no Palácio do Planalto na quinta-feira (12), quando a presidente Dilma foi afastada, e o seu abatimento foi destacado tanto pela mídia local quanto pela internacional. “Foi um dia muito triste para mim porque não era apenas uma presidenta que estava deixando a Presidência de forma abrupta, era um projeto, um projeto de sonho, um projeto de inclusão social, um projeto que mostrou ao mundo que fica muito fácil governar um país e resolver os problemas do povo pobre quando você inclui os pobres no orçamento do país, quando você deixa de tratá-los apenas como uma estatística ou problema social”, explicou.

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O ex-presidente afirmou ainda que não gostaria de se ver candidato em 2018, mas que não descarta essa hipótese totalmente: “a única possibilidade que tem de eu voltar é evitar a destruição das políticas de inclusão social que nós fizemos neste país”. Lula ainda acusou Temer de atuar como se fosse presidente definitivo, além de criticar o discurso da posse do ministro das Relações Exteriores, José Serra, ao dizer que a fala dele é da “elite brasileira”, de quem “não gosta de pobre, de negro ou de tratar os do andar de baixo com igualdade de posição”. Em seu discurso, Serra afirmou que a pasta atuará com outros ministérios, como Defesa, Planejamento e Fazenda para reverter o quadro que considerou “penúria de recursos” no Itamaraty e afirmou que a “política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não de um governo, jamais de um partido”.

Dilma por sua vez, concedeu entrevistas para o Russia Today e para o The Intercept nesta semana, as primeiras após ser afastada. Para o Russia Today, Dilma afirmou que  governo do PMDB “adota uma medida hoje e muda amanhã” porque não tem um programa que tenha sido testado nas urnas. Além disso, ela afirmou que o ministério de Temer tem como objetivo “encobrir” o objetivo de aplicar um programa “mais neoliberal possível” e disse que pretende viajar ao “golpe” do qual tem sido vítima. 

Já ao The Intercept, Dilma afirmou que o líder do “golpe” não é Temer,  mas o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Esse golpe, ele tem um líder. O líder não é o presidente interino, o líder é o presidente da Câmara, que foi agora afastado. Um pouco atrasado, mas antes tarde do que nunca, como eu disse. Este líder representa um setor conservador, extremamente conservador.” 

Ela ainda afirmou que o processo político brasileiro é um dos mais distorcidos do mundo. “Aumenta o número de partidos sistematicamente, e cada vez os governos vão precisando de mais partidos para formar a maioria simples e a maioria de dois terços do parlamento. Você tem de ter uma base de alianças. Quanto maior a base de alianças, menos política e ideologicamente alinhada. Então, você passa a ter de construir alianças muito amplas.” Agora, com a condução do impeachment pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, a presidente afastada afirmou esperar que ele dê “um rito mais consistente ao processo”. Dilma voltou a afirmar que as pedaladas fiscais não são crime de responsabilidade – o que é contestado veementemente pelos seus adversários. 

Pelo que parece, a guerra dos discursos entre o governo provisório e o governo afastado apenas começou. E as próximas semanas podem ser determinantes para indicar qual discurso encontra mais eco na sociedade. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.