Eleições são consideradas “não evento” pelo mercado, com pouco impacto

Chance de 2º turno aumenta, mas aposta é de vitória de Dilma; saiba o que esperar em termos econômicos do próximo governo

Tainara Machado

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SÃO PAULO – O último levantamento do CNT/Sensus, realizado com 2.000 pessoas entre os dias 26 e 28 de setembro, mostrou recuo da candidata do PT, Dilma Rousseff, ao apresentá-la com 47,5% das intenções de voto na pesquisa estimulada, o que indica uma queda de 3 pontos percentuais em relação ao apurado entre os dias 10 e 12 do mesmo mês, quando a candidata aparecia com 50,5% das intenções.

No levantamento do Datafolha, divulgado na última terça-feira (28), o mesmo movimento se repetiu: a petista recuou 3 pontos percentuais, passando a contar com 51% dos votos válidos. Enquanto isso, José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) têm 32% e 16% das intenções do eleitorado, nesta ordem. Os adversários oscilaram positivamente, já que na pesquisa anterior tinham 31% e 14% dos votos válidos – aqueles que excluem brancos, nulos e indecisos.

Considerando a margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, Dilma pode perder a chance de vencer a eleição logo no primeiro turno, caso atinja apenas 49% dos votos. A candidata diminuiu sua vantagem de 14 pontos, registrada há duas semanas, para dois pontos nesta pesquisa.

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Segundo turno ainda não é opção mais provável
O aumento das chances de segundo turno, desencadeados sobretudo pelo estouro do caso Erenice, não ganha muito entusiasmo por parte de comentadores políticos, que ainda avaliam ser maior a chance de vitória da ex-ministra de Lula logo na primeira rodada de votações. Um dos fatores que poderiam forçar o segundo turno era o último debate entre os presidenciáveis, promovido na última quinta-feira (30) pela TV Globo.

“Do ponto de vista da influência que poderia exercer sobre os eleitores, o debate foi um não evento”, argumentou a MCM Consultores em nota, avaliando que não será isso que determinará a ocorrência ou não do segundo turno. Além disso, a queda da exigência de apresentação de dois documentos – o título de eleitor e um documento com foto – na hora de votar também favorece a candidata, já que a análise era que essa obrigatoriedade tiraria votos das faixas de menor renda, justamente a principal base de apoio da candidata petista. 

Levando em conta as últimas pesquisas, no entanto, a percepção ainda é mais favorável à resolução do pleito já no próximo domingo. De qualquer maneira, o impacto que isso terá sobre a renda variável é colocado em dúvida. “Acho que o mercado não está dando muita importância se a eleição vai ou não para o segundo turno”, avalia Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores.

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Continuidade: a palavra da vez
Isso acontece, especialmente, porque ambos os candidatos apresentaram, durante a campanha, o compromisso de manter as linhas macroeconômicas seguidas durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. “São 16 anos de real bem sucedido, instituições avançando, não dá pra pensar em aventuras”, declara Julio Hegedus, economista-chefe da InterBolsa Brasil. 

Ainda que a continuidade seja a palavra da vez, a mudança continua a ser importante, e a formação do gabinete e a agenda política da nova administração são os principais pontos de atenção citados pelo Société Générale. “As nuances importam, e os desafios à frente seguem grandes”, afirmou o banco em relatório.

Com os dados apontando para a vitória de Dilma Rousseff, seja no primeiro ou no segundo turno, o Société diz que a transição entre as administrações deve ser tranquila. Para o JP Morgan, com a provável vitória da candidata, as atenções passam para o período pós-eleitoral, com a formação da equipe do próximo governo e a agenda que será perseguida. 

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Reformas devem ser abordadas pontualmente
De acordo com o banco, “não é esperado que a administração da Dilma traga novos planos ou políticas à pauta, mas sim fazer mais do mesmo”. Os analistas argumentam que um dos melhores cenários para o próximo governo seria se a nova presidente promovesse algum tipo de aperto fiscal e estabelecesse algumas reformas no Congresso Nacional ainda no primeiro ano de mandato.

Para Rafael Cortez, cientista político da Tendências e professor da PUC-SP, existe uma janela de oportunidades para um governo mais reformista do que foi o de Lula no segundo mandato, por causa da expectativa de amplo apoio do Governo na Câmara dos Deputados e de maioria no Senado no próximo mandato. 

No entanto, isso não dá garantias de que reformas serão perseguidas. Ribeiro, da MCM, lembra que algumas das reformas mais citadas como necessárias – política, tributária e da previdência – enfrentam barreiras que vão além de apoio no Congresso. No caso da reforma política, não há convergência entre os diversos partidos. Já a tributária enfrenta dissensões entre as esferas federativas. 

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Para Julio Hegedus, Dilma teria, se quisesse, espaço para fazer as reformas estruturais citadas acima, mas o economista não acredita que a candidata, caso vitoriosa, assuma com tanta ânsia para isso, apostando mais em mudanças pontuais na previdência e desoneração de investimentos.

Austeridade fiscal e papel do Estado
Existe também a expectativa que Dilma anuncie um programa de austeridade fiscal no primeiro ano de mandato, caso venha a ser eleita, adiando alguns projetos – o contingenciamento na boca do caixa, lembra Julio. Se o corte de despesas for apenas pontual, a resposta será negativa, avalia Ribeiro, da MCM, enquanto um ajuste fiscal mais estrutural seria bem recebido. 

O cenário otimista para a questão fiscal é que Dilma cumpra a meta de superávit fiscal, avalia Cortez, da Tendências, principalmente após a crise econômica de 2008 ter fortalecido a ideia do Estado indutor, mais forte e desenvolvimentista. “Os projetos do final do governo Lula, como volta da Telebrás, centralidade da Petrobras no marco regulatório do pré-sal mostram um pouco do perfil do governo Lula, que deve ter continuidade em um possível governo Dilma”.

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As críticas mais fortes ao governo são concentradas justamente neste ponto. “O governo Lula conseguiu esvaziar as agência regulatórias, aparelhou o setor público e tem uma máquina que não é eficiente”, argumentou Hegedus, da InterBolsa. Para Cortez, é notório que o atual governo não vê com bons olhos a autonomia das agências, além de apontar para um limite, do ponto de vista fiscal, do papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) na economia. 

O governo Dilma poderia dar uma grande contribuição caso reforçasse reformas micro. Boa parte da dificuldade em captar investimento estrangeiro direto é um marco não tão atrativo, argumenta Cortez. A percepção, no entanto, é de que Dilma tem uma postura favorável a uma maior invenção do Estado, segundo a InterBolsa Brasil.

Gabinete
Com o Governo com esse papel, a estabilidade monetária, afirma Cortez, é o que garante certo conservadorismo na política econômica. Ou, como colocou Ribeiro, a tendência é que se mantenha uma política monetária mais ortodoxa e um Ministério da Fazenda mais desenvolvimentista. Nesse ponto, os comentaristas acreditam ser precipitado falar em nomes, embora não descartem manutenção de Mantega na Fazenda e Meirelles no Banco Central, além de citarem também Nelson Barbosa, secretário de Acompanhamento Econômico na Fazenda, Alexandre Tombini, diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do BC e Luciano Coutinho, presidente do BNDES, como possíveis indicações. 

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Além disso, existe a expectativa da volta de Antônio Palocci, primeiro ministro da Fazenda de Lula, como chefe da Casa Civil. Mudanças nesse front, como indicação para a Saúde, por exemplo, poderiam decepcionar o mercado, já que ele e Meirelles são os únicos formuladores de políticas conhecidos, aponta o JP Morgan.  

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