Elite política assediada e eleitor de escanteio: quais são as estratégias para as eleições até agosto?

Jogo de alianças entra em momento crítico e mobiliza esforços de candidatos das mais distintas ideologias

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O fim da Copa do Mundo e o pontapé inicial do período de convenções partidárias traz o gás final do período pré-campanhas eleitorais, importante na definição das peças antes do jogo começar oficialmente. A menos de três meses do primeiro turno, poucas alianças foram definidas e muitas candidaturas ainda continuam no campo da incerteza, ao passo que a insatisfação e dúvida do eleitor se manifesta a cada nova pesquisa divulgada. O confuso cenário eleitoral foi o tema do programa Conexão Brasília na última sexta-feira (assista no vídeo acima).

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Muita conversa de bastidor e pouca definição. No pleito mais incerto desde 1989, a cautela impera no posicionamento dos partidos, que não querem errar na escolha das alianças. Ganhar no bolão presidencial pode ser um divisor de águas para o futuro de uma legenda e seus representantes. Do lado dos candidatos, este é um momento crucial na construção de uma estrutura sólida para a disputa que vem por aí e de uma base para governar, caso eleitos.

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“No fundo, agora o jogo é dentro da elite, com os partidos se aliando e definindo estratégias. A relação com o eleitor tem pouco peso neste momento”, pontuou o analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, e autor do Mapa Político (clique aqui para conhecer). Paradoxalmente, os donos do voto são temporariamente relegados a uma segunda posição na lista de prioridades dos candidatos antes do início da disputa.

“É curioso porque é neste momento que aparece o peso dos grandes partidos. Ele se manifesta não só em nível nacional, mas sobretudo nos estados. Grandes siglas, em geral, têm acesso a cargos executivos e têm muito tempo de televisão. Só que isso é desenhado com base nos estados. Inclusive, um risco que podemos ter é, como não há nenhum nome que você pode dizer que tem grande chance de vencer, você consegue contar histórias que levem à vitória de pelo menos três ou quatro nomes, é bem possível que a lógica estadual tenha peso muito grande”, complementou o especialista no programa Conexão Brasília.

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Segundo Cortez, embora às vezes desconsiderados em algumas análises, os arranjos estaduais contam muito para a definição do jogo no plano nacional. Ele acredita que, em função do elevado nível de incerteza, é provável haver divisões nas bancadas partidárias mesmo após a definição de uma posição. Um claro exemplo disso pode se dar na região Nordeste, onde parte dos partidos do chamado “blocão” (DEM, PP, PR, Solidariedade) pode fazer campanha para um candidato do PT, tendo em vista a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na região, em contraste com qualquer outra aliança nacional anunciada em convenção. Neste caso, o candidato detentor do apoio formal teria tempo de rádio e televisão — relevante em uma corrida presidencial –, mas poderia não contar com palanques importantes.

“É nos estados que os partidos crescem. E essa me parece ser uma vantagem que PT, de um lado à esquerda, e PSDB, na centro-direita, têm em tentar mobilizar o que chamamos de ‘centrão’ ou ‘partidos-satélites’, porque eles podem oferecer algo no nível estadual: por exemplo, retirar uma candidatura de governador para que um partido possa crescer localmente. A lógica vem de baixo para cima, dos restados para construir a lógica nacional”, explicou o analista político.

Conforme pontuou Paulo Gama, analista político da XP Investimentos, também presente no último Conexão Brasília, um exemplo deste complexo jogo é o que ocorre na cobiça pela aliança do PSB. Nos últimos dias, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) esteve bem próximo de fechar uma aliança com a sigla. Mas, uma ofensiva do PT atrapalhou os planos e adiou uma definição dos socialistas. O diretório de Pernambuco tem muito peso sobre os caminhos do PSB em nível nacional. No estado, o governador Paulo Câmara tenta a reeleição e tem como principal possível adversária Marília Arraes, do PT. Para evitar uma aliança formal PSB-PDT em nível nacional, especula-se sobre a possibilidade de o PT desistir de lançar candidatura no estado.

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“As coisas que pareciam mais encaminhadas para Ciro deram um passo para trás, o PSB adiou de novo a reunião preparatória da convenção, em que seria aprovado o direcionamento da convenção, eles adiaram de novo”, observou o analista político da XP. Nos últimos dias, o PT tem se esforçado em evitar a consolidação de uma coalizão em torno da candidatura de Ciro. O movimento contrário ao ex-governador do Ceará é acompanhado por ofensiva do governo, que luta contra uma aproximação do pedetista com o “blocão”. “Esse é o principal ponto deles: trabalhar para que, em 2019, você tenha um presidente que não altere completamente o sistema político vigente. Eles querem evitar uma caça às bruxas. É muito menos a verborragia de Ciro de ataque dirigido pessoalmente a Temer e muito mais um receio de que ele, na presidência, vá investir força para implodir o MDB”, complementou Gama.

Para Cortez, a indefinição deve continuar. “A maior peculiaridade de uma eleição presidencial no Brasil vis-à-vis outras democracias de massa que têm o presidencialismo é o fato de que boa parte da vitória eleitoral não ocorre na relação do candidato com o eleitor, mas intraelite, porque não temos naturalmente os partidos que dominam a política. PT e PSDB, desde 1994, conseguiram esse domínio, mas não fruto de uma relação forte com o eleitor e o fechamento deste mercado. Tem que haver uma articulação bastante complicada passando pelos estados. Para 2018, combinação de crise econômica, efeitos políticos da Lava Jato fez com que esse ‘domínio natural’ implodisse. Então, o esforço para pelo menos reconquistar bases, ter menos candidatos, para não ser uma corrida eleitoral como se fosse 1989, não é pequeno. Como não tem esse nome nas pesquisas que todo mundo aposta, os nomes com melhor desempenho são nomes de fora do sistema.. Vamos entrar em um período batendo a eleição formal sem saber quem são os candidatos e as alianças”, concluiu.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.