“Dilma só não caiu mais porque os outros ainda são desconhecidos”, diz cientista político

Ricardo Ribeiro, doutorando em ciência política pela USP e analista da MCM Consultores Associados, concedeu entrevista exclusiva ao InfoMoney

João Sandrini

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SÃO PAULO – Ricardo Ribeiro, doutorando em ciência política pela USP e analista da MCM Consultores Associados, afirmou, em entrevista exclusiva ao InfoMoney, que a presidente Dilma Rousseff só não caiu mais na pesquisa de avaliação de governo e se manteve estável na pesquisa de intenções de voto do Ibope porque os outros candidatos ainda são desconhecidos. “A medida que o Eduardo Campos e o Aécio Neves forem ficando mais conhecidos, ela vai cair nas pesquisas”, afirmou Ribeiro.

Confira a entrevista na íntegra:

IM: O que dá para concluir em relação às últimas pesquisas?
RR: A pesquisa do CNI/Ibope mostrou que está se criando um mau humor generalizado em relação ao governo Dilma e isso acaba se refletindo na queda da avaliação positiva do governo, que interrompeu a trajetória ascendente que vinha ocorrendo após o efeito negativo das manifestações de junho do ano passado. Todos os problemas que estão vindo a tona agora já afetaram a avaliação do governo e agora a tendência é isso se refletir nas próximas pesquisas de intenção de voto.

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IM: E porque não afetou até agora? As intenções de voto se mantiveram estáveis e a avaliação do governo caiu muito (sete pontos percentuais).
RR: Na verdade essas duas variáveis tendem a caminhar juntas, mas pode ter uma defasagem temporal entre elas. É normal. Então o que aconteceu agora, de ela manter as mesmas intenções de voto, mas perder muitos pontos na avaliação do governo, não é algo sustentável. Isso ocorreu pelo fato de a maioria dos eleitores não estar muito atenta ainda à disputa eleitoral e porque ainda há muito desconhecimento em relação aos outros candidatos.

IM: O número de brancos e nulos aumentou muito na última pesquisa (de 21% para 25%). Isso é bom para a Dilma?
RR: Na verdade não. Eu diria que é um alerta para a Dilma. Se nós estivéssemos perto da eleição, eu concordaria com você e classificaria essa leitura como positiva, mas como nós estamos muito longe ainda, isso mostra apenas o desconhecimento dos outros candidatos e, com o tempo, esses brancos e nulos podem migrar para os candidatos de oposição, à medida que eles forem se tornando conhecidos.

IM: A história de CPI da Petrobras tem potencial para denegrir a imagem da presidente Dilma ou não chega ao conhecimento do grande público?
RR: O público não entende exatamente o que está acontecendo, mas sabe que tem algo de errado e esquisito. Agora a oposição conseguiu o número de assinaturas para abrir a CPI e isso vai aumentar a exposição. Então, embora o assunto não seja de entendimento imediato, pode acentuar esse mal estar em relação ao governo Dilma.

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IM: O que me chamou atenção nas pesquisas é que a Dilma ganha do Aécio no sudeste (onde ele é conhecido) e dá uma “lavada” no Eduardo Campos no nordeste (onde ele é conhecido). Isso não mostra que o desconhecimento em relação a eles dois não é tão grande assim?
RR: Não. Eles ainda são bem desconhecidos pela população sim. O Aécio é famoso em Minas Gerais e não no sudeste. O Eduardo Campos não é conhecido no nordeste, mas sim em Pernambuco. Como as pesquisas tem número agregado por região, nós não conseguimos distinguir isso, mas essa é a realidade. Quanto mais baixa a classe social maior é o desconhecimento dos candidatos e é exatamente nesta classe que a Dilma é mais forte, que, coincidentemente, representa a maioria da população brasileira. 

IM: Então, mesmo com a queda, a Dilma ainda é a favorita?
RR: No meu cenário sim, mas se as coisas continuarem se deteriorando para o lado dela isso pode mudar antes do que imaginamos. No entanto, não podemos nos esquecer que ela terá a maior estrutura de campanha e com o maior tempo na TV e no rádio. Além disso ela tem alguns programas voltados para as classes mais baixas que trazem muitos votos. De qualquer forma, não há dúvidas de que esse cenário está sendo corroído. Assim como a S&P rebaixou a classificação de risco do Brasil, a classificação dela também está rebaixada, mas, assim como na avaliação da agência, ainda é “grau de investimento”.

IM: Mas no seu cenário vai para o segundo turno?
RR: Sim. É muito provável. O histórico das disputas envolvendo o PT mostra isso, porque tem um grande eleitorado anti PT no Brasil. Mas ir ou não para o segundo turno depende de poucos pontos percentuais, então isso pode mudar de última hora.

IM: Qual candidato tem mais chance contra ela no segundo turno?
RR: Eu acho que o Eduardo Campos, porque o PT já tem um discurso muito pronto contra o PSDB, dá ideia de que o PT beneficia os pobres enquanto o PSDB é o partido da elite. Isso tende a desequilibrar a disputa a favor da Dilma. Com o Eduardo Campos esse discurso perde um pouco de força, porque tanto ele quanto a vice, Marina Silva, vieram do campo petista. Fora que o eleitorado de Campos teria dificuldade em votar no Aécio Neves, enquanto o eleitorado do Aécio, como é muito antipetista, votaria no Campos para tirar o PT do governo.

IM: Na sua opinião, qual é a chance de o Lula se candidatar de última hora?
RR: Muito pequena. A chance de ele voltar aumenta nas proporções que vão aumentando as dificuldades da Dilma, mas, na minha avaliação, ele preferiria não voltar agora, mas sim em 2018, porque 2015 e 2016 vão ser anos muito difíceis, principalmente por conta do fiscal, então isso poderia sujar a imagem dele. Sem falar que, como ex-presidente, ele está em uma situação muito privilegiada. Ele tem muito poder, acesso a partidos, a empresários… Então ele só volta se a situação dela ficar muito difícil.

IM: Você não acha que à medida que a situação for ficando mais complicada para a Dilma, teremos mais problemas do campo de vista fiscal? Digo, ela vai gastar mais, aumentar déficit de previdência, déficit público, não vamos ter o reajuste que a Petrobras precisa, não vamos ter o racionamento que talvez seja necessário… A situação macro não poderia degringolar por conta dessa perda de popularidade?
RR: O problema da Dilma é que ela não tem muita margem de manobra no campo econômico. Ou seja, ela está na contramão do ciclo político econômico tradicional. Ela começou o governo tentando mudar a política econômica, não deu certo, e agora ela está em uma situação muito complicada. Eu não vejo condições de ela sair aumentando gasto, porque o mercado está de olho nisso e as agências de rating já mostraram que estão muito sensíveis a esse tema. Se o governo forçar a mão no fiscal, tudo pode se deteriorar e ela afundar de vez. Ao mesmo tempo, ela não vai tomar decisões impopulares, como aumentar combustível, racionar energia ou repassar conta do buraco da energia para os consumidores. O governo vai tentar mexer o menos possível e se proteger dos ataques da oposição.

IM: Você vê uma aliança forte entre Aécio Neves e Eduardo Campos no segundo turno?
RR: Sim. Essa é uma novidade também. Eu tenho mais segurança de que se o Eduardo Campos for para o segundo turno o Aécio Neves apoiar ele do que o contrário, mas, de qualquer forma, o Eduardo Campos apoiar o Aécio também é bem plausível. Esse clima de grandes amigos que estão vivendo hoje é conveniente, visto que eles têm que desgastar a imagem da Dilma, mas quando for a disputa do primeiro turno é inevitável um conflito entre os dois.

IM: Depois de quatro de Dilma, estamos vendo as consequências de sua política econômica, com inflação em alta, taxa de juros, problemas fiscais, corte de rating… Em uma eventual reeleição, você acha que ela vai bater o pé nesse modo de conduzir a política econômica ou a situação ficará insustentável e ela será obrigada a mudar?
RR: Essa é uma das grandes perguntas que o mercado está se fazendo. O meu palpite é que a Dilma aprendeu no primeiro mandato que tem que ter muito mais cuidado com a política econômica, mas claro que ela nunca vai praticar a dos sonhos do mercado, como seria uma conduzida pelo Armínio Fraga, por exemplo. A Dilma viu que manter a inflação em um patamar de 6% é algo que derruba a avaliação do governo, então a tendência é ela mudar essa condução.

IM: Você vê uma reforma fiscal com a vitória da oposição? Ou é perigoso?
RR: Isso é sempre complicado, mas tem coisas que serão inevitáveis, com qualquer um que vencer. Tem mudanças que são dolorosas, mas não tem como não fazer, pois já passou da hora de dar aperto em algumas questões, como preços de energia e transporte, reajuste do salário mínimo, reforma da previdência, e por ai vai. São dificuldades, pois são medidas impopulares, mas muito necessárias neste momento.

IM: Qual é a sua avaliação pessoal do governo?
RR: Foi um governo medíocre, que não fez nada muito positivo. Ele apostou em uma mudança na matriz macroeconômica e perdeu a mão totalmente. É um governo com problemas de gerenciamento e políticos, por conta da Dilma ser extremamente centralizadora. Comparando com Fernando Henrique Cardoso e o Lula, foi o pior, sem dúvida.

IM: Se a Dilma for reeleita, quem deve assumir o ministério da Fazenda, no lugar de Guido Mantega?
RR: Por conta do tempo que o Mantega está no cargo ele deve sair sim. Na minha opinião, tem três nomes para substituí-lo, caso a Dilma seja reeleita: Alexandre Tombini, Luciano Coutinho e Nelson Barbosa. Desses três, o Tombini é o que tem mais chance.

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