E daí se o Levy cair? Veja quanto o mercado já “colocou no preço” a queda do ministro

Para onde vão as ações? Muda muito se as coisas continuarem na mesma toada? Qual cenário a atual dinâmica dos preços reflete com maior precisão?

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O mercado dormiu ontem e acordou nesta terça-feira (10) assistindo à volta de um filme já conhecido na Esplanada dos Ministérios: conforme noticiaram os jornais Valor Econômico e Folha de S. Paulo, a boataria de que a permanência de Joaquim Levy no comando do Ministério da Fazenda estaria mais ameaçada do que se imagina ganhou força novamente e agora exige dos atores do mercado financeiro uma memória de cálculo de difícil previsão. Dizem os rumores que a mudança de nome, acompanhada por novas guinadas na política econômica, poderia acontecer logo no começo do ano que vem – ou ainda neste ano, se as coisas de agravarem ainda mais. O prazo de validade de Levy a que muitos políticos se referem em Brasília pode estar chegando antes mesmo da estabilização da economia.

E se ele cair, para onde vão as ações? Muda muito se as coisas continuarem na mesma toada? Qual cenário a atual dinâmica dos preços reflete com maior precisão? Há racionalidade nos mercados em meio à tanta subjetividade e emoção? Em um ambiente de riscos desconhecidos e hipóteses infinitas, a aversão a riscos atinge patamares extremamente elevados e cobra prêmios proporcionais à coragem de quem se aventura a investir mesmo assim. Mesmo as especulações sobre um possível convite do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles não chegam perto de serem suficientes para acalmar o estado de agitação do mercado.

Para Luiz Felipe Seabra Mello, gestor de equities da Appia Capital, o Brasil vive hoje o pior cenário na ótica do investidor. Com tanta indefinição no ar, fica difícil fazer qualquer prognóstico minimamente confiável com perspectiva de médio prazo. “O pior contexto é o da dúvida. É uma leitura muito difícil. Traçar um cenário para três meses tem um componente de chute enorme. O cenário ainda é muito nebuloso”, avaliou. Muito além do próprio questionamento sobre as condições do ministro pró-mercado permanecer no cargo, o especialista lembra que o humor dos grandes players também é movido pelos nomes ventilados e quais seriam as condições de se implementar o ajuste fiscal que Levy ainda luta para tirar do papel.

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“Levy sozinho não consegue fazer nada. Esperava-se uma postura mais forte dele, mas seu lado é bastante complicado”, observa Mello. Ele lembra que o ministro enfrenta forte resistência no Legislativo para a aprovação de medidas tidas como necessárias pelo mercado. O ajuste fiscal é a aposta para a recuperação das contas do governo, fator essencial para a retomada da confiança dos mais diversos agentes econômicos. Para o gestor da Appia, embora o nome de um eventual substituto de Levy seja um indicador de extrema importância, é preciso estudar com atenção em que conjuntura a troca se daria. Na recente reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff abdicou de certo controle na Esplanada, delegando cargos a figuras do maior partido de sua base aliada – o PMDB -, e oferecendo maior espaço a aliados de Lula, seu antecessor e mentor político.

A indefinição é o pior dos cenários. Esse é o mantra para muitos analistas do mercado, que encontram dificuldades em precificar com precisão os ativos quando uma série de elementos vagos e quantitativos entram em cena. Para Mello, no entanto, existe um cenário caótico que não pode ser excluído das avaliações dos especialistas. Nele, figurariam maiores atrasos na complementação de medidas para o ajuste fiscal, cortes de rating, recessão mais grave, inflação descontrolada e confiança em níveis abissais. Neste caso, reforçando a tese inicial – compartilhada por boa parte dos atores do mercado -, um ministro só não faz verão.

“A culpa não é de Levy. As propostas não estão sendo aprovadas. O problema é a fraqueza política do governo”, critica André Póvoa, presidente e sócio da Canepa Asset Brasil. Na avaliação dele, o Brasil passa por uma situação frágil em que qualquer mudança de ministro pode não necessariamente trazer efeitos positivos, tendo em vista a perda de credibilidade da atual gestão frente o mercado. Ao contrário de Mello, o presidente da Canepa acredita que o pior dos cenários não está precificado nos ativos. “O downside seria [o anúncio de] um nome heterodoxo. Isso não está nos preços. Está precificado o Levy ortodoxo não conseguindo aprovar nada na Câmara, mas impedindo a heterodoxia”, argumentou. Póvoa ainda lembra a importância da presença de Levy ou alguém que ocupe o mesmo espaço ideológico no comando da Fazenda, sob a ótica do mercado: “Levy serve de escudo para medidas heterodoxas”. As expectativas são de que poucas mudanças aconteçam com uma eventual entrada de Meirelles na liderança da política econômica, considerando-se o artificial cenário de que outras variáveis permaneçam estáveis.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.