Desde 94, ano de eleição é o da Copa: faz sentido Dilma torcer tanto para o Brasil ganhar?

Desde 1994, ano de eleições presidenciais coincidem com o de Copa; mas, se olharmos para trás, vemos que relação entre ganhar o torneio e o governo da situação ganhar as eleições não é tão clara assim

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O mau humor do brasileiro pode aumentar, e muito, caso a seleção nacional fracasse em consquistar a Copa do Mundo em sua própria casa. E este é um cenário que poderia complicar ainda mais a reeleição da presidente Dilma Rousseff, conforme apontaram diversos especialistas à agência de notícias Bloomberg na última semana. 

“Se tivermos um desempenho ruim na Copa do mundo, haverá maiores chances de ter um novo presidente”, disse o gerente de hedge-fund Luiz Carvalho, sócio-gerente da Tree Capital LLC. Em meio a esse cenário, muitos analistas ressaltam que, apesar de não conseguirem torcer contra o Brasil, isso seria extremamente tentador, uma vez que reforçaria as possibilidades de um novo governo que fosse mais amigável com os investidores depois do pior desempenho econômico de todas as administrações desde 1992.

Mas será que há uma relação tão grande entre triunfar na Copa do Mundo e a continuidade de um partido político no poder ou a eleição do presidente que já está no cargo? Conforme destaca um estudo de 2010 realizado pela Stanford Graduate School of Business e reportado pela Reuters, o efeito pode não ser tão grande assim. Vitórias esportivas dez dias antes de uma eleição pode levar de 1 a 2 pontos percentuais a mais para o candidato à reeleição mas, em um período maior do que esse, o efeito é muito menor. 

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E, em sua maior parte, tem sido o caso do Brasil. Desde 1994, a Copa do Mundo, que ocorre a cada quatro anos coincidiu com as eleições gerais. 

Naquele ano, o Brasil venceu o torneio , assim como estava em curso um plano de estabilização econômica, que teve o lançamento de uma nova moeda, o real. Um dos executores do plano, Fernando Henrique Cardoso, disse mais tarde que o otimismo da nação após a vitória na Copa, após 24 anos de jejum em títulos – ajudou no sucesso da moeda, que foi um marco para o combate à inflação. Isto, por sua vez, foi um dos fatores principais para levar FHC para a presidência no final daquele ano. Depois disso, porém , a correlação se desfez.

Em 1998, FHC foi reeleito mesmo depois do Brasil ter perdido a final da Copa do Mundo para a França, por 3 a 0. Quatro anos depois, o Brasil venceu a Alemanha e se tornou campeão pela quinta vez. No entanto, o líder da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva bateu o candidato José Serra, apoiado pelo presidente na época, vencendo assim o pleito.  

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Enquanto isso, Lula foi facilmente reeleito em 2006, quando o Brasil foi eliminado nas quartas-de-final pela França. E Dilma cruzou para a vitória em 2010, com a bênção de Lula, poucos meses após a Holanda ter eliminado o Brasil na África do Sul, o que mostra que não há uma relação tão direta entre vencer a Copa e a manutenção de um partido no poder. 

Mas se perder, mau humor pode piorar…
Assim, na melhor das hipóteses, a presidente Dilma poderia tentar uma ligação temporária entre o triunfo na Copa e as eleições. Porém, esse entusiasmo provavelmente se desgastaria em poucas semanas, uma vez que há um importante intervalo entre julho e outubro, e o entusiasmo pode esfriar. Já na pior das hipóteses, a saída precoce do torneio poderia aumentar as frustrações com a forma como o Brasil está e alimentar um crescente desejo de mudança. 

“Sem o time da casa para torcer, mais brasileiros podem se sentir tentados a se juntar aos protestos de rua, criando uma situação potencialmente volátil para Dilma administrar. Assim, o que era para ser um orgulho nacional pode se tornar um campo minado político para a presidente”, ressaltou a a agência de notícias Reuters. 

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Assim, a Copa tem se convertido em uma dor de cabeça para a presidente Dilma, em meio à pressão da FIFA, os protestos sociais em um momento crucial para o Brasil e os diversos problemas econômicos que enfrenta: baixo crescimento e alta inflação.

Desta forma, por via das dúvidas, é bom que Dilma continue torcendo para o Brasil e evitar um cenário potencial de mais mau humor dos brasileiros. 

(Com Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.