É alto o risco de Moro deixar o governo antes de 2022, projetam analistas

Levantamento não leva em conta os motivos ─ que vão de eleições a uma possível ida ao STF ─, mas indica difícil permanência até o fim do mandato

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (Foto: Antonio Cruz/ Ag. Brasil)

SÃO PAULO – O recuo do presidente Jair Bolsonaro quanto ao fatiamento do Ministério da Justiça e recriação de uma pasta separada para a Segurança Pública amenizou um novo atrito velado com o ministro Sérgio Moro. O movimento, contudo, não foi suficiente para dissipar especulações sobre o futuro do ex-juiz da operação Lava-Jato no governo.

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É o que indica a 12ª edição do Barômetro do Poder, iniciativa do InfoMoney que compila mensalmente as expectativas das principais casas de análise de risco político e analistas independentes em atividade no Brasil sobre alguns dos principais assuntos da cena política nacional. Acesse a íntegra do levantamento, clicando aqui.

Segundo o levantamento, realizado entre os dias 27 e 29 de janeiro, 71% dos analistas consultados veem como altas ou muito altas as chances de Moro deixar o governo antes de 2022. Outros 29% atribuem probabilidade média de isso acontecer. Em uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a média das projeções ficou em 3,93.

O estudo não leva em conta motivos para uma eventual saída do ministro mais popular do governo, que poderiam ir desde a indicação para uma vaga no Supremo Tribunal Federal até uma possível candidatura na próxima disputa eleitoral.

Até o fim de seu mandato, Bolsonaro fará ao menos duas indicações para o STF: uma em novembro deste ano, para a vaga do decano Celso de Melo, e outra em 2021, para o lugar do ministro Marco Aurélio Mello.

Em entrevista recente ao programa “Pânico”, da rádio Jovem Pan, Moro deixou a porta aberta. “Acho que é uma perspectiva que pode ser interessante e natural na minha carreira. Eu venho da magistratura, né? Mas a escolha evidentemente cabe ao presidente”, disse na ocasião.

“Há outros nomes e acho que o presidente só vai fazer essa escolha no momento apropriado. Mas dizer, assim, que eu não gostaria? Claro (que gostaria)”, completou o ministro na entrevista concedida na segunda-feira (27).

“Sérgio Moro fará enorme pressão para ser o substituto de Celso de Mello em novembro”, aposta um dos analistas consultados pelo Barômetro do Poder. Conforme combinado com os colaboradores, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e comentários.

Participaram desta edição 10 consultorias de risco político: BMJ Consultores, Control Risks, Eurasia Group, MCM Consultores, Medley Global Advisors, Patri Políticas Públicas, Prospectiva Consultoria, Pulso Público, Tendências Consultoria e XP Política. E 4 analistas independentes: Antonio Lavareda (Ipespe); os professores Carlos Melo (Insper) e Cláudio Couto (EAESP/FGV) e o jornalista e consultor político Thomas Traumann.

Ministro popular

Segundo pesquisa Datafolha, Moro é a personalidade pública em que os brasileiros mais confiam, entre 12 figuras políticas testadas. O levantamento, divulgado em 6 de janeiro, mostra que, em uma escala de zero a dez, 33% deram nota entre 9 e 10 para o nível de confiança no ministro, enquanto 23% atribuíram nota de 6 a 8 (médio). Já Bolsonaro, teve 22% em cada faixa.

Indicação similar apareceu pesquisa XP/Ipespe de dezembro, De acordo com o levantamento, em uma escala de 0 a 10, o ministro obteve nota 6,2, contra 5,4 de Bolsonaro. O ex-juiz da Lava-Jato foi avaliado positivamente por 53% dos eleitores ─ 3 pontos percentuais a mais que o presidente.

Os elevados índices de aprovação de Moro fazem com que ele seja frequentemente cotado para disputar eleições presidenciais, embora o ministro não seja filiado a nenhum partido político e por enquanto negue a possibilidade.

“Toda hora me perguntam isso. Daqui a pouco, vou ter que tatuar na testa. Em 2022, o presidente já apontou no sentido de que ele pretende a reeleição. É uma decisão dele, unicamente. E, claro, sou ministro do governo, vou apoiar o presidente Jair Bolsonaro”, disse o ministro na entrevista ao programa “Pânico”.

Apesar das negativas, a popularidade do ministro tem consequências. “O ex-juiz Sérgio Moro está na pista para 2022. Se vai decolar ou não é outra história. O presidente Jair Bolsonaro está ciente disso e se incomoda com essa possibilidade”, observou Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores, em relatório a clientes.

Na semana passada, Bolsonaro ameaçou acatar pedido feito por secretários estaduais de segurança pública e separar a área do Ministério da Justiça ─ o que diminuiria o poder de Moro no governo. O presidente, no entanto, recuou da possibilidade e disse que a chance de isso acontecer hoje era “zero”.

Desde que pendurou a toga e embarcou na política, Moro protagonizou uma série de embates com o presidente – embora publicamente fale em respeito à “cadeia de comando” e ambos neguem qualquer atrito.

Uma de suas derrotas mais recentes foi a sanção da implementação do juiz de garantias por Bolsonaro – medida que acabou suspensa pelo Supremo Tribunal Federal. Embora o ministro pedisse o veto ao trecho que previa tal alteração no pacote anticrime, o presidente optou por não atender a demanda.

No percurso, o ministro também foi obrigado a recuar do convite à cientista política Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé, para integrar o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária; não pôde participar da formulação de decreto que flexibilizava o porte de armas (posteriormente derrubado pelo Congresso); perdeu o controle do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras; e viu seu pacote anticrime sofrer atrasos e modificações sem defesa enfática do governo.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.