É impossível que nova fase da Lava Jato seja vingança a Lula e ao governo, diz delegado

A nomeação de Wellington César se deu em um momento em que a permanência de seu antecessor era avaliada como insustentável, após elevadas pressões de grupos interessados nos desdobramentos da Operação Lava Jato

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O discurso usado por algumas fontes governistas de que a nova fase da Operação Lava Jato (Aletheia) teria sido uma retaliação da Polícia Federal à decisão do governo de substituir o ministro da Justiça não tem fundamentos lógicos. Essa é a avaliação do delegado Edson Garutti, vice-diretor regional ADPF (Associação dos Delegados em São Paulo).

Em entrevista ao InfoMoney, Garutti defendeu que os delegados atuam nas investigações de forma técnica e que não haveria necessidade de “correr com uma medida” por conta da entrada do procurador Wellington César no lugar de José Eduardo Cardozo na pasta que comanda administrativamente a PF. O novo ministro teve sua nomeação suspensa pela juíza Solange Salgado, da 1ª vara da Justiça Federal de Brasília, por não ter sido exonerado do cargo de procurador de Justiça da Bahia, mas poderá ser nomeado novamente para a função.

Conforme lembra o delegado, os rumores sobre a saída de Cardozo da Justiça ganharam força apenas no final do domingo, enquanto as informações de que Wellington César assumiria a pasta viriam apenas no dia seguinte e foram confirmados na terça-feira. Levando em consideração que a equipe veio de Curitiba (PR), o prazo para correr com toda a parte burocrática ficaria ainda mais apertado e inviável. “Seria impossível conseguir mandato judicial, autorizações internas para efeitos policias, cumprir com toda a burocracia necessária. Não tem absolutamente nada a ver com a troca de ministro”, afirmou Garutti em conversa por telefone.

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A nomeação de Wellington César como ministro se deu em um momento em que a permanência de seu antecessor era avaliada como insustentável, após elevadas pressões de grupos interessados nos desdobramentos das investigações da Operação Lava Jato — caso do ex-presidente Lula, alvo da nova fase posta em prática nesta sexta-feira. Havia um grande desconforto com a incapacidade ou indisposição de Cardozo em interferir nos processos.

São dois os principais pontos que tiram o sono dos delegados com a nomeação do novo ministro: o primeiro seria o contexto em que ele se deu, quando o antecessor caiu por não agir como era esperado pelos agentes de pressão. “É uma troca de ministros com o pano de fundo de que o ministro anterior não controlou as investigações”, afirmou. O segundo quesito seria o fato de a pasta à qual a Polícia Federal está submetida administrativamente ser comandada por um integrante do Ministério Público.

“É a primeira vez que um integrante do MP é chamado para a função. O fato de ele ser oriundo dos quadros do MP estadual da Bahia é uma fonte de preocupação, mas secundária. Não cabe ao ministro controlar as investigações, mas fortalecer as instituições da pasta, que estão debaixo de seu guarda-chuva. Se o novo ministro é oriundo do MP, ele pode trazer consigo ranço mais corporativista ou não. Mas ele pode ser de outra ala que não é assim. Como não sabemos seus posicionamentos, ficamos com o pé atrás”, explicou o delegado.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.