Dois meses, 60% de alta: Petrobras não para de subir mesmo cheia de problemas

Mesmo em meio a tantos problemas de dívida, produção e preços congelados, companhia viu suas ações dispararem em meio ao rali eleitoral iniciado em março

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Quem ficou longe da bolsa brasileira nos últimos dois meses deve ter se assustado quando viu a diferença de preços das ações da Petrobras (PETR3PETR4) de lá pra cá. Em 17 de março, os papéis ordinários e preferenciais da estatal estavam valendo R$ 11,61 e R$ 11,81, respectivamente; nesta quarta-feira, 7 de maio, PETR3 e PETR4 fecharam a  17,40 e R$ 18,58.

Com isso, as ações ON e PN tiveram valorizações 49,78% e 57,92% neste período, estando atualmente nos seus maiores patamares desde o final de novembro de 2013 – ou seja, antes da forte queda após a divulgação da nebulosa metodologia de reajuste dos preços da companhia. Em valor de mercado, a valorização da estatal chegou a surpreendentes R$ 81 bilhões.

Em novembro passado, a mudança na metodologia foi acompanhada como uma oportunidade para que a empresa mudasse a percepção dos investidores. Contudo, a proposta que seria encaminhada para o conselho de administração da Petrobras ficou pelo caminho – boa parte atribuído à resistência de membros do conselho, que fazem parte do governo – e, mesmo com um anúncio de aumento de preços, diversas casas de análise revisaram para baixo as estimativas para a companhia, ainda mais por não ter havido sinalização de mudanças em termos de governança corporativa, já que não foi revelada a “fórmula” para os reajustes.

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Por mais que a fórmula não tenha sido revelada, muito se debate sobre o uso da petrolífera para conter a inflação no País ao manter os preços administrados, o que afeta o balanço da estatal. Isso porque a Petrobras precisa importar petróleo para atender a demanda interna e, como o preço para trazer a commodity pra cá é maior do que o praticado no Brasil, ela acumula prejuízo.

Seguiram-se a este movimento os resultados fracos apresentados pela companhia desde então, a alta alavancagem levando os níveis de endividamento acima dos considerados aceitáveis até pela própria companhia, que tem buscado realizar diversos desinvestimentos e programas de melhora da eficiência. Enquanto isso, a produção de petróleo patina, apesar das boas perspectivas,o que confirmou o cenário negativo, levando a uma conjunção de fatores que fez os papéis caírem cerca de 34% entre o começo de dezembro e meados de março. 

Rali eleitoral: o grande motivador
Mas afinal, algo mudou para a empresa? Na prática, pouco parece ter mudado. Na verdade, o cenário até parece pior, em meio às diversas polêmicas com relação a negócios mau feitos que estão vindo à tona, estimulam investigações e mancham a reputação da companhia. Além disso, a metodologia de reajuste de preços de combustíveis ainda parece bastante obscura, o que foi considerado uma decepção pelo mercado. Com as eleições se aproximando, um novo reajuste parece estar cada vez mais distante. 

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Porém, o fator que leva justamente a essa forte alta é o forte rali eleitoral. Desde o fechamento de 17 de março até hoje, a forte alta das ações da companhia são movidas pelas pesquisas eleitorais, desde rumores até a divulgação de que, de fato, Dilma Rousseff estava perdendo espaço na preferência dos eleitores.

A primeira pesquisa a ganhar destaque foi a do Ibope. Porém, após dois dias de fortes ganhos, a pesquisa não cumpriu as expectativas e mostrou que a atual presidente seria reeleita ainda no primeiro turno. Mesmo assim, as ações continuaram em alta. 

Porém, ainda em março, outra pesquisa do mesmo instituto mostrou que a popularidade de Dilma caiu, e mesmo sem indicar intenções de voto, voltou a animar o mercado, levando as estatais a dispararem mais uma vez. No início de abril, a pesquisa Datafolha mostrou uma queda de 6 pontos percentuais nas intenções de voto de Dilma, que caiu de 44% para 38%. 

Em seguida, saíram novas pesquisas Ibope e Vox Populi, CNT/MDA e Istoé/Sensus. Esta última foi a primeira a apontar um segundo turno entre Dilma Rousseff e o candidato do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), Aécio Neves. Antes mesmo de sair, no último sábado, a pesquisa já havia movimentado o mercado em meio a rumores de que o candidato a oposição teria uma disparada nas pesquisas. Somente na última sexta-feira (2), as ações PETR3 registraram ganhos de 3,77% e PETR4, ganhos de 6,22%.

E alta continuou nesta semana, logo após a divulgação de pesquisa eleitoral no Ceará na última terça-feira apontar para queda das intenções de voto na atual presidente, de 66% em abril para 58% em maio. Apesar de Dilma continuar vencendo de longe os seus adversários, a queda é bastante expressiva. 

Com isso, as quedas do ano se dissiparam e as ações registram expressivos ganhos. Os papéis ON têm ganhos de 13% em 2014 e de 16,6% para os ativos PN. Agora, o mercado aguarda pelos números do Datafolha, a serem revelados ainda esta semana. 

A queda de Dilma Rousseff leva a uma alta das ações da Petrobras uma vez que os investidores estão mostrando que querem uma mudança no governo. O mercado vê negativamente as intervenções do atual governo em alguns setores da economia e que se reflete principalmente na estatal. Assim, quanto menor a chance da reeleição de Dilma, mais animado o mercado parece ficar.

Porém, há opiniões divergentes. O Deutsche Bank destacou em relatório acreditar que a presidente Dilma será reeleita e avaliou os riscos de um eventual segundo mandato. Para o estrategista Hongtao Jiang, não haverá mudança na política econômica do país em um segundo mandato da presidente e destaca que as eleições de outubro devem servir apenas como um fator de restrição, o que limita o escopo de mudanças mais significativas do governo na política econômica.

Dólar também influencia
Vale ressaltar que também há outro fator que impulsiona as ações da companhia: a tendência de queda do dólar, que acumula perdas de mais de 5% no ano. A estatal se beneficia com a baixa da moeda estrangeira, uma vez que ela é importadora de combustíveis para revendê-los no mercado nacional, com um desconto em relação aos preços internacionais, além de possuir boa parte de sua dívida em dólar. 

Será que este cenário de maior otimismo com relação à companhia deve continuar? Por enquanto, as ações registram fortes ganhos, mas grandes surpresas sempre costumam permear os caminhos da Petrobras na Bolsa. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.