Destino de Dilma e da economia do Brasil: um cálculo político de Cunha, diz FT

Financial Times faz um perfil do presidente da Câmara e destaca que ele também luta para salvar a sua pele

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O destino da presidente brasileira Dilma Rousseff e da maior economia da América pode estar nos cálculos de um aspirante ao impeachment dela que quer evitar ser impedido de exercer o seu cargo. É o que destaca o Financial Times, em uma matéria sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que luta para se manter no cargo em meio a denúncias de que teria recebido propina por meio de contratos da Petrobras. 

O jornal destaca que, com a presidente em meio a um recorde de baixa popularidade, enfrentando uma recessão profunda e um vasto escândalo de corrupção na Petrobras, estão montadas as bases para o pedido de impeachment. Cunha tem o poder de aceitá-lo ou rejeitá-lo, controlando o tempo de qualquer movimento contra a presidente. 

Mas a questão para a oposição é por quanto tempo Cunha estará por lá para movimentar o pedido de impeachment. O FT lembra que, na quarta-feira, Cunha recebeu um novo pedido elaborado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal. 

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“Cunha recebeu a petição feliz, cercado por membros da oposição sorridentes, famintos pelo sangue da presidente”, destaca o jornal. Porém, ele mesmo está sendo ameaçado e pode até sofrer cassação de seu cargo. 

Em meio a esse cenário, Cunha já montou a sua estratégia. A sua esperança é usar o que resta do seu poder – o processo de impeachment – para convencer o governo e a oposição a não tirá-lo do seu cargo.

O FT traça um cenário sobre o político, afirmando que ele é um negociante nato e um sobrevivente, que garantiu a sua eleição na presidência da Câmara contra a vontade da presidente. 

“Um cristão devoto, Cunha também é conhecido por seu conservadorismo extremo, buscando aplicar leis como de “direitos para heterossexuais” e endurecendo a lei sobre o aborto para vítimas de estupro. Isso possui um forte apelo em relação à bancada evangélica do Congresso”, afirma o jornal. 

O FT lembra que, no início do ano, as perdas de Dilma pareciam ser as vitórias de Cunha, que passou a fazer um contraponto contra o programa de governo e desafiando o ajuste fiscal. Porém, a moeda de Cunha mergulhou após grandes jornais publicarem documentos que provaram que o deputado tinha contas na Suíça, ao mesmo tempo em que delatores acusavam-no de ter recebido propina. Ele se diz vítima de perseguição. Ele não tem chance de continuar no longo prazo. 

Mas, agora, ele está consciente de que nem a oposição nem o governo irão atacá-lo de forma feroz por medo de colocá-lo nos braços do outro lado, afirma Fernando Schüler, professor do Insper, em São Paulo. Cunha tem se estendido e busca evitar falar sobre quando analisará o pedido.

Agora, ele tem duas escolhas – tentar costurar um acordo para permanecer como presidente da Casa ou sair do cargo e tentar influenciar a nomeação de um sucessor capaz de influenciar qualquer movimento para cancelar seu mandato como deputado federal.

Independentemente da escolha que ele faça, é provável que o Brasil seja o perdedor com o calendário legislativo tornando-se refém da política. Porém, destacam analistas, em algum momento, ele vai se demitir. É apenas uma questão de tempo.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.