Economist recomenda que Dilma olhe para Venezuela para não seguir uma “estrada escura”

Revista também aborda fala de Dilma de que estaria mais disposta a ouvir e mudar: "vamos torcer para que ela esteja sendo sincera", afirmou

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Em publicação que circulará neste final de semana, a revista britânica The Economist comentou novamente as eleições brasileiras, destacando os desafios de que a presidente reeleita terá que enfrentar e também “alfinetando” Dilma Rousseff.

A revista destaca que a sua performance no primeiro mandato não justificou a sua vitória e que, para o segundo mandato, ela terá que buscar o apoio de quem não votou nela. Além disso, afirmou que ela pode seguir por uma estrada escura mas que, se olhar para a Venezuela, isso poderá dissuadi-la de seguir tal curso. 

“Depois de uma campanha suja e divisionista, Dilma Rousseff ganhou um segundo mandato nas eleições presidenciais do Brasil em 26 de outubro por apenas três pontos percentuais contra Aécio Neves”, ressalta o jornal, destacando que esta é a margem mais estreita da história eleitoral do Brasil moderno.

Oferta Exclusiva para Novos Clientes

Jaqueta XP NFL

Garanta em 3 passos a sua jaqueta e vista a emoção do futebol americano

E,segundo a revista, para que o seu segundo mandato não seja uma decepção ainda maior do que os primeiros quatro anos de governo, Dilma precisa tomar cuidado não apenas com relação a seus partidários, mas também com aqueles que não votaram nela. “Eles [que não votaram nela] incluem a maior parte da classe média, que em 2013 foram às ruas em protestos de massa para exigir melhores serviços públicos e menos corrupção. Aécio venceu com facilidade em grande parte do Sudeste e Sul do Brasil”, afirma.

A The Economist ressalta que a vitória de Dilma Rousseff não era o que a publicação esperava após apoiar Aécio Neves, mas não é nenhuma grande surpresa. “O Brasil continua sendo um país de desigualdade escaldante, e os eleitores mais pobres são gratos ao PT por ter melhorado o padrão de vida e por ter aumentado a gama de oportunidades nos 12 anos de mandato (oito deles do governo Lula). As vantagens da incumbência, máquina formidável do PT e seu dinheiro e o relacionamento de Lula com o Povo contaram a favor de Dilma Rousseff”. 

Ninguém a não ser a si mesma para culpar
Segundo a revista, o desempenho de Dilma durante o seu primeiro mandato, no entanto, não justificou a sua vitória,uma vez que o legado que ela deixou a si mesma é conturbado, incluindo recessão, inflação acima da meta do Banco Central, as contas públicas ruins, aumento da dívida pública e um rebaixamento iminente na classificação de crédito do Brasil, bem como um déficit em conta corrente que, em 3,7 % do PIB, é o maior desde 2002 e é financiado em parte pela “hot money”, que pode perder forças com a vitória da petista. 

Assim, afirma a revista, a principal tarefa é aumentar a credibilidade, nomeando um ministro da Fazenda coerente e que não deixe que interfiram no seu trabalho, além de atrair investimento privado e tentar uma reforma tributária.

Além disso, deverá investigar as denúncias envolvendo a Petrobras. ” Dilma pode se beneficiar de tal movimento. Quando, no início de seu primeiro mandato, ela demitiu vários ministros acusados ??de corrupção, ela foi recompensada com aprovação popular generalizada”.

A Economist, por outro lado, diz que há um risco de que Dilma escolha uma estrada escura, uma vez que um grupo do PT gostaria de colocar freios na mídia de massa. “Anteriormente uma defensora da liberdade de expressão, Dilma oscilou neste quesito durante a campanha, e seu controle sobre o Estado brasileiro está aumentando”. E lembra que, no próximo ano Dilma terá que nomear os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

“O perigo é que o Brasil se transforma em uma sociedade microgerida em que os pratos estaduais favoreçam aos seus clientes e aliados”. Porém, a revista ressalta que um olhar sobre a Venezuela deveria dissuadir a presidente de perseguir tal curso. “Não seria apenas um desastre para o Brasil; ele também iria, muito provavelmente, enfraquecer sua própria posição. Seus aliados têm apenas uma estreita maioria no Congresso. A abordagem partidária tornaria mais difícil para que ela controle”.

“Que uma eleição tão amarga tenha ocorrido pacificamente é um crédito para o Brasil. Mas 16 anos governado por um partido é ruim para a saúde de qualquer democracia. Embora amplamente considerado como obstinada, Dilma Rousseff insiste que ela aprendeu a ouvir e mudar. Vamos torcer para que ela esteja sendo sincera”, conclui.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.