Eleições estaduais trazem de volta rumores sobre privatização da Cesp

Analistas acreditam que sem renovação das concessões, cenário é incerto; investimento em crescimento pelo estado é opção

Beatriz Nantes

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SÃO PAULO – Em 2008, após intensos debates e tensões, fracassou a tentativa de privatização da Cesp (CESP3CESP6). O motivo? Nenhum grupo privado se interessou pela disputa, e o governador de São Paulo, à época José Serra – atual pré-candidato do PSDB para a presidência da República -, acabou cancelando o leilão de privatização, em março daquele ano.

Será que existe alguma chance desse processo ser retomado? Este ano, o novo diretor-presidente da empresa, Vilson Daniel Christofari, afirmou que “foi vencida a fase da tentativa frustrada de privatização” e foi enfático: “esse assunto não mais está cogitado”.

Entretanto, com a proximidade das eleições, não só para a presidência, como para o governo de São Paulo, a questão retorna: uma possível eleição de Alckmin – um dos nomes mais cotados para ser o candidato do PSDB para o cargo – traria novamente a tona a possibilidade de uma privatização?

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O que o mercado pensa
Para os analistas do Safra, Sérgio Tamashiro e Diogo Amaral, a resposta é sim. “Acreditamos que se Geraldo Alckmin ganhar a eleição para governador, ele tentará privatizar a Cesp”, comentaram em relatório de início de cobertura das ações da empresa. Os dois lembram os investidores que as ações preferenciais da companhia têm 100% de direito de tag along – ou seja, em caso de transferência de controle da empresa, o acionista receberá todo o valor correspondente ao preço da ação ordinária.

Marcos Severine, Marcel Shiomi e Mariana Coelho, analistas da Itaú Corretora, acredita que, caso ocorra, a privatização se refletirá de forma muito positiva para as ações da companhia. Os analistas estimam que uma possível privatização ficaria no intervalo ente R$ 40 e R$ 45 por ação, valores bem superiores à última cotação de fechamento.

Mas os analistas citam uma alternativa à privatização, que seria um percurso parecido com o tomado pelo PSDB com relação à Cemig, em Minas Gerais, com o governo investindo no crescimento da empresa, permanecendo com o controle estatal. Na visão da equipe, o cenário não seria necessariamente negativo, ainda mais levando em conta a geração de fluxo de caixa muito forte da Cesp.

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“A empresa poderia certamente desempenhar um papel primordial na consolidação do setor, tornando-se uma companhia orientada ao crescimento e/ou ao aumento de dividendos para o estado de São Paulo e para os acionistas minoritários”, completam.

Privatização X renovações
Já o analista da Link, Andrés Kikuchi, é mais cauteloso. Ele lembra que a questão da renovação das concessões é o principal tema para a Cesp, e também o principal fator de risco para o papel, mais do que qualquer outra coisa.

Cerca de 67% do parque gerador da Cesp terá a concessão vencida em 2015, fazendo da empresa uma das mais afetadas do setor a respeito do vencimento. 

O mais importante é que a questão das concessões possui forte correlação com a privatização. Kikuchi lembra que, na época da tentativa de privatização, há dois anos, a indefinição do assunto já havia frustrado os investidores.

E como esse cenário se mantém, uma vez que nada foi decidido, o analista acredita que dificilmente o debate da privatização ocorrerá antes da renovação. “As renovações são mais importantes que a eleição como catalisador para a Cesp no momento. O processo, assim, viria em um momento posterior”.

O analista da Link vai além e acredita que a chegada das eleições pode atuar inclusive atrapalhando, no sentido de que pode atrasar a decisão a respeito das concessões. “Enquanto isso tudo está pendente, fica difícil trabalhar com algum valor para a Cesp”, resume Kikuchi.

Com relação ao cenário político propriamente dito, o analista diz que é difícil fazer uma previsão. “Vai depender muito da cabeça de quem for eleito, com relação a um tema muito específico, que é a renovação”, diz, reiterando que este assunto será debatido antes de qualquer ideia sobre a privatização.

Como foi em 2008?
Esperando arrecadar R$ 6,6 bilhões, o leilão de 2008, marcado para o dia 26 de março, fracassou uma vez que nenhum dos cinco interessados que haviam sido pré-qualificados depositou garantias para participar da disputa – era pedido um seguro garantia de R$ 1,74 bilhão para terem direito de apresentar lance no leilão.

As cinco pré-interessadas na época eram a Tractebel/Suez, a CPFL Energia, a Neoenergia, a Aloca e a EDP. As razões alegadas pelos participantes convergem com o que Kikuchi explicou: o preço era considerado muito alto e não compensava os riscos regulatórios envolvendo as incertezas com relação às concessões das usinas e os preços de energia.

Já José Serra atribuiu a desistências pela crise financeira vivida na época, que teria reduzido a disponibilidade de capital para financiar a operação. Ainda assim, o governo admitiu, à época, que o preço era considerado alto, mas justificou dizendo que esse preço mínimo valorizava o ativo e não cogitava vender a empresa abaixo deste valor.

Vale lembrar que, em 2000 e 2001 também houve tentativas frustradas de vender a Cesp, por Covas e Alckmin, respectivamente.

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