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A eleição presidencial de 2026 caminha para um formato distinto das disputas anteriores. Para o cientista político e economista Mauricio Moura, fundador da IDEIA Big Data, o pleito já nasce estruturado como um referendo sobre o governo, e não como uma competição clássica entre projetos políticos. A avaliação foi apresentada nesta quarta-feira (26), em evento do UBS com empresários e clientes, em São Paulo.
Segundo Moura, a chave da disputa estará concentrada em uma única pergunta: Lula merece continuar? Esse tipo de enquadramento, comum em eleições de alta rejeição, coloca o incumbente no centro do julgamento público.

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“No cenário atual, o ‘não merece continuar’ aparece dois pontos percentuais à frente do ‘merece continuar’, tecnicamente empatados, mas com leve vantagem para o lado negativo”, afirmou o cientista político. Esse equilíbrio, segundo ele, já configura uma eleição estruturalmente favorável à oposição.
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O problema central para o presidente, aponta Moura, é a incapacidade de ampliar sua base desde 2022. Eleitores que votaram em Jair Bolsonaro no segundo turno continuam majoritariamente contrários ao governo.
“Lula não conseguiu adicionar sequer um ponto percentual desse grupo”, disse. Isso cria um teto rígido: a aprovação pode oscilar dentro da própria base, mas há pouco espaço para conversões no campo antipetista.
Ainda assim, o consultor lembrou que presidentes em busca da reeleição costumam melhorar sua imagem durante o ciclo eleitoral. “FHC, Lula, Dilma e o próprio Bolsonaro melhoraram a aprovação no ano em que tentaram renovar o mandato”, observou. Para Moura, Lula também pode ganhar algum fôlego ao longo de 2026, mas enfrenta circunstâncias menos favoráveis que seus antecessores.
O cientista político destacou ainda um elemento que torna o cenário mais travado: a saturação da figura de Lula no imaginário político nacional. Desde 1989, ele participou de quase todas as disputas presidenciais.
“Se Lula for ao segundo turno em 2026, terá participado de sete segundos turnos em dez possíveis. Nenhum outro líder democrático teve essa presença”, disse. Para ele, isso significa que os brasileiros já têm percepções consolidadas sobre o petista, dificultando viradas de última hora.
Com um ambiente polarizado e um presidente que desperta opiniões cristalizadas, Moura projeta uma eleição definida na margem do erro estatístico.
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“Essa é uma eleição superacirrada. Deve ser decidida por uma microinteração com 3% do eleitorado”, afirmou. Esse grupo, composto por cerca de 5 milhões de pessoas, é volátil, pouco ideológico e altamente sensível a fatores econômicos do dia a dia, como renda, trabalho e custo de vida.
Na prática, 2026 não será uma disputa entre Lula e um nome da oposição, mas uma votação sobre desempenho, fadiga política e expectativa de futuro — uma espécie de referendo sobre o petista.