Em seu aniversário de 70 anos, Lula tem poucos motivos para comemorar

Ex-presidente tem demonstrado irritação com Polícia Federal e manifestado indisposição com Dilma Rousseff a seus aliados, com ápice o escritório de seu filho, Luiz Claudio Lula da Silva, ter sido alvo da Operação Zelotes; CNT/MDA também não trouxe boas notícias

Lara Rizério

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SÃO PAULO – No dia de seu aniversário de 70 anos, que foi lembrado por diversos políticos (incluindo a sua afilhada política Dilma Rousseff), artistas e até pelo técnico do Corinthians Tite, além de jogadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem muitos motivos para comemorar. 

Na véspera de seu aniversário, o ex-presidente teve que assistir a uma ação da Polícia Federal contra um de seus familiares. Ontem, a Polícia Federal foi autorizada a fazer busca e apreensão na LFT Marketing Esportivo, de Luis Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente. A LFT teria recebido pagamentos de Mauro Marcondes, um dos lobistas investigados por negociar a edição e aprovação da MP 471, que prorrogava incentivos fiscais ao setor automotivo, durante o governo Lula. Luiz Claudio confirma o recebimento de R$ 2,4 milhões, mas defende que os valores são referentes a serviços prestados a uma empresa de Marcondes.

Com essas novas investigações, o cenário que se desenhou foi de ainda mais incerteza no campo político. Baixou, imediatamente, um clima de apreensão e medo em Brasília – a começar pelo Palácio do Planalto, conforme informa o blog Primeiras Leituras. Era a primeira vez que o Ministério Público e a Polícia Federal chegavam tão diretamente perto do ex-presidente, ainda que por meio de alguém da família. Até então o nome de Lula nas investigações de corrupção aparecera em delações premiadas, sem chegar à denúncia com evidências de um ato mais objetivo por parte dele.

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Segundo informações da Folha de S. Paulo, Lula mostrou indignação em meio à operação da Polícia Federal de busca e apreensão na empresa de seu filho. Além disso, informa o jornal, isso demonstra para ele que tem faltado pulso firme do Ministério da Justiça no comando da Polícia Federal. Vale ressaltar que as pressões do PT para que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, saia do cargo, continuam no radar. 

Em conversas com aliados, Lula apresentou duas hipóteses para a ação da PF no escritório do filho. Ou essa é uma demonstração de desgoverno da presidente, ou uma prova de que Dilma orientou seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a unicamente protegê-la. Isso mesmo que seu padrinho político tenha que pagar o preço disso. Porém, nos dois casos, a responsabilidade seria dela.

Segundo o jornal, o ex-presidente se diz cada vez mais convencido de que Dilma permite investigações contra ele para se preservar. O jornal informa que o ex-presidente está tão irritado, acusando Dilma de destruir seu legado para construir a imagem da presidente que combateu a corrupção. Lula critica Cardozo, mas diz que não quer “ganhar no tapetão”; é papel do ministro da Justiça zelar pela Constituição. O ex-presidente nega que tenha dado essas declarações. 

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Vale ressaltar que o quadro ficou ainda mais tenso depois que o ex-ministro Gilberto de Carvalho, hoje na presidência do Sebrae, homem de estreita confiança de Lula, foi depor espontaneamente, antes que fosse convocado, também na Operação Zelotes, e vazaram-se informações de que ele atuou em conluio com um lobista interessado numa medida provisória que beneficiou a indústria automobilística. A Operação Zelotes apura principalmente perdão de multas tributárias a empresas pelo Carf, órgão do Ministério da Fazenda, e suspeitas de venda de MPs para beneficiar determinadas empresas ou setores.

Vale ressaltar ainda que, na semana passada, Lula prestou esclarecimentos a procuradores federais no Distrito Federal em meio as investigações de que ele teria feito lobby para companhias brasileiras em outros países. E, no domingo, destaque ainda para as revelações do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, em entrevista ao Estadão. Ele afirmou que recebeu um empréstimo do lobista Fernando Baiano, enrolado na Operação Lava-Jato e que levou o presidente da Sete Brasil, empresa com negócios com a Petrobras, para um encontro com o ex-presidente Lula em seu instituto. Bumlai, amigo pessoal de Lula, foi denunciado na delação premiada de Baiano como tendo recebido R$ 2 milhões para quitar uma dúvida de um das noras do ex-presidente.

CNT/MDA
Ja no dia do seu aniversário, durante a manhã, ele teve um novo revés. pesquisa CNT/MDA divulgada hoje mostrou diversos cenários para as eleições de 2018. E, em nenhum dos cenários apontados, ele venceria a eleição.

Em pesquisa de intenção de voto espontânea para a presidência da República, Aécio Neves sairia na frente (13,7%), seguido por Lula (7,9%), Marina Silva (4,7%), Dilma Rousseff (1,8%), Geraldo Alckmin (1,2%), José Serra (1,1%), Jair Bolsonaro (0,9%), Joaquim Barbosa (0,4%) e Luciana Genro (0,2%). Outros somam 2,9%, 17,3% votariam branco/nulo e 47,9% estão indecisos. Na intenção de voto estimulada para presidente no primeiro turno, caso a eleição presidencial fosse hoje, o tucano Aécio Neves sairia na frente com 32% dos votos, ante 21,6% do petista Lula e 21,3% de Marina.

No caso da intenção de voto estimulada para presidente com Alckmin no lugar de Aécio, no primeiro turno, Marina se consagraria vencedora com 27,8%, 23,1% de Lula e 19,9% do atual governador de São Paulo. Se o candidato tucano fosse o atual senador paulista, José Serra, Marina ficaria em primeiro lugar no primeiro turno, enquanto Lula tem 23,5% das intenções de voto e Serra ficaria em terceiro, com 19,6%. O CNT/MDA ainda fez seis cenários de segundo turno. No primeiro cenário, com Aécio e Lula, o tucano teria 45,9% e o petista teria 28,3%. No cenário 2, Alckmin teria 36,4% dos votos, e Lula teria 30,2%. O cenário 3 com José Serra e Lula mostra que o tucano teria 35,2% das intenções de voto e o petista 30,9%. Sem Lula, há três simulações: Aécio teria 37,7% dos votos e Marina teria 32,9% dos votos. Já com Alckmin e Serra, Marina se consagraria vencedora: ela teria 39,7% contra 25,9% de Alckmin e 39,6% contra 26,8% de Serra. 

Conforme destaca o analista político da MCM Consultores, de fato, a pesquisa mostra desgaste de Lula. Mesmo assim, continua a ser um candidato competitivo. “A capacidade de Lula se manter competitivo depende do futuro do governo Dilma – e este do desempenho da economia em 2017 e 2018 (já é certo que 2016 será novamente um ano de recessão) – e também dos desdobramento das Operações Lava Jato e Zelotes que estão chegando perto de Lula”, afirma.  

“O envolvimento de familiares e amigos (além dos petistas) é por certo um constrangimento para Lula. Mas, por enquanto, creio que ainda  não foi suficiente para inviabilizá-lo politicamente, isto é, para que não seja competitivo em 2018”, afirma Ribeiro.

Assim, o cenário mostra que Lula tem enfrentado grandes dificuldades. Contudo, a capacidade de reinvenção do ex-presidente não deve ser subestimada. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.