Doria e Leite trocam farpas sobre apoio de bancada tucana a Bolsonaro e viabilidade eleitoral em debate pelas prévias do PSDB

Gaúcho é cobrado por apoio de deputados à PEC dos Precatórios e rebate com pedido de reflexão sobre rejeição do eleitorado ao paulista

Marcos Mortari

O ex-prefeito de Manaus (AM) Arthur Virgílio e os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP), pré-candidatos à presidência pelo PSDB (Montagem: Leonardo Albertino/InfoMoney)

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SÃO PAULO – Os três pré-candidatos do PSDB à Presidência da República em 2022 – Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus (AM), e os governadores Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e João Doria, de São Paulo – voltaram a se encontrar, nesta sexta-feira (12), para mais um debate pelas prévias tucanas. O evento desta vez foi promovido pelo jornal O Estado de S.Paulo.

Assim como no primeiro debate, realizado há pouco mais de um mês pelo grupo Globo, o apoio de parcela expressiva da bancada tucana na Câmara dos Deputados a pautas de interesse do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi um dos temas de maior tensão entre os pré-candidatos. Mas, desta vez, o tom foi menos cordial e os ataques entre os candidatos foram mais abertos.

Doria e Virgílio cobraram de Leite pelo apoio dado pelos deputados Daniel Trzeciak (PSDB-RS) e Lucas Redecker (PSDB-RS) – os dois que compõem a bancada gaúcha da sigla na casa legislativa – à PEC dos Precatórios, que abre espaço fiscal de mais de R$ 90 bilhões no Orçamento de 2022 com a limitação do pagamento de dívidas da União e uma revisão na metodologia do teto de gastos. Dos 32 deputados federais do partido, 21 votaram favoravelmente à matéria em segundo turno.

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“Os sete deputados do PSDB de São Paulo votaram contra [a PEC dos Precatórios]. Votaram a favor do povo brasileiro e contra essa prática execrável proposta pelo governo Bolsonaro. Os sete parlamentares de São Paulo orgulham São Paulo e orgulham o PSDB, já que nosso partido, por decisão da sua Executiva é um partido de oposição, não um partido de adulação, e os sete parlamentares de São Paulo fizeram o voto correto”, disse Doria.

“Não faz o menor sentido o partido que criou a Lei de Responsabilidade Fiscal, com Fernando Henrique Cardoso, agora ter posições dúbias ou posições para apoiar o rompimento do teto e o rompimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Pela mesma razão, Dilma Rousseff teve seu impeachment declarado pelo próprio Congresso”, continuou.

Na réplica, Leite destacou sua posição em defesa da responsabilidade fiscal – agenda cara aos tucanos – e chamou atenção para um projeto de lei encaminhado à assembleia legislativa do estado instituindo um teto de gastos e as reformas econômicas conduzidas por sua gestão ao longo dos últimos anos.

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“Nossa responsabilidade com as contas é conhecida. Nós viramos o jogo de um estado que estava sem capacidade de pagar as contas e que, hoje, além de pagar as contas, faz os maiores investimentos dos últimos tempos. Mas, João, queria saber: há outros deputados que te apoiam na nossa bancada e que votaram a favor da proposta. Você os considera irresponsáveis e inconsequentes?”, indagou.

“Os três parlamentares do PSDB que você comanda no Rio Grande do Sul votaram com o governo Bolsonaro – aliás, vêm fazendo isso há vários meses, não é de agora, não é apenas nessa medida. E os três parlamentares que coordenam sua campanha, respectivamente Aécio Neves (MG), Paulo Abi-Ackel (MG) e Rodrigo de Castro (MG) não só votaram a favor do governo de Jair Bolsonaro, como Rodrigo de Castro orientou os parlamentares para que votassem a favor do governo, a favor dessa execrável medida de ruptura do teto de gastos. Portanto, eu respondo pelo estado de São Paulo e você responde pelo Rio Grande do Sul”, respondeu o paulista.

O gaúcho, por sua vez, disse que não “comanda” a bancada federal do partido, que seu trabalho é de convencimento dos parlamentares e que sua liderança é exercida “para dentro do Rio Grande do Sul”. “O João acabou de falar sobre os deputados que ele comanda. Isso deixa clara a diferença do nosso tipo de atuação. Eu não comando deputados, eu busco convencer com argumentos, e sempre convenci a fazer as coisas certas e do jeito certo”, retrucou.

Em outro momento, Virgílio também questionou Leite sobre a posição dos dois deputados gaúchos. “Eu ouvi sua discussão com João Doria e não fiquei convencido, porque você é um líder, se você lidera a bancada estadual, você tem que liderar a bancada federal também. Não convenceu. O que cabe mais agora é uma autocrítica. Não deixem que preguem na face a fama de bolsonarista. Isso não é justo e não é digno de você, nem de seus companheiros e nem de seu partido”, afirmou.

Viabilidade eleitoral

Durante o debate, Leite também chamou atenção para a rejeição do eleitorado ao governador paulista. Pesquisa PoderData, publicada no fim de outubro, mostrou que 59% dos entrevistados disseram que não votariam em Doria de jeito nenhum. No caso de Leite, eram 54%.

“O que temos que discutir aqui é o estilo de cada um e a viabilidade eleitoral. Por exemplo, lá em Manaus, você (Arthur Virgílio) não conseguiu eleger seu sucessor como prefeito. Eu elegi na prefeitura de Pelotas a minha sucessora. O João perdeu na prefeitura de São Paulo, onde governou, na eleição para governador. Eu ganhei a eleição com 90% na cidade de Pelotas. Essa capacidade eleitoral que o PSDB tem que perceber nas candidaturas que estão aqui, quem consegue se comunicar com a população e ganhar eleições”, argumentou.

“Sua pontuação de derrota é diferente da minha”, rebateu Doria. “Eu estou aqui como governador eleito do estado de São Paulo, independentemente do número que você observou, e principalmente porque nós gostamos do diálogo, o diálogo construtivo. Eu não fujo do diálogo, eu não quero ser palatável, eu quero ser confiável. Eu quero lutar pelo meu país, eu quero lutar pelo PSDB, quero lutar pelas pessoas. Eu não quero ser conveniente. A conveniência gerou isso que estamos vendo aí: Bolsonaro e aqueles que fazem a má política em defesa do interesse pessoal, do interesse eleitoral, interesses espúrios. É a defesa da cloroquina, e não da vacina. Eu estava lá no front defendendo a vacina, estava lá em Dubai, como estava também na China buscando a vacina, a mesma que foi aplicada em milhões de pessoas no seu estado do Rio Grande do Sul, aqui, no Nordeste, no Norte, em todo o país”.

A troca de farpas entre os candidatos continuou: “João, é isso que está acontecendo. Eu não estou discutindo se é justa ou injusta esta rejeição, mas ela é um fato, e ela dificulta para o PSDB se comunicar com a população em uma eleição que já tem dois polos extremos e que a gente tem que apresentar uma alternativa de sensatez e de razoabilidade”, insistiu Leite.

“Eu sei que você tem razões para estar tenso e até um pouco nervoso. E compreendo isso. Mas aqui nós ganhamos a eleição com Bruno Covas, de grata memória. Ele venceu a eleição aqui, ele foi o sucessor na prefeitura de São Paulo. Se tivéssemos sido mal avaliados, o Bruno não teria sido eleito prefeito da cidade de São Paulo, eu não teria sido eleito governador do estado de São Paulo. A sua contabilidade no estado do Rio Grande do Sul é um pouco diferente da contabilidade do estado de São Paulo. Em três anos, eu venci duas eleições, com Bruno Covas, e agora com Rodrigo Garcia, e continuaremos a vencer”, rebateu Doria.

A batalha entre Doria e Leite ocorre em múltiplas frentes. Duas semanas atrás, a Executiva Nacional do PSDB suspendeu a participação de 92 prefeitos e vice-prefeitos por suposta fraude de filiação por parte do diretório de São Paulo. A acusação foi feita por aliados do governador gaúcho, que alegaram que houve uma manobra nos registros de datas para tornar o grupo apto a votar nas prévias.

No debate desta sexta-feira (12), Leite acusou Doria de constranger prefeitos e vereadores do partido em São Paulo a votarem no paulista nas prévias, inclusive usando os convênios do governo com as prefeituras como moeda de troca. O gaúcho também mencionou a demissão do secretário de habitação da capital paulista, Orlando Faria, que declarou voto nele, e supostas suspensões da filiação de vereadores do interior do estado que não votariam em Doria.

“Eu sei que você está nervoso, que você está tenso, mas, sobre a prefeitura de São Paulo, depois eu te passo o telefone do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e você liga para ele e pergunta. Ele é o prefeito da cidade de São Paulo, eu sou o governador do estado de São Paulo. Prefiro falar de programas para o Brasil”, respondeu o paulista.

“Se tem alguma tensão minha aqui, pode ter certeza [que] é a tensão de ver o meu partido, que há 20 anos estou filiado, sendo eventualmente alvo de constrangimentos para votação em umas prévias. Isso realmente me deixa tenso, nervoso e preocupado com o PSDB que eu represento e me forjou. Nós nos filiamos há 20 anos, coincidentemente, ao PSDB, mas eu só soube que você era filiado quando você veio concorrer. E eu estava lá na militância, ajudando nosso partido a se formar e não aceito que haja qualquer tipo de constrangimento para votação nessas prévias”, afirmou Leite.

Em meio às sucessivas trocas de acusações entre os dois candidatos, Virgílio pediu um debate mais amplo: “Mas não vamos falar de prefeitura. Eu queria pedir a vocês, se vocês pudessem nacionalizar o debate e não ficar nessa história de Rio Grande do Sul e São Paulo. Vamos falar do Brasil”. O apelo não surtiu efeito e a discussão nacional prevaleceu em apenas dois blocos de perguntas direcionadas aos três candidatos.

As prévias tucanas estão marcadas para 21 de novembro e podem ir a segundo turno (em 28 de novembro) entre os dois candidatos mais votados caso nenhum deles supere os 50% dos votos. Na votação, o eleitorado é dividido em quatro grupos, cada um com peso unitário de 25% do total de votos válidos. São eles:

I) Filiados ao partido;

II) Prefeitos e vice-prefeitos;

III) Vereadores, deputados estaduais e distritais;

IV) Governadores, vice-governadores, senadores, deputados federais, ex-presidentes e o atual presidente da Comissão Executiva Nacional do partido.

No caso dos grupos I, II e IV, os votos atribuídos a cada candidato são divididos pelo número total de eleitores de cada, e os resultados são multiplicados por 0,25.

Já o grupo III é dividido em dois subgrupos, com igual peso. Neste caso, os votos atribuídos a cada candidato são divididos ao total de eleitores de cada subdivisão e posteriormente multiplicados por 0,125. Ao final, é feita a soma das duas categorias.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.