Dilma decepcionada com Cristovam, Temer com pressa e mais reações à votação do impeachment

Na madrugada desta quarta-feira, presidente afastada virou ré no processo de impeachment por 59 votos a 21

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na madrugada desta quarta-feira, o Plenário do Senado aprovou o  relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) que julga procedente a denúncia contra a presidente afastada Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Assim, Dilma virou ré e agora vai a julgamento final pelo plenário do Senado. Com um placar de 59 votos a favor do relatório e 21 contra, as indicações são de que, a não ser que um fato político muito forte significativo, o impeachment seja consumado no final do mês. 

Mesmo antes da votação, o resultado já era esperado. Porém, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo, Dilma ligava para os senadores na noite de ontem para garantir votos a favor dela. Antes da votação, a petista afirmou estar decepcionada com a postura de senadores como Reguffe e Cristovam Buarque (PPS-DF) e tentava uma ofensiva para conseguir pelo menos 22 votos a seu favor – ela teve 21.

De acordo com o jornal, aliados disseram que a presidente afastada “bufou de raiva” com Cristovam Buarque. Isso porque ela engoliu várias alterações na tal carta a pedido do senador, que se mostrava indeciso, mas declarou em entrevista achar bom que o PT caísse do poder. 

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Dirigentes e parlamentares do PT não acreditavam que Cristovam Buarque votaria a favor de Dilma, mesmo quando ele ainda se autonomeava “indeciso”. Ele chegou a fazer sugestões, principalmente econômicas, para a carta que Dilma prepara para apresentar aos 81 senadores hoje. Dilma cogitou marcar um almoço com senadores aliados para quarta e rediscutir a carta, retirando sugestões de Cristovam. O movimento, diz o jornal, irritou os senadores do PT, que avaliam que Dilma “perdeu o timing” de divulgar o documento. A carta, aliás, deve contar com aval de Lula e ter como bandeira a defesa de um plebiscito (algo, inclusive, que o presidente do PT Rui Falcão disse ser contra).

Outras reações
Além da própria Dilma, outros políticos reagiram à aprovação do relatório. 
O senador Humberto Costa (PT-PE) disse  acreditar ser possível que Dilma consiga os votos suficientes para evitar o seu impeachment na votação final do Senado. Segundo o senador, alguns parlamentares estariam optando votar a favor do impedimento por não se expor a “pressões” neste momento, mas que acenam com a possibilidade de mudança de posicionamento. 

Costa, que é líder do PT na Casa, minimizou o resultado da votação, com mais de dois terços dos senadores contra Dilma, e considerou uma “vitória” ter mantido o voto de 21 senadores sem ter nada para oferecer “no toma lá, dá cá do poder”. “Foi uma vitória mantermos o voto de 21 senadores sem termos nada além de ter feito a disputa política e acreditamos que há condição que termos mais seis ou sete votos”, disse. Para o senador petista, a situação poderá ser revertida em razão do avanço das investigações da Operação Lava Jato, que pode envolver a cúpula do PMDB. “O fator determinante desse resultado final chama-se Lava Jato e, se de fato as denúncias contra o governo se intensificarem, farão um novo desenho na opinião pública com influência em muitos dos senadores aqui”, disse.

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O ex-ministro da Advocacia-Geral da União e advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, disse  que era esperado o resultado. “O placar já era relativamente esperado, um voto a mais, um voto a menos, mas era mais ou menos essa faixa”, disse Cardozo ao final da sessão se referindo à expectativa do governo do presidente interino Michel Temer de contar com 60 votos favoráveis.

Já o relator do parecer, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) falou a jornalistas que estava com a sensação do dever cumprido. “Saio com a sensação de dever cumprido, demonstrando a meu juízo, no relatório, que os crimes ocorreram e assim entendeu a grande maioria do Senado”, disse o tucano. Anastasia rebateu Cardozo, que disse que o relatório tinha sido elaborado com paixão partidária e que construiu “provas que não existiram”. “É a função natural do advogado, arrumar argumentos para defender a sua tese e nós estamos muito tranquilos com a robustez do relatório”, disse.

O julgamento final de Dilma deve ocorrer no final do mês e Cardozo disse, porém que considera que “muita água ainda pode passar embaixo da ponte” “A grande questão agora vai se colocar para o julgamento final, onde serão necessários os dois terços [dos senadores] e a margem de dois terços ainda continua estreita”, avaliou. “Necessariamente quem vota a favor na pronúncia pode não votar no julgamento, inclusive juridicamente há uma razão para isso. Independente das razões políticas, na pronúncia quem tem dúvida vota favorável, no julgamento final, quem tem dúvida vota pró réu”.

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), por sua vez, disse que o resultado dessa quarta-feira mostra que o plenário já se decidiu pelo impeachment. “Essa votação representa a cristalização de uma situação política absolutamente consolidada e irreversível pelo afastamento definitivo da presidente Dilma. Essa convicção já está firmada no Senado”.

Nunes disse que Dilma não teria mais condições de reaver o apoio político para conseguir votos para barrar o impeachment e restabelecer sua base parlamentar. “Ela não tem mais condição de governar o país”, disse.  

Enquanto isso, no Palácio do Planalto, apesar do placar folgado, o governo interino de Michel Temer tem pressa em votar o impeachment. Oficialmente, a preocupação de Temer é garantir que ele deixe de ser interino antes de embarcar para a China, onde participará da reunião de cúpula presidencial do G20, em 4 e 5 de setembro.  Porém, outras preocupações estão no radar, conforme afirma a Folha e o G1: senadores da oposição acusam o presidente interino de ter pressa devido à possibilidade de que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) feche um acordo de delação premiada, que pode desestabilizar ou até implodir o governo. Além disso, há a preocupação que novas delações premiadas possam colocar o PMDB novamente no foco.

(Com Agência Brasil)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.