Eleições 2020: Veja um resumo do segundo turno nas 7 maiores capitais

Pleito ocorre em 21 unidades da federação, com 18 capitais em disputa. Cidades somam 55,9 milhões de habitantes

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Os eleitores de 57 municípios irão mais uma vez às urnas, no próximo domingo (29), para definir seus prefeitos pelos próximos quatro anos. O pleito ocorre em 21 unidades da federação, com 18 capitais em disputa.

O segundo turno reúne os dois candidatos mais votados no primeiro turno, em cidades com mais de 200 mil eleitores, quando nenhum dos postulantes atinge a maioria absoluta dos votos válidos – ou seja, 50% mais um, excluindo brancos e nulos.

Os municípios que terão segundo turno somam 55,9 milhões de habitantes, de acordo com estimativa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e 38,3 milhões de eleitores, conforme registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Leia também: Oito nomes que merecem destaque nestas eleições municipais

Entre as capitais, Belém (PA), Cuiabá (MT), Maceió (AL), Porto Alegre (RS), Recife (PE), São Luís (MA), São Paulo (SP) e Vitória (ES) destacam-se nas pesquisas mais recentes como as disputas mais equilibradas.

Em seis delas, um dos postulantes é o atual prefeito, candidato à reeleição: Edvaldo Nogueira (PDT), em Aracaju (SE); Emanuel Pinheiro (MDB), em Cuiabá (MT); Hildon Chaves (PSDB), em Porto Velho (RO); Bruno Covas (PSDB), em São Paulo (SP); Socorro Neri (PSB), em Rio Branco (AC); e Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio de Janeiro (RJ).

Confira um resumo do cenário nas sete maiores capitais em eleitores: 

SÃO PAULO (SP)
População estimada: 12.325.232 habitantes
Eleitorado: 8.986.687 eleitores

Na capital paulista, o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) trabalha na imagem de gestor público para desbancar seu adversário, Guilherme Boulos (PSOL), e se reeleger para mais quatro anos no comando do Poder Executivo local.

Apontado como favorito nas pesquisas de intenção de voto, o tucano viu a avaliação de sua administração melhorar durante a campanha. Segundo o Datafolha, o grupo de paulistanos que classificam o trabalho do atual prefeito como ótimo ou bom saiu de 25% (21 e 22/09) para 35% (23/11). Já as avaliações negativas caíram de 27% para 21% no período.

“É preciso reconhecer as boas iniciativas de gestões passadas e poder ampliar quando isso é bom para a população, independente do nome. É por isso que demos continuidade aos CEUs, da Marta Suplicy; ao Mãe Paulistana, de José Serra; às desestatizações, de João Doria; à reforma do Anhangabaú, iniciada na gestão Fernando Haddad”, defendeu o candidato em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

“Precisamos parar de pensar política pública de quatro em quatro anos. É um grande desperdício de recurso público a gente querer recomeçar tudo do zero quando se inicia uma nova gestão”, continuou. A imagem da experiência e conhecimento do funcionamento da máquina pública são frequentemente lembradas por aliados do tucano.

Covas conta com uma ampla coligação formada por 11 siglas (PSDB, PP, MDB, Podemos, PSC, PL, Cidadania, DEM, PTC, PV e Pros), em um movimento que envolveu costuras nacionais.

A disputa em São Paulo é vista como um laboratório para a construção de uma candidatura de “centro” para as eleições presidenciais de 2022. E para os tucanos, que têm o nome do governador João Doria como provável candidato, manter o controle da cidade é fundamental.

Neste segundo turno, Bruno Covas recebeu ainda o endosso de PSD, que concorreu com Andrea Matarazzo no primeiro turno; do Republicanos, de Celso Russomanno; do PSL, de Joice Hasselmann; e do Solidariedade, que integrou a coligação de Márcio França (PSB).

Já Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), vem para o segundo turno embalado pelo feito histórico de superar adversários mesmo com apenas 17 segundos de tempo de televisão e poucos recursos.

Apontado como uma das grandes surpresas das eleições municipais, Boulos conseguiu criar um movimento orgânico de apoio à sua candidatura e teve destacada participação nas redes sociais. Ao lado de sua vice, a ex-prefeita Luiza Erundina, buscou aliar ousadia e experiência em uma campanha que deixou outras opções à esquerda comendo poeira na disputa.

Independentemente do desfecho dessas eleições, Boulos já é visto por muitos como liderança em ascensão no campo progressista, representante de uma renovação difícil em qualquer campo ideológico, mas especialmente em um grupo que tem o ex-presidente Lula como quadro. Há quem diga que o caminho da esquerda em 2022 terá que passar pelo líder dos sem-teto e que seu avanço evidencia a perda da hegemonia do PT na esquerda.

Neste segundo turno, Boulos conseguiu formar a tão sonhada frente progressista, com o apoio de PT, que teve Jilmar Tatto no primeiro turno; PDT, que esteve com Márcio França; PC do B, que disputou com Orlando Silva; Rede Sustentabilidade, que lançou Marina Helou; e o próprio PSB, embora o candidato França tenha se mantido neutro.

O candidato do PSOL, inclusive, conta com participação de lideranças nacionais da esquerda, como Lula, Ciro Gomes, Marina Silva e Flávio Dino. Um de seus maiores desafios na campanha é desconstruir uma imagem de radical entre parcelas expressivas do eleitorado paulistano.

“Tentar me imputar a pecha de radical ou extremista só expressa o momento sombrio que estamos vivendo no país. Eu luto há 20 anos para que as pessoas tenham um teto, para que elas tenham dignidade básica para viver. Isso é radicalismo?”, rebate.

“Quem se apresenta com um projeto de mudança, como foi muitas vezes na história, é tachado de radical, extremista, utópico, sonhador, inviável, inexperiente. Acho que a tentativa de atacar nossa candidatura dessa maneira só expressa o quanto ela tem tido sucesso de mobilizar corações, esperanças e sonhos em um outro jeito de fazer política”, continua.

Boulos deve usar a melhora no desempenho nas últimas pesquisas para tentar fazer história e virar o jogo. Ao longo da disputa, explorou o apoio de Russomanno, que contou com o endosso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), para lembrar a aproximação que João Doria fez para se eleger governador há dois anos ‒ movimento que ficou conhecido como Bolso-Doria.

A campanha psolista também lembra o histórico de prefeitos tucanos de renunciar ao cargo no meio do mandato para disputar o governo estadual e tem apontado o dedo para a figura do vereador Ricardo Nunes (MDB), vice na chapa de Covas.

Nunes foi acusado de violência doméstica, ameaça e injúria pela esposa, que chegou a registrar um boletim de ocorrência, em 2011. O documento relata que o casal estava separado havia sete meses, mas que o vereador, “inconformado com a separação”, insistia em tentar contato, “efetuando ligações proferindo ameaças, envia mensagens ameaçadoras todos os dias”. Também são imputadas ao vereador irregularidades em contratos de creches municipais.

Segundo reportagem publicada em outubro pelo jornal Folha de S.Paulo, o emedebista tem uma rede de conexões com servidores e ex-servidores que alugaram ao menos sete prédios de educação e assistência e recebem cerca de R$ 1,4 milhão ao ano com aluguéis, com valores que ultrapassam, na média, os parâmetros de referência da própria prefeitura.

Já Covas trabalha para manter a vantagem construída ao longo da campanha, focando em expor conquistas de sua gestão e contrastando com a falta de experiência do adversário na administração público.

O tucano também trabalha na associação da imagem de Boulos a radicalismos, movimento que na prática dificulta a marcha do adversário por moderação no discurso em busca de votos ao centro na disputa.

A pesquisa XP/Ipespe realizada nos dias 24 e 25 de novembro mostrou um crescimento expressivo de Boulos na disputa, conquistando parte dos eleitores que não manifestavam apoio a nenhum dos candidatos.

Segundo o levantamento, a diferença, que antes do primeiro turno era de 40 pontos percentuais para o tucano, agora é de apenas 8 p.p. ‒ 54% a 46% no recorte por votos válidos. A reta final da disputa promete esquentar.

RIO DE JANEIRO (RJ)
População estimada: 6.747.815 habitantes
Eleitorado: 4.851.887 eleitores

O Rio de Janeiro tem se destacado por uma intensa troca de acusações e ataques entre os candidatos Marcelo Crivella (Republicanos), atual prefeito e candidato à reeleição, e Eduardo Paes (DEM), que governou a cidade de 2009 a 2016, na reta final do segundo turno.

A campanha morna que se observou no primeiro turno agora foi substituída pela tentativa de desconstrução do adversário a qualquer custo e por múltiplas acusações de mentiras, além da falta de um debate mais profundo sobre os problemas da cidade e exposição de propostas.

Segundo levantamento feito pelo Datafolha nos dias 24 e 25 de novembro, Paes tem 70% das intenções de voto, contra 30% de Crivella, no cenário que exclui votos em branco, nulos e eleitores indecisos ‒ diferença praticamente inalcançável para o candidato à reeleição.

Entre múltiplos recortes apresentados pelo instituto, Crivella apenas lidera a disputa entre os evangélicos (que correspondem a 26% da amostra): 61% contra 39%. Já entre os católicos (38% da amostra), ele perde por 87% a 13%.

Além da grande distância, Crivella tem como obstáculo elevados índices de rejeição na cidade. Uma pesquisa de outubro do Datafolha mostrou que 62% dos eleitores cariocas avaliam como ruim ou péssima sua gestão, contra 12% que a classificam como ótima ou boa.

Duas semanas atrás (antes, portanto, do primeiro turno), o mesmo instituto mostrou que 44% dos cariocas veem Crivella como o candidato que mais faz promessas que não pode cumprir. Paes, por sua vez, foi apontado por 19%.

No segundo turno, Paes conta com o “apoio crítico” de lideranças de esquerda ou ao menos com uma maior repulsa à candidatura de Crivella. O candidato do Democratas também recebeu o apoio do PSD, que participou da coligação de Luiz Lima (PSL) no primeiro turno. O “não” a Crivella tem sido o principal trunfo do ex-prefeito no segundo turno.

“O carioca tem na memória de que não era tudo perfeito no meu governo, mas de que a cidade olhava para frente, de que os serviços funcionavam, de que tínhamos um prefeito presente. Infelizmente, o que vemos hoje é um prefeito omisso, despreparado, que não age com objetividade”, disse Paes em debate organizado pela TV Bandeirantes.

“Vários partidos de esquerda, de direita, de centro, de cima, de baixo, do meio, do fim, até a página ‘Eu odeio Eduardo Paes’ no Facebook estão declarando apoio a mim. Sabe por quê? Porque o Crivella é uma tragédia. É o pior prefeito da história do Rio”, afirmou em outro vídeo divulgado nas redes sociais.

Já a candidatura de Crivella busca associar o adversário a escândalos de corrupção que marcaram a política no estado nos últimos anos, além de resgatar elementos associados à pauta de costumes, presentes na disputa para governador em 2018 (quando Paes foi derrotado por Wilson Witzel).

O atual prefeito também se esforça para transmitir uma imagem positiva de sua gestão no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus e associa uma possível mudança no comando da cidade a riscos de uma piora no quadro.

“O que mais me preocupa (…) é que podemos ter uma segunda onda [de covid-19]. A segunda onda na Europa e em outros lugares foi muito grave”, disse Crivella em debate promovido pela TV Bandeirantes.

“Se tivéssemos uma olimpíada, um carnaval, tudo bem, Eduardo [Paes] é festeiro, mas precisamos ter cuidado para enfrentar a nova onda. Não arrisque isso. O time está montado, vencemos a primeira onda e vamos vencer, se tiver, a segunda onda”, complementou.

O problema é que apenas 14% dos eleitores consultados pelo Datafolha em outubro o viam como o candidato mais preparado para cuidar da área da saúde, e 15% como o mais preparado para o combate à pandemia. Já Paes liderava as duas listas, com 34% e 26%, respectivamente.

FORTALEZA (CE)
População estimada: 2.686.612 habitantes
Eleitorado: 1.821.382 eleitores

A disputa pela prefeitura de Fortaleza coloca novamente uma candidatura endossada pelos irmãos Ciro e Cid Gomes contra o agora deputado federal Capitão Wagner (Pros) no segundo turno. Desta vez, o postulante governista é José Sarto (PDT), presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, que tenta ser o sucessor de Roberto Claudio (PDT), reeleito em 2016.

Sarto conseguiu construir uma ampla coligação para a disputa, com dez partidos: PDT, PSB, PP, PL, PSD, PTB, PSDB, Cidadania e Rede Sustentabilidade. Para o segundo turno, ampliou a base de apoio, incluindo lideranças políticas da centro-direita, do centro e da centro-esquerda.

O PT, do governador Camilo Santana, endossou a candidatura do pedetista. No primeiro turno, o partido havia lançado a deputada federal Luizianne Lins, que terminou a disputa com 227.470 votos, o equivalente a 17,76% dos votos válidos.

O PV também manifestou apoio a Sarto. Já Célio Studart, candidato pelo partido, orientou eleitores a votarem contra Capitão Wagner. Ele recebeu 45.369 votos no primeiro turno (3,54%). A situação é similar à do Solidariedade, que disputou com Heitor Férrer. O candidato, que obteve 63.199 votos (4,93%), no entanto, adotou posição independente no segundo turno. Até o Patriota e seu candidato, Samuel Braga, que recebeu 1.749 votos no primeiro turno (0,14%), decidiram apoiar Sarto.

Além da sólida máquina pedetista, Sarto tem a seu favor uma boa avaliação das gestões de Roberto Claudio e Camilo Santana, que o apoiam. Segundo pesquisa Ibope feita em 21 e 22 de novembro, 52% dos entrevistados consideram ótima ou boa a administração na capital, e 57% no governo estadual. As classificações negativas somam 14% e 12%, respectivamente.

Já o candidato Capitão Wagner não conseguiu agregar alianças com adversários do primeiro turno. Deputado mais votado pelo estado na última eleição, com 303.593 votos, ele conta com o apoio do senador Eduardo Girão (Pros-CE) e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Wagner, no entanto, evita uma proximidade maior com Bolsonaro ‒ embora frequentemente explore a simpatia do presidente a sua candidatura como trunfo político e defenda explicitamente bandeiras em comum, como a introdução de escolas cívico-militares na capital cearense.

A fuga do rótulo de “bolsonarista” tem sua razão: o presidente é rejeitado por 46% fortalezenses e, ainda, a distância de padrinhos políticos é uma de suas armas do candidato para enfrentar o clã Ferreira Gomes.

Capitão Wagner iniciou sua trajetória política dentro dos quarteis da PM cearense. Filiou-se ao PR em 2009 e, no ano seguinte, candidatou-se a deputado estadual, tornando-se suplente. Em 2011, liderou a greve da PM e dos Bombeiros do estado. Em função do histórico, o candidato vem tentando se desvencilhar da greve de policiais militares ocorrida em fevereiro deste ano.

O motim durou 13 dias e culminou com o episódio em que o senador Cid Gomes levou dois tiros, enquanto tentava, a bordo de um trator, invadir um quartel de Sobral onde os amotinados se concentravam. Durante o movimento grevista, houve aumento de 138% dos homicídios no estado. Os irmãos Gomes sempre sustentaram que as greves de policiais tinham objetivos político-eleitorais e tentaram atrelar o deputado ao movimento.

Sua campanha tenta mostrar que segurança pública não é sua única pauta. Em um jingle em ritmo de funk, ele diz que é “um Sousa da quebrada”, fala em uma “Fortaleza mais justa”, em “olhar para todos” e mostra jovens da periferia dançando passinho, enquanto caminha em um beco estreito.

O candidato também tenta associar seu adversário e os aliados que o cercam à “velha política” e a casos de corrupção no estado. Em sua campanha, ele relata a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na ALEC e fala sobre uma gravação em que Sarto supostamente apareceria cobrando vantagem indevida a um diretor da extinta TV Manchete.

As pesquisas eleitorais mais recentes indicam vantagem para o candidato pedetista. Segundo levantamento feito pelo Ibope nos dias 21 e 22 de novembro, Sarto tem 60% das intenções de voto, ao passo que Capitão Wagner aparece com 40%.

MANAUS (AM)
População estimada: 2.219.580 habitantes
Eleitorado: 1.331.613 eleitores

Dois rostos conhecidos dos eleitores de Manaus disputam o direito de governar a quarta capital mais populosa do país pelos próximos quatro anos.

De um lado está o advogado e empresário Amazonino Mendes (Podemos), 81 anos, que já foi três vezes prefeito da cidade, senador e governador do estado por quatro mandatos. Diabético e cardíaco, o candidato evitou contato direto com a população durante sua campanha e não participou de debates, em função da pandemia do novo coronavírus.

Ele já havia deixado a política após o fim do mandato na prefeitura em 2012, com elevado índice de rejeição. Mas retornou ao jogo após a cassação de José Melo cinco anos depois, com um mandato-tampão marcado por conflitos políticos, e acabou derrotado por Wilson Lima (PSC) em 2018, em meio à onda dos outsiders.

Agora, o candidato reúne uma coligação de quatro partidos para tentar governar mais uma vez prefeitura de Manaus (Podemos, Cidadania, PSL e MDB). No primeiro turno, conquistou 234.088, o que corresponde a 23,91 % dos votos válidos, liderando a disputa.

Do outro lado, aparece David Almeida, 51 anos, deputado estadual por três mandatos consecutivos e presidente da Assembleia Legislativa em 2016. Ele foi governador interino após a cassação de José Melo, antes da eleição para mandato-tampão que consagrou seu adversário. Também participou do último pleito, terminando a disputa para governador na terceira posição.

Neste segundo turno, Almeida, que conta com sete siglas coligadas (Avante, DEM, PMB, PTC, PRTB, PV e Pros), recebeu o apoio dos candidatos Ricardo Nicolau (PSD), que obteve 118.289 votos (12,08 %), e Capitão Alberto Neto (Republicanos), escolhido por 76.576 eleitores (7,82%).

Pesquisa Ibope realizada entre os dias 19 e 21 de novembro mostra que David Almeida lidera a disputa, com 59% dos votos válidos. Amazonino Mendes aparece com 41%.

RECIFE (PE)
População estimada: 1.653.461 habitantes
Eleitorado: 1.157.324 eleitores

Na capital pernambucana, a disputa de segundo turno é travada entre os primos de segundo grau João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), herdeiros políticos do ex-governador Miguel Arraes e protagonistas de uma dura disputa familiar.

Aos 27 anos, o deputado federal João Campos é o candidato mais jovem à prefeitura de uma capital nestas eleições. Filho de Eduardo Campos – ex-governador, morto em um acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014 – foi o líder no primeiro turno, com 29,17% dos votos válidos, mas agora aparece tecnicamente empatado com sua adversária no segundo turno.

João Campos tem em seu pai o principal cabo-eleitoral. Ele foi eleito para o primeiro mandato na Câmara dos Deputados em 2018, com 460.387 votos ‒ candidato mais votado em Pernambuco, seguido por Marília Arraes (193.108 votos), que se preparava para disputar o governo estadual, mas acabou não conseguindo lançar candidatura, já que a direção nacional do PT decidir apoiar a reeleição de Paulo Câmara (PSB).

Agora, o herdeiro de Eduardo Campos enfrenta novos desafios em sua caminhada em direção ao Poder Executivo local. O primeiro deles é a pouca idade, apontada por críticos como sinal de inexperiência e indicativo de possíveis dificuldades para administrar ‒ o candidato se vende como “prefeito da nova geração” para a construção da “Recife 4.0”.

Outro obstáculo é o desgaste natural do próprio partido, que chega a oito anos à frente da prefeitura. Uma pesquisa feita pelo Ibope entre os dias 7 e 9 de novembro mostrou que 37% dos recifenses avaliam a gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB) como ruim ou péssima, ao passo que 23% consideram a administração ótima ou boa.

Já o governador Paulo Câmara conta com apenas 18% de avaliações positivas, contra 44% negativas. Um obstáculo importante para a manutenção do controle pessebista sobre a principal área de influência do partido.

Nos bastidores, João Campos foi habilidoso no uso da estrutura de seu partido e no diálogo com distintas lideranças políticas, rifando potenciais adversários da disputa e construindo uma coligação com 12 siglas: PSB, PDT, MDB, PSD, PP, Republicanos, Avante, Solidariedade, Rede Sustentabilidade, Pros, PV e PC do B.

Mas, ao contrário do que ocorreu nas últimas eleições, os pessebistas não conseguiram a retirada da candidatura de Marília Arraes (PT) ‒ justamente o nome que hoje ameaça a continuidade do controle do partido sobre o Palácio Capibaribe Antônio Farias.

Não que isso não tenha sido tentado. Mas, a despeito da vontade política de lideranças locais petistas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva bancou a candidatura própria de Marília Arraes.

A advogada de 36 anos, que iniciou sua trajetória política no PSB, está em seu primeiro mandato como deputada federal, mas já foi três vezes vereadora do Recife. Para esta eleição, ela construiu uma coligação com quatro partidos: PT, PSOL, PTC e PMB.

Embora enfrente resistências entre petistas, Marília Arraes já conquistou apoio de líderes de PTB e PL, que integraram a coligação de Mendonça Filho (DEM), e Podemos, que lançou candidatura própria no pleito ‒ Delegada Patrícia, que obteve 112.296 votos (14,06% dos votos válidos). Essas siglas veem neste pleito uma oportunidade de enfraquecer o PSB.

A disputa está muito apertada. Segundo o mais recente levantamento Datafolha, realizado entre os dias 24 e 25 de novembro, Marília Arraes aparece com 52% dos votos válidos, situação que configura empate técnico com João Campos, com 48%. No levantamento anterior, realizado na semana passada, a petista aparecia com vantagem de 10 pontos percentuais.

Independentemente do desfecho, o pleito no Recife é mais uma sinalização das dificuldades em tirar do papel a frente ampla idealizada por lideranças de esquerda para o plano nacional. A simples tentativa do PT de avançar em território estratégico do PSB prejudica conversas sobre uma aliança futura.

Dado o desempenho ruim das duas siglas no primeiro turno, a vitória na capital de Pernambuco ganhou ainda mais um caráter prioritário. A escalada de tensão na reta final da disputa e os ataques pessoais trocados pelos primos mostram que nenhum dos dois está para brincadeira.

Nos últimos dias, circulou a notícia de que Marília Arraes é investigada pelo Ministério Público por esquema de rachadinha por meio de funcionários fantasmas e de que parentes do chefe de gabinete da candidata teriam participado do esquema.

A candidata petista também tem sido alvo de campanha apócrifa, com panfletos associando seu nome a pautas como legalização das drogas, aborto, ideologia de gênero e perseguição de cristãos.

PORTO ALEGRE (RS)
População estimada: 1.488.252 habitantes
Eleitorado: 1.082.726 eleitores

A disputa pela prefeitura de Porto Alegre teve uma reviravolta poucos dias antes do primeiro turno, quando o ex-prefeito José Fortunati (PTB) abandonou a corrida após o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) impugnar a candidatura do vice de sua chapa, André Cechinni (Patriota), por irregularidades no registro.

Naquele momento, a ex-deputada Manuela d’Ávila (PC do B) liderava as pesquisas, e Fortunati aparecia em um triplo empate técnico com seu ex-vice Sebastião Melo (MDB) e o atual prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), em uma disputa pela outra vaga para o segundo turno.

Fortunati decidiu apoiar antecipadamente Melo, que disparou e encerrou o primeiro turno na dianteira, com 200.280 votos, o equivalente a 31,02% dos votos válidos. O candidato representa uma coalizão de sete partidos: MDB, DEM, Cidadania, Solidariedade, DC, PRTB e PTC.

No segundo turno, Melo conquistou o apoio do PP, que concorreu com o atual vice-prefeito Gustavo Paim; do PSD, de Valter Nagelstein; e do Republicanos, de João Derly. Juntos, eles receberam 47.026 votos, o equivalente a 7,28% dos votos válidos.

O prefeito Nelson Marquezan Júnior não apoia nenhuma das candidaturas neste segundo turno, mas o PSDB, a cinco dias da votação, decidiu endossar Sebastião Melo. O tucano conquistou 136.063 votos (21,08%) no primeiro turno e a migração da maioria do seu eleitorado para o emedebista já era vista como caminho natural na disputa.

Já Manuela d’Ávila, que encerrou o primeiro turno com 187.262 votos (29,01%), conseguiu compor um arco de alianças de esquerda para o segundo turno em sua terceira tentativa de governar a capital do Rio Grande do Sul.

Além do PT, que ocupa a vice de sua chapa com o ex-ministro Miguel Rossetto, Manuela recebeu o apoio do PDT, de Juliana Brizola, e do PSOL, de Fernanda Melchionna. As duas, juntas, somaram 69.401 votos, o equivalente a 10,75% dos votos válidos.

Os dois postulantes ao Poder Executivo local deixam claras suas diferenças de posicionamentos e propostas para temas centrais em discussão, como a gestão da pandemia do novo coronavírus. Enquanto Melo adota um discurso de garantia da abertura, Manuela defende ações integradas, que vão desde o acompanhamento minucioso dos casos e testagem em massa até o ingresso da prefeitura nas conversas sobre as vacinas em desenvolvimento.

Levantamento feito pelo Ibope entre os dias 22 e 24 de novembro mostra que Sebastião Melo tem 54% das intenções de voto, contra 46% de Manuela d’Ávila, no cenário que exclui os votos em branco, nulos e eleitores indecisos.

Apesar de a vantagem do emedebista, um fato novo elevou a temperatura da disputa na reta final. Na última quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra, João Alberto Freitas (homem negro de 40 anos) foi espancado e morto por seguranças que prestam serviço para uma unidade da rede de supermercados Carrefour em Porto Alegre.

O episódio gerou ampla comoção e uma onda de protestos país afora. Do ponto de vista político, ele deslocou a pauta do racismo para posição de maior destaque no debate eleitoral, sobretudo na capital do Rio Grande do Sul.

Neste contexto, declarações de figuras políticas que manifestaram apoio à candidatura de Sebastião Melo no segundo turno foram resgatadas pela campanha adversária e o emedebista passou a ser cobrado de uma posição de repúdio ‒ que até o momento não ocorreu.

O primeiro lembrado é o vice-presidente Hamilton Mourão, que negou a existência de racismo no Brasil e disse que “isso é uma coisa que querem importar” para cá. Seu partido, o PRTB, integra a coalizão encabeçada por Melo.

Outro citado é o ex-candidato Valter Nagelstein, que apoia o emedebista no segundo turno. Após o resultado do primeiro turno, ele se referiu a “cinco vereadores do PSOL” como “jovens, negros, com pouquíssima qualificação formal”, em áudio que circula em grupos de conversa na internet,

Além do desgaste que o episódio causa para a candidatura de Melo à prefeitura gaúcha, ele facilita uma associação entre o emedebista e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), embora o mandatário não manifeste apoio à sua candidatura.

Melo reagiu às exibições de peças publicitárias da campanha de Manuela indo à sede da Polícia Civil, para registrar boletim de ocorrência. Ele acusa a adversária de ter cometido crime eleitoral e contra a honra em suas inserções de propaganda política. A candidata, por sua vez, diz que o ex-vice-prefeito “tenta criar um fato eleitoral diante da incapacidade de dizer que discorda das declarações literais de seus aliados”.

Às vésperas do dia da votação, a disputa em Porto Alegre segue em aberto e cada vez mais tensa entre os candidatos.

Manuela deverá explorar a vulnerabilidade de apoios recebidos por seu adversário e a guinada ideológica pela qual ele passou ‒ no pleito de 2016, quando foi derrotado por Marchezan, Melo se dizia um homem com “identidade de esquerda” e contou, inclusive, com apoio do PC do B. Já Melo deve reforçar a pecha de radical de sua adversária e tentar nadar na onda do antipetismo.

BELÉM (PA)
População estimada: 1.499.641 habitantes
Eleitorado: 1.009.731 eleitores

Belém talvez seja a capital em que a dicotomia entre políticos profissionais e outsiders com discurso antipolítica se reproduz de maneira mais clara nestas eleições, lembrando a tônica dos debates no pleito de 2018.

De um lado, está Edmilson Rodrigues (PSOL), professor, com doutorado em geografia humana pela Universidade de São Paulo (USP), que já governou a cidade por dois mandatos, entre 1997 e 2004, e teve três mandatos como deputado estadual e dois de deputado estadual.

Ele conta com uma coalizão de seis partidos: PSOL, PT, PDT, PC do B, UP e Rede Sustentabilidade. No primeiro turno, conquistou 248.751 votos, o que corresponde a 34,28% dos votos válidos.

Do outro lado está o candidato Everaldo Eguchi (Patriotas), uma das surpresas destas eleições municipais. Delegado da Polícia Federal, ele foi candidato a deputado federal no último pleito, quando recebeu 52.393 e foi o 27º mais votado, mas acabou apenas na suplência.

Eguchi chegou a ser cogitado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para assumir a superintendência do Ibama no Pará, mas o vazamento de um áudio de WhatsApp no qual minimizava as ações do instituto acabou inviabilizando sua indicação.

O delegado conquistou 167.599 votos, ou 23,10% dos votos válidos, sem coligação e com uma campanha de forte ênfase no combate à corrupção e ao “toma lá dá cá”, deixando para trás o deputado José Priante (MDB) ‒ candidato apoiado pelo atual governador Helder Barbalho.

Para o segundo turno, Eguchi conta com o apoio explícito de Bolsonaro ‒ avaliado positivamente por 27% e rejeitado por 44%, segundo pesquisa Ibope feita entre os dias 18 e 20 de novembro. Entre os candidatos derrotados no primeiro turno, ele recebeu o endosso de Dr. Jerônimo (PMB), que recebeu 759 votos na disputa, o que equivale a 0,10% dos votos válidos.

Já Edmilson Rodrigues recebeu o apoio do Cidadania, que teve o deputado estadual Thiago Araújo como representante no primeiro turno ‒ a despeito da posição da sigla, o candidato adotou postura de neutralidade. Ele recebeu 58.827 votos, o que corresponde a 8,11% dos votos válidos.

O PV, que integrou a coligação de Thiago Araújo, manifestou apoio ao candidato do PSOL, assim como o PSTU, que participou da disputa com a candidatura de Cleber Rabelo e obteve 1.026 votos no primeiro turno ‒ 0,14% dos votos válidos.

Pesquisa Ibope feita entre os dias 18 e 20 de novembro mostra que Edmilson tem 52% dos votos válidos, contra 48% de Delegado Eguchi. O cenário configura empate técnico entre os candidatos.

Raio-X

O quadro a seguir mostra uma fotografia completa da disputa nas 18 capitais em que haverá segundo turno, segundo as mais recentes pesquisas divulgadas. Em todos os casos, foram considerados apenas os votos válidos (ou seja, votos em branco, nulos ou eleitores indecisos foram desconsiderados).


* Macapá (AP) teve o pleito adiado para os dias 6 e 10 de dezembro, em função das restrições no fornecimento de energia elétrica no estado, que duraram 22 dias.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.