Economist: menos significativo do que Dilma e menos ressonante do que Lula, Cunha importa muito

"Eduardo Cunha pode ter ido embora, mas a sua sombra vai assombrar os parlamentares", afirma a revista britânica

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A revista britânica The Economist desta semana fala sobre a queda do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e da sua importância para a política nacional. A revista ressalta que, a pouco tempo atrás, o peemedebista parecia onipotente, mas a sua cabeça foi a mais “recente a rolar” como parte do escândalo de corrupção investigado na Operação Lava Jato.

A Economist lembra que a investigação afetou fortemente Dilma Rousseff, o PT e seus aliados (sendo um dos ex-aliados o PMDB, do presidente Michel Temer). A revista ainda lembra que, na última quarta-feira (14), o Ministério Público Federal denunciou o antecessor de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, no âmbito da Lava Jato. “Embora menos significativo do que a queda de Dilma Rousseff e de menor ressonância do que o caso de Lula, o destino de Cunha importa profundamente para a política”, aponta a publicação. 

Ao contrário de Dilma, que nunca foi pessoalmente acusada de ter recebido propina, Cunha já enfrenta julgamento por corrupção, diz a Economist, ressaltando os diversos crimes que o ex-parlamentar é acusado. Porém, os processos poderiam demorar anos para serem julgados no STF e, no curto prazo, apenas os seus colegas poderiam interromper o mandato de Cunha. 

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A revista ainda aponta que, oficialmente, ele estava sendo acusado na Câmara de ter mentido para os seus colegas sobre se tinha ou não contas na Suíça, o que acabou custando o seu cargo. Já “o pano de fundo político foi o desgosto popular em sua interminável busca pelo interesse próprio, sem medo das consequências. Muitos pensaram que ele aceitou o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, de modo a desviar a atenção dos seus próprios problemas legais”. 

Assim, para muitos brasileiros, ele sintetizou o sistema imperfeito do País e, em meio à pressão popular, o chamado “Centrão” (grupo que se uniu em torno da liderança de Cunha) e o próprio PMDB o abandonaram. Em fevereiro de 2015, quando ele foi eleito presidente da Câmara, esse resultado parecia pouco realista, diz a publicação, lembrando as comparações com o personagem de House of Cards Frank Underwood e quando até se falava de uma candidatura presidencial dele em 2018.

A revista ainda aponta que, agora, sem foro privilegiado e sem sua cadeira no Congresso, as denúncias contra ele vão para o juiz federal Sérgio Moro, que já está com o caso da esposa do peemedebista, Cláudia Cruz. “Um mandado de prisão para o casal, que nega as irregularidades, parece provável”, afirma. 

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As consequências da saída de Cunha também são reforçadas pela revista: em termos práticos, a saída de Cunha do Congresso é uma boa notícia para Temer, pelo menos por enquanto. Isso porque o Centrão deve causar menos dores de cabeça para o novo governo. Porém, o medo da prisão pode levar Cunha a tentar fazer uma delação premiada, o que pode ser um problema para um governo já impopular.

Segundo a publicação, em mais de um quarto de século na vida política, Cunha deve saber de “muita sujeira” de políticos de todas as matizes, talvez até do círculo íntimo de Temer.

O parlamentar nega rumores de que seus advogados estão negociando delação. Logo após sua cassação, ele se comprometeu ainda a escrever um livro de memórias contando a história do impeachment de Dilma Rousseff. “Ainda assim, mesmo uma possibilidade remota de uma delação de Cunha vai preocupar os parlamentares. Cunha pode ter ido embora, mas a sua sombra vai assombrá-los”, conclui a revista.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.