Eleição de Zema em MG coroa campanha vencedora do Novo, mas impõe grande desafio ao partido

Primeira participação do Novo em eleições nacionais termina com conquista do segundo maior colégio eleitoral do país, 8 deputados federais, 11 estaduais e 1 distrital eleitos

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O empresário Romeu Zema (Novo) confirmou o favoritismo indicado nas pesquisas e foi eleito o novo governador de Minas Gerais, com 6.963.914 votos (71,80% dos válidos), derrotando o senador Antonio Anastasia (PSDB). O resultado coloca o Partido Novo pela primeira vez no comando de um governo, sendo de largada no estado com mais municípios e o segundo maior colégio eleitoral do Brasil.

Para quem acompanhou os primeiros passos da campanha (e até para o próprio candidato), o movimento foi surpreendente. Em cinco dias, o empresário saiu de 10% das intenções de voto nas pesquisas de primeiro turno para 42,73% dos votos válidos nas urnas em 7 de outubro. “Isso serve de alerta para esses mesmos políticos de sempre começarem a repensar como fazem política. Essa velha política, que sempre somente olhou para o interesse dos políticos e nunca representou a população adequadamente”, afirmou em entrevista ao InfoMoney na ocasião.

Agora, Zema terá a oportunidade de pôr em prática as ideias do Novo em Minas Gerais. “Ele terá uma dificuldade evidente das contas fiscais do estado. Vai limitar seu trabalho, será o grande teste do Novo. Eles vão concentrar recursos e testar a plataforma do Novo. Vai ser uma oportunidade para dar um salto evolutivo para o partido”, observou Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores em programa na IMTV.

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No mercado financeiro, há uma grande expectativa com a gestão do empresário. As apostas são por um governo que invista esforços em ganhos de eficiência, enxugamento da máquina estatal e saneamento das contas públicas. Há quem acredite também no avanço de uma agenda de privatizações, o que já provocou um forte salto das ações de Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3) na Bolsa — embora Zema já tenha dito que não tomará a iniciativa imediatamente. Só em outubro, os papéis das duas acumularam respectivas altas de 68% e 37%.

“Privatizar essas empresas (Cemig e Copasa) imediatamente não é prioridade, pelo valor de mercado delas, que não vai resolver o problema de contas do estado. Mas já quero deixá-las totalmente profissionalizadas, enxutas. Pela primeira vez, será presidente da Cemig e da Copasa quem está lá há 15 ou 20 anos, e não um deputado, como tem acontecido”, afirmou o candidato.

A dificuldade na implementação desta agenda também deve ter feito a ideia esfriar e o candidato buscar um tom mais moderado e de possível execução. “Para aprovar privatizações, [são necessários] 3/5 da Assembleia de Minas. Não é algo da noite para o dia. Agora ele foca na recuperação, para tirar das mãos dos deputados, o que precisa ser visto no horizonte de privatizações é a relação dele com a Assembleia, que segue com partidos tradicionais (PT, MDB e PSDB) em destaque”, disse Paulo Gama, analista político da XP Investimentos.

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“O novo com todo esse processo de campanha, discurso de política diferente… Funciona muito bem como vitrine, mas precisa ver como o discurso funciona na prática, sem desapontar o eleitor. Vai precisar descobrir o jeito do Novo de governar. Barreira para privatização é difícil de transpor, vale a pena mudar um pouco o foco mesmo”, complementou o especialista.

A eleição para o Novo

A conquista coroou campanhas bem-sucedidas em diversas outras disputas. A primeira participação do Novo em eleições nacionais conseguiu colocar o partido no mapa político brasileiro. Foram 20 deputados eleitos, sendo oito federais, 11 estaduais e um distrital.

Além disso, o fundador do Novo, João Amoêdo, chegou em quinto lugar na corrida presidencial, com cerca de 2,7 milhões de votos (2,5%) superando nomes mais conhecidos, como Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede) e Alvaro Dias (Podemos). O desempenho ficou longe da meta de alcançar 5% do eleitorado brasileiro, mas, para um partido com três anos de existência, é um número invejável entre muitos adversários.

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Com os resultados deste primeiro pleito, o Novo já poderá dar continuidade à defesa de bandeiras que acompanharam o nascimento da sigla, o que já era feito por vereadores eleitos em 2016. A observar os discursos recentes, na lista de prioridades estão a redução da burocracia e o fim das “mordomias e privilégios” dos políticos, além de um enxugamento da máquina pública. Os eleitores poderão acompanhar de perto a partir de janeiro.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.