Em meio à situação paradoxal, Brasil trouxe uma grande lição para os investidores

Se o noticiário foi tão ruim, por que os investimentos foram tão bem? A gestora britânica Ashmore destacou a lição que o Brasil trouxe aos investidores: crises podem ser enormes oportunidades de investimento, desde que se separe os "sinais" dos "barulhos"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Do Ibovespa de 60 mil a 65 mil pontos, do dólar a R$ 3,40 para R$ 3,15. Em menos de dois meses, mesmo com fortes sequelas, o mercado brasileiro conseguiu ficar de pé após o baque com a revelação da delação-bomba de Joesley Batista, que implicou Michel Temer e gerou a maior crise do governo do peemedebista.

E, de acordo com a gestora britânica Ashmore, empresa que gerencia cerca de US$ 60 bilhões em ativos de mercados emergentes e investe em títulos brasileiros, o cenário que vem se desenhando ilustra a diferença entre “sinal” e “barulho” na hora de investir. “Uma completa bagunça em uma perspectiva jornalística, o Brasil tem sido um dos melhores investimentos no mercado de renda fixa global e continua a oferecer oportunidades de investimentos atrativas”, afirma o chefe de pesquisa da Ashmore Jan Dehn. 

Dehn ressalta que o Brasil enfrenta a pior crise econômica de sua história moderna e, além disso, quase toda a classe política foi exposta como corrupta em meio ao escândalo da Operação Lava Jato, que tem como símbolo o juiz Sérgio Moro. A incansável campanha para erradicar a corrupção já levou ao impeachment de Dilma Rousseff, à condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão por corrupção e Michel Temer oscilando no precipício da morte política. 

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Porém, em meio a um cenário tão conturbado, os retornos estão “estelares”, ressalta. Mas por que isso acontece quando a notícia estão tão ruins? De acordo com Dehn, a resposta é de que os retornos de investimento dependem dos sinais-chave para a evolução dos parâmetros econômicos e políticos mais profundos. Muitas notícias do momento se mostram simplesmente como “barulho”, pelo menos a partir da perspectiva estreita do investidor. 

Desta forma, na hora de investir, o que vale é traçar perspectivas sobre o que pode acontecer com os principais parâmetros de risco. São eles, o PIB, a inflação, as reformas, as taxas de juro, entre outros. “O investidor então compara esses parâmetros com o atual nível dos preços dos ativos a fim de avaliar se eles são compatíveis uns com os outros”, afirma Dehn. 

Então, quais foram o sinal no Brasil registrados desde o final de 2015 para o País registrar esse expressivo rali? A Ashmore destaca três pontos principais, que estão listados abaixo:

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Em primeiro lugar, a Selic era de 14,25% ao final de 2015, enquanto a inflação apontava para registrar o seu pico em 10,7% ao ano. “Isso significa uma taxa de juros real de 355 pontos-base, o que é extremamente alto. Ao mesmo tempo, o PIB mostrava uma forte contração. “Assim, parecia muito provável que essa combinação de altas taxas de juros reais com o crescimento muito fraco guiaria um período de queda da inflação”. 

Em segundo lugar, está a taxa de câmbio real, que começou a ficar seriamente desvalorizada no final de 2015. “A taxa de câmbio real muito competitiva, que já começava a melhorar a balança comercial do Brasil, poderia ser um dos fatores de estabilização do crescimento econômico, embora sem risco de inflação, uma vez que a fraqueza da economia mostrava que ainda se demorariam anos antes que os custos salariais ameaçassem pressionar a inflação.

“Em suma, era muito provável que o Brasil entrasse num cenário de ‘goldilocks’, ou seja, com crescimento levemente positivo coincidindo com o declínio da inflação”, afirma Dehn. Além disso, no caso do Brasil, a história seria ainda mais atraente porque os investidores também poderiam
esperar uma valorização razoável da moeda e um Banco Central pronto para cortar as taxas agressivamente.

Em terceiro lugar, está a crise política no Brasil, que foi surpreendentemente positiva para as reformas. “O PSDB e o PMDB reconheceram antecipadamente que o colapso do PT representaria uma oportunidade para implementar reformas difíceis uma vez que os eleitores, por algum tempo pelo menos, atribuiriam os seus problemas às administrações petistas”. Os tucanos em particular apoiam as reformas, porque a ideia de que as mais desafiadoras possam ocorrer antes das eleições de 2018 parece bastante atrativa. “Uma equipe de tecnocratas crível liderada por Ilan Goldfajn no Banco Central e Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda formula e executa reformas profundas”, afirma Dehn.

Olhando para a frente, o case econômico para a renda fixa brasileira continua sólido, destaca ele. A inflação continua caindo rapidamente, enquanto as taxas de juros real e nominal seguem bastante altas, mesmo com a queda da Selic (atualmente a 10,25%).

O futuro parece promissor

E sobre as perspectivas políticas? Segundo a Ashmore, na verdade, o front político continua trazendo boas notícias, apesar da vulnerabilidade da administração Temer. Isso porque as reformas continuam no radar, aponta Dehn, destacando como grande exemplo a aprovação da reforma trabalhista no Senado. “A reforma irá tornar o Brasil mais produtivo, permitir que a economia retorne ao pleno emprego mais rápido e colocar o país em uma tendência de crescimento mais rápido e não inflacionista”, afirma.

Além disso, Dehn classifica a condenação de Lula por Moro como uma notícia positiva, uma vez que é um duro golpe para as esperanças do petista de retornar à presidência em 2018, reduzindo assim um importante risco potencial negativo para os mercados. “Lula tem o direito de recorrer. No entanto, este é um claro baque para as suas ambições políticas”, afirma.

Assim, nos próximos 18 meses, a economia deve trazer notícias positivas em sua maioria, enquanto a principal fonte de volatilidade deve vir da política. “Temer ainda pode ser retirado do cargo mas, com o retorno de Lula agora menos provável, os riscos negativos associados à queda de Temer do cargo são muito reduzidos. A reforma da Previdência, ainda pendente, não é excessivamente sensível ao tempo e pode ser adiada para início no próximo mandato presidencial, em 2019”, ressalta o chefe de pesquisa. Além disso, ele aponta que ainda há uma chance de que a reforma da Previdência passe antes das eleições, caso Temer caia e haja eleição indireta. “Assim, a saída de Temer não seria necessariamente uma má notícia”, ressalta.

Assim, o Brasil traz uma grande lição quando se trata de investir, destaca a gestora: crises podem ser enormes oportunidades de investimento. Isso porque o preço do ativo durante crises costuma ser extremo, com muitos investidores confundindo ruído e sinal. E é preciso separar o que é uma coisa e o que é outra. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.