Dilma fala de Pasadena, escândalo na Petrobras, tarifaço e confirma saída de Mantega

Presidente concedeu entrevista ao Estadão direto do Palácio da Alvorada, em Brasília, e ainda afirmou que pretende convocar plebiscito para reforma política

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Encerrando a série de entrevistas do jornal O Estado de S. Paulo, a presidente Dilma Rousseff participa de sabatina nesta segunda-feira (8), após ter adiado sua entrevista, que deveria ter ocorrido no dia 29 de agosto. Em destaque para a entrevista fica a notícia do final de semana, após a Revista Veja divulgar detalhes da delação premiada que ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, está fazendo.

A primeira questão foi exatamente sobre este assunto. “Em nenhum momento houve suspeitas. E é interessante que a gente lembre que esse diretor é de um quadro de carreira da Petrobras. Em governos anteriores foi gestor da Gaspetro. Então é estarrecedor. Isto tem haver com o fato básico de ter muito cuidado com o uso do dinheiro público. Seja em empresas públicas ou privadas. Eu acredito muito em fortalecer as instituições. Nos tivemos uma série de procedimentos para fortalecer as investigações”, disse Dilma.

“Demos autonomia para a PF, escolhemos sempre entre a lista do Ministério Público e demos ao procurador geral ampla autonomia. Nosso procurador-geral nunca foi um ‘engavetador’. Fizemos algumas leis importantíssimas: Lei da Ficha Limpa, Lei de acesso a informação e por último a lei que pune também o curruptor. Só vamos acabar com a corrupção no Brasil quando acabarmos com a impunidade”, completou a presidente.

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Dilma questionou as informações apresentadas pela Veja, afirmando que só aceita as informações da Política Federal, ou seja, apenas dados oficiais. De acordo com a presidente, a própria revista divulgou diversos nomes, mas não citou fontes nem informações oficiais dos relatos de Paulo Roberto. “Quem faz a acusação é uma reportagem feita pela imprensa. Quem tem a informação é a imprensa. Os processos estão criptografados e dentro do cofre. Vazamento pode significar não validade das provas”, disse.

“Eu determinei ao ministro José Eduardo Cardozo que fizesse um ofício a PF que se tiver algum funcionário do governo, nos gostaríamos de ter acesso a essa informação para poder tomar todas as providências e tomar essas medidas baseadas em informações oficiais”, afirmou Dilma.

A presidente ainda questionou o fato da revista divulgar as informações dos depoimentos antes da homologação do processo de delação premiada. “É possível ficar divulgando sem a Justiça aprovar a delação premiada? Ela tem que ser investigada. Quem faz a delação pode não gostar de uma pessoa e acusá-la, ou estar protegendo alguém. Já que foi divulgado eu acho que tenho obrigação de querer saber. Minha obrigação não é olhar a matéria e falar ‘está tudo certo”, disse Dilma.

A compra de Pasadena
Outro assunto que foi colocado em pauta é a compra da Refinaria de Pasadena, que nos últimos meses acabou gerando denúncias sobre o valor gasto, levando à criação da CPI da Petrobras. “Naquela época, nos aprovamos a compra de 50% de Pasadena baseado em uma opinião fundamentada do Citibank, que dizia que era um bom negócio”, disse a presidente.

“Mais tarde descobrimos que estava faltando uma nexo de duas clausulas, uma de put option e outra chamada de cláusula mac. O conselho em todo período só aprovou a compra de 50%. Os outros não foram sequer analisados pelo conselho. Tanto que o TCU concorda que o conselho não teria culpa nenhuma”, completou Dilma.

Sobre as trocas no comando da companhia, principalmente com a entrada de Graça Foster, a presidente também justificou suas escolhas. “Eu substitui aqueles que eu não considerava o que eram os melhores para minha equipe. Não tive nenhuma intenção de valor sobre atos de mal-feito. Quem nomeia os diretores da empresa é o conselho e quem nomeia o conselho é o acionista majoritário”, disse.

“Eu primeiro alterei a presidente do conselho, o que é normal. E depois os outros diretores. Eu alterei por esta questão. Não tinha a menor ideia que alguém dentro da Petrobras fazia algo assim”, afirmou Dilma. “Acho que a Graça é uma gestora plenamente competente”, completou.

“Que eu conheço a Graça. Ela é uma pessoa minuciosa na gestão. É muito difícil alguém com a capacidade de gestão dela não estancar vazamentos. Obviamente em toda gestão você tem obrigação de melhorar o que recebeu. E eu acho que ela aumentou a qualidade de gestão e quem vier depois da Graça vai ser obrigado a melhorar a qualidade da gestão”, afirmou a presidente.

Dilma aproveitou para rebater as críticas que tem sofrido por conta do uso político da Petrobras. “Acho estranhíssimo alguém falar em destruição da Petrobras. Tirando esta questão que tem aparecido neste momento da campanha, a Petrobras hoje é uma empresa primorosa. Nós saímos R$ 15,5 bi e chegamos ao patamar de R$ 111 bi. Como qualquer empresa do mundo tem seu valor baseado nas reservas de petróleo que tem. E hoje a Petrobras tem uma reserva grande”, explica.

A presidente ainda falou sobre outros escândalos, mas citou apenas o mensalão do DEM. “Quem não investiga não descobre. Desmontamos muito esquemas de corrupção. O que me estranha é que outros esquemas de corrupção não tiveram o mesmo tratamento. É o caso do mensalão do DEM. Eu acho que nós investigamos. Fizemos o dever de casa, não deixamos nada debaixo do tapete. Hoje, doa a quem doar, vamos investigar”, disse.

“Você acha que é tranquilo, uma plataforma que custa R$ 1,5 bilhão afundar? E ninguém investigar porque afundou. A plataforma, de R$ 1,5 bilhão é duas vezes Pasadena. Ela afundou no governo FHC e ninguém investigou. Não é próprio das plataformas sair por aí afundando. Teve a troca de ativos da Repsom e não foi investigada. Estou dando dois exemplos que não teve o mesmo tratamento”, afirmou Dilma.

Saída de Mantega
Dilma também foi questionada sobre os rumores da saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, principalmente após ela afirmar que caso seja reeleita iria mudar sua equipe. “Eu vi que depois que eu falei equipe nova e governo novo as pessoas fizeram várias ilações sobre o Guido Mantega. Ele comunicou que ele não tem como ficar no governo no segundo mandato por questões pessoais que eu peço para vocês respeitaram”, disse.

“Um governo novo, ele tem necessariamente, mesmo sendo da mesma pessoa, sempre temos obrigação de melhorar a gestão. Eu pretendo melhorar a gestão. Não vou aplicar tudo igual ao que eu venho fazendo. Pretendo melhorar”, afirmou Dilma.

Ela também voltou a explicar que não deve falar sobre os novos nomes antes de ser eleita. “Não vou nunca dizer quem vai ser ministro no meu segundo mandato. Quero te dizer que eu acredito piamente que o Brasil vai entrar em uma nova fase. Temos todas as condições robustas para passar por uma nova fase. Não estamos mais naquele momento em que tínhamos que segurar o País com as duas mãos se não desempregávamos”, disse.

A presidente ainda comparou sua política com a de outros países e ressaltou que prefere seu método. “A Europa fez uma politica duríssima de austeridade e não dá um único passo à frente. Você vê queda na Alemanha, queda de produção na Europa. Eu gosto muito mais do nosso método. Garantimos que o salário se valorizasse, todas as políticas de concessões… fazemos políticas industriais sim. Apostamos na inovação”, afirmou.

“Vai haver mudanças. Porque eu acho que o País se preparou para esta mudança. Temos condição agora de diminuir alguns incentivos. Vamos continuar focados em emprego e valorização de salário . Não concordo como alguns acham que a razão da inflação é a política de valorização do salário mínimo. Estamos recuperando a queda brutal que houve no Brasil no período anterior ao Lula”, completou.

Reajuste da gasolina e “tarifaço”
Dilma também foi questionada sobre o reajuste da gasolina, o que segundo Mantega deve ocorrer ainda este ano, e sobre outros tipos de reajustes tarifários, o chamado “tarifaço”. “Eu não falo em reajuste de gasolina nem de quanto que vai ser. Eu acho um absurdo, porque o que está por trás da proposta de tarifaço? Sabe quanto é que foi o aumento do combustível na refinaria? 31,5%. O IPCA está em uns 23%, eu acredito. O que eu tenho de cabeça é que teve um ganho real de 7%”, disse.

“Os que propõe um grande tarifaço na gasolina são os que atrelam o preço do petróleo ao valor internacional. É o valor do brand. O resto dos cursos não tem um valor imediato com o mercado internacional”, ressaltou Dilma. A presidente ainda citou os EUA para defender sua tese: “Por que será que nos EUA eles não igualam o preço do gás de xisto ao mercado internacional? Porque a indústria deles perderia a competitividade”, disse a candidata. “Não somos à favor de tarifaço. Se houver reajuste não será tarifaço”, explicou.

Dilma tentou explicar os reajustes e o fato de algumas pessoas pedirem para que o preço do petróleo seja equiparado o valor internacional. “Sabe porque deu este aumento de 0,25%? Por causa do aumento da energia elétrica. Não houve nenhuma defasagem. Não tem nada atrasado na energia elétrica. Agora, é normal que a Petrobras queira. A riqueza que a Petrobras mexe, ela tem acionistas. Mas a riqueza, que é o objeto da Petrobras, tem 202 milhões de acionistas. Quem é dono do petróleo são os brasileiros. Decisão de atrelar o preço interno ao internacional é uma decisão que temos que avaliar todos os países do mundo”, afirmou.

A comparação de Marina com Collor e Jânio
Dilma também falou sobre um vídeo de sua campanha eleitoral, onde ela compara Marina Silva à Fernando Collor e Jânio Quadros. “Eu acho a Marina uma pessoa bem intencionada. Não estou fazendo uma comparação pessoal. O que eu fiz de comparação com o Jânio e o Collor é que ambos governaram sem apoio”, explicou.

“Quem escolhe o deputado e o Senador não é a presidente. Todas as pessoas que acham que vão negociar com notáveis, que é possível governar sem partido, geralmente ocorre alguma coisa muito perigosa. Quem governa sem partido geralmente tem uma pessoa muito poderosa por trás, geralmente os mais ricos. Isto não é nova política, é a política que levou o País a um tipo de visão que a democracia pode ser feita apenas por uns poucos”, disse Dilma.

“Eu tenho uma convicção que sem reforma política, sem participação popular, sem regras de financiamento de campanha, não tem essa questão de nova política”, afirmou se referindo ao discurso de Marina. “A nova política implica em termos o povo participando por um plebiscito. Temos que retomar tudo que foi dito nas manifestações. Temos que fazer uma reforma política. Por que para governar é uma dificuldade e continuarei enfrentando enquanto não houver reforma política. Que faça com que o dinheiro público não se perca”, completou.

Dilma ainda explicou que sua comparação não se refere à pessoa de Marina, mas sim ao contexto político. “Que o governo Collor não teve base de sustentação é um dado da história. Temos que perceber que acusação pessoal é muito profundo. Eu respeito o Collor, mas discordo das políticas”, disse.

Reeleição e reforma política
Citando as propostas feitas pelos candidatos adversários, que defendem o fim da reeleição, Dilma foi questionada se aplicaria ou convocaria um plebiscito sobre o tema. “Acho que se for acabar com a reeleição tem que dar mandato de cinco anos. Agora eu quero entender o que os cinco anos faz no todo. Sou contra coincidência de todas as eleições. Acho que o Brasil tem que continuar votando. Acho que o voto popular tem um poder benéfico. Acho tão importante que o País vote em plebiscito, que só o ato de participar já muda o País”, disse.

A presidente ainda afirmou que durante o seu atual mandato ela chegou a pensar na ideia de realizar um plebiscito sobre o assunto. “Logo depois das manifestações eu fiz minha proposta de plebiscito”, disse Dilma.

A candidata também foi perguntada se convocaria uma votação popular para a realização de uma reforma política. “Vou convocar. Acho estranho que todas as pessoas…. 99% da população brasileira quer uma melhora na representatividade. Muitas pessoas querem uma maior transparência das instituições. As pessoas querem melhorar as formas que as campanhas são financiadas. Sem respaldo da população, ninguém tem força para fazer nenhuma alteração”, completou.

Volta Lula e relação com os EUA
Dilma ainda foi questionada sobre o movimento “volta Lula”, tanto para estas eleições ou para as eleições de 2018, além de sua amizade com o ex-presidente. “Todo mundo que apostou em algum conflito entre eu e o Lula, errou. Temos uma relação fortíssima, pessoal. Eu convivi com o Lula de junho de 2005 até o dia em que saí do governo, convivi com ele diariamente. Eu gosto muito do Lula. Então tenho absoluta certeza que ele tem o mesmo afeto por mim. Para mim não incomoda nenhum pouco o “Volta Lula”. O que ele quiser fazer eu vou apoiar. Estarei com ele em todas as circunstâncias”, ressaltou.

Por fim, a presidente também falou sobre sua relação com o governo dos EUA e o presidente Barack Obama, além do recente vazamento de informações e espionagem. “Talvez vocês não saibam, a minha relação com Barack Obama, em relação ao vazamento de informações e espionagem, foi uma relação entre presidentes que estavam percebendo que havia um problema político sério nesta questão. Nos suspendemos de comum acordo minha ida lá, e ele entendeu”, disse.

Dilma explicou porque decidiu mudar seu encontro com o presidente norte-americano após o caso de espionagem. “Ao entrar nos EUA e começar a visita, a imprensa americana e a brasileira ia querer saber. Então o tema da minha visita, ao invés de tratar de temas de Estado, íamos ficar dando explicação. Não tenho nenhum problema em relação aos EUA. Este problema eles arranjaram para ele. Arrumaram com a Alemanha também. A minha questão em relação a esse problema foi manifestada na época”, completou.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.