Discurso sem “diálogo” e bronca em Barbosa: a Dilma 2.0 já assustou o mercado?

Primeiras sessões de 2014 foram de expressiva baixa para o Ibovespa; além de fatores externos, mercado aguarda medidas de ajustes - e repercute negativamente os sinais contrários

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Os primeiros dias de 2015 foram um pouco confusos em termos de sinalizações econômicas. Porém, não foram nada surpreendentes. Em meio ao dilema sobre corte de gastos para promoção do ajuste fiscal e a manutenção dos programas sociais, algumas indicações são de que haverá um maior aperto monetário e fiscal. Por outro lado, o governo volta atrás em algumas falas sobre ajustes, principalmente quando estas são as indicações de que eles podem afetar a população.

Mas o cenário que se apontava não era muito diferente, com a necessidade do governo em promover ajustes fiscais, mas ainda com bastante questões do primeiro governo Dilma, como a expansão fiscal e monetária, que não deve ser tão facilmente revertida em tempos de PIB baixo como os atuais. 

Porém, algumas sinalizações que Dilma fez já se dissiparam no início deste segundo mandato. Logo quando ela foi eleita, sinalizou que iria promover diálogo até com os derrotados na eleição presidencial, dentre eles Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). Porém, a palavra diálogo não foi usada durante a posse da presidente, em 1º de janeiro. Soma-se a isso o cenário cada vez mais complicado para Dilma Rousseff frente até as suas relações no Congresso. Analistas destacam que a presidente assume o novo mandato com uma base menor na Câmara e, além disso, com deputados “menos fiéis”, o que mostra um ambiente mais difícil até mesmo em sua relação com os aliados. 

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E, no dia seguinte à posse da presidente, o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que que o governo criará uma nova regra para o reajuste do salário mínimo para valer a partir de 2016.

Porém, no dia seguinte, o ministro esclareceu que salário mínimo continuará, nos próximos anos, a ser reajustado pela mesma regra vigente. Ele foi pressionado por Dilma para voltar atrás, o que não foi bem visto pelo mercado.  Desta forma, o mercado financeiro tem um movimento de cautela, seguindo com um “pé atrás”. 

“O comportamento do mercado financeiro, ontem, deixou evidente que aquele discreto otimismo insinuado a partir da indicação dos novos membros da equipe econômica para o segundo mandato da presidente Dilma evidencia arrefecimento sinalizando curtíssima duração”, afirma o economista e diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme.

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Segundo o diretor-executivo da NGO, o discurso de posse de Dilma e a necessidade de Barbosa ter que retirar o que havia afirmado sobre o salário mínimo, deixam os primeiros sinais marcantes de que houve excesso de expectativas favoráveis sobre o que a nova equipe poderia mudar na política monetária e fiscal para efetivamente recompor o país para a superação do drástico quadro macroeconômico presente. Além disso, a herança de última hora deixada pelo secretário do Tesouro Arno Augustin, que foi substituído por Marcelo Saintive, torna ainda mais difícil a já desafiadora missão dos novos gestores da economia, ressalta o economista.

Ajustar ou não ajustar, isso é uma questão?
Os analistas de mercado avaliam que haverá ajustes e é pelo menos isso o que aponta a nova equipe econômica. Contudo, o que se contesta é o grau de autonomia dos ministros e por quanto tempo isso irá durar, dado os desafios que se colocam à frente. E, com isso, a “bronca” que Dilma deu em Barbosa sobre a questão do salário mínimo acabou se revelando como negativa para a credibilidade de um ajuste a ser realizado pelo governo.

Com efeito, apesar da indicação de Joaquim Levy para a Fazenda e das sinalizações de ajuste nas políticas fiscal e monetária, persiste a desconfiança dos mercados em relação à capacidade do governo reeleito de adotar medidas capazes de evitar o rebaixamento de nosso rating”, afirma a LCA Consultores. E, com isso, além de pressionar a cotação cambial, aumenta a desconfiança na manutenção do grau de investimento. 

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As incertezas em relação ao raio de manobra da nova equipe econômica para promover os ajustes necessários para, ao menos, tentar evitar o rebaixamento de rating recrudesceram nas últimas semanas, afirmam os economistas da consultoria.

Em primeiro lugar, destaca a LCA, porque o governo vem enfrentando dificuldades para aprovar matérias no Congresso, em função da maior fragmentação partidária, da complicada distribuição de cargos para os partidos da base aliada e dos desdobramentos da Operação Lava Jato (com a Petrobras sendo fortemente afetada) – que ameaçam enfraquecer ainda mais os principais partidos de apoio ao governo Dilma. Depois, porque o governo vem dando sinalizações mistas em relação às medidas que serão adotadas nas searas fiscal, parafiscal e monetária.

Conforme ressalta o diretor da NGO, a probabilidade é de que o ajuste ocorra a partir de elevado número de aumentos de preços, principalmente administrados, e no mais tudo seguindo como era dantes num cenário preocupante de crescimento baixo, inflação alta, baixa poupança e investimentos internos e externos em retração.

Os programas sociais do governo podem ser altamente comprometidos, não por suas extinções, mas pela própria erosão do poder aquisitivo dos seus valores a partir da inflação, não a medida pelo IPCA , mas aquela objetiva que se verifica no consumo dos bens essenciais a partir dos supermercados.

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O Brasil, que já é contextualmente considerado pelo mercado internacional um país frágil poderá ter agravada esta percepção e perder fluxos de recursos externos de forma mais intensa que prevista , seja na forma de investimentos rentistas, seja na forma de investimentos em conta de capital”, avalia o diretor da NGO. 

Enquanto isso, ressalta Nehme, o mercado internacional emite maus ventos aos emergentes, em meio à queda do preço do petróleo e o embate entre a Alemanha e os parceiros sobre a saída da Grécia da zona do euro (apesar de não haver declarações oficiais sobre isso). A LCA também ressalta ainda que, com a Europa ameaçada por riscos de natureza política, a desaceleração da economia chinesa atuam negativamente, com a economia brasileira sendo uma das que sente intensamente o efeito dessa desaceleração. 

“Ademais, a persistência de elementos internos de incerteza continua a pesar sobre o desempenho de nossos ativos e sobre as expectativas de crescimento da atividade doméstica para 2015. Com efeito, a deterioração das contas externas e fiscais nos últimos anos, bem como a inflação (corrente e projetada) persistentemente próxima ao teto da meta, continuam a sugerir que é elevado o risco de rebaixamento da nossa nota de crédito soberano a grau especulativo – situação que mantém nosso câmbio sob pressão, pesando significativamente sobre a confiança corporativa e sobre as perspectivas para o desempenho da atividade econômica”, avalia a LCA.

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 “Cada vez fica mais evidente que 2015 será um ano globalmente muito complicado, e para os países emergentes fragilizados muito mais, que é o caso do Brasil”. Neste sentido, as sinalizações diversas do que será o segundo governo Dilma contribuem para a instabilidade do mercado, fazendo com que o Ibovespa registrasse três dias de forte queda: apenas no acumulado do ano, as baixas do índice são superiores a 4%, com um ambiente de forte aversão ao risco. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.