Economist rechaça tese de golpe contra Dilma e destaca legado do “impeachment divisivo”

Publicação britânica afirma que argumentos da defesa da ex-presidente não são suficientes para virar a mesa a favor de Dilma e destaca três lições do impeachment

Lara Rizério

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SÃO PAULO – “Será que a saída de Dilma Rousseff enfraquece ou fortalece a democracia no Brasil?” Este foi o questionamento feito pela revista britânica The Economist desta semana. A publicação britânica destaca que, assim como o pentacampeonato na Copa do Mundo e a maior floresta tropical do mundo, o Brasil acaba de adquirir outra distinção única: foi o único país a ter cassado dois presidentes em apenas 24 anos.

Mas, se em 1992 o impeachment de Fernando Collor foi quase universal, no caso de Dilma Rousseff o julgamento tem mais nuances, uma vez que a ex-presidente tem maior apoio popular, ressalta a revista. A publicação diz que, apesar das nuances, muitos dos argumentos contra a saída de Dilma do poder são mera propaganda e rechaça a tese de golpe de estado. “Não, o impeachment não foi golpe, por qualquer descrição. O processo foi realizado durante nove meses, em estrita conformidade com a Constituição e supervisionado pelo STF, cuja maior parte dos integrantes foi nomeada por Dilma ou por seu antecessor, Lula”, diz a revista.

A Economist também destaca os argumentos da defesa de Dilma, de que as acusações de pedaladas fiscais são questões menores e que não há nenhuma evidência de que a petista enriqueceu pessoalmente. Além disso, ressalta a tese da defesa da petista de que o processo foi aberto por conta de uma vingança do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Além disso, o substituto de Dilma, Temer, de 75 anos, incorpora a continuidade das políticas que precisam ser mudadas no País. 

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Contudo, a revista ressalta que isso não é suficiente para virar a “mesa da moral” a favor de Dilma, uma vez que muitos do agora “golpistas” (inclusive ministros) foram aliados de Dilma e do seu antecessor. Além disso, Dilma presidiu o conselho da Petrobras e depois governou o País quando floresceu a corrupção na companhia, investigada na Lava Jato. “Sua alegação de não saber de nada do esquema, nem que seu guru na campanha presidencial de 2014 [João Santana] foi pago com dinheiro de propina, cheira a negligência”, diz a publicação.

Por si só, o escândalo da Petrobras não a condena, diz a publicação, ressaltando que, quando Cunha abriu o processo de impeachment, a maioria dos analistas políticos esperava que não iria resultar na saída dela. De acordo com a revista, a tormenta subsequente contra a agora ex-presidente deve-se à sua própria incompetência e também à opinião pública, que ficou enfurecida também por sua gestão catastrófica da economia. Além disso, ela não conseguiu construir alianças no Congresso. “A crise de governabilidade em Brasília intoleravelmente prolongou a crise econômica, minando alguns dos progressos sociais da era Lula. Isso teria sido resolvido mais facilmente se Dilma renunciasse ou por meio de uma nova eleição. Mas ela se recusou a renunciar, e uma eleição antecipada é constitucionalmente difícil”, completa a revista. 

Assim, o Brasil oferece algumas lições. Uma delas é que Dilma pagou o preço pela sua irresponsabilidade fiscal, diz a revista, que alerta que isso é um aviso salutar para os políticos mais perdulários da América Latina. Em segundo lugar, os brasileiros querem que os governos prestem contas, afirmando que Temer vai perder toda a legitimidade se ceder à pressão de seus aliados para frear a investigação da Petrobras ou ajudar Cunha. A terceira lição é que, no Brasil, com a sua forte tradição parlamentar, nenhum presidente pode governar contra o Congresso. “Quando Dilma clama pelos seus 54 milhões de votos na eleição presidencial de 2014 como uma defesa, ela se esquece de que eles também foram para Temer, e que os senadores têm um mandato democrático igualmente válido. O Brasil, assim, ofereceu um tutorial em teoria constitucional para Nicolás Maduro, presidente ditatorial de Venezuela. O legado de um impeachment divisivo não é de todo ruim”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.