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O depoimento ao Supremo Tribunal Federal ( STF) nesta quarta-feira do ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior foi visto como “esclarecedor” e “preciso” por ministros da Corte. A oitiva do brigadeiro passou a ser aguardada após o ex-comandante do Exército Freire Gomes tentar atenuar a trama golpista durante sua oitiva no Supremo, na segunda-feira, primeiro dia das audiências.
Após a audiência nesta quarta-feira, ministros do STF ouvidos pelo GLOBO elogiaram a “seriedade” de Baptista Junior, ressaltando que o militar confirmou tudo o que havia dito à Polícia Federal. Para um magistrado, o depoimento dele foi “esclarecedor” e o brigadeiro se mostrou uma pessoa “firme”.
Internamente, a oitiva de Baptista Junior foi considerada importante após o mal-estar causado pelo depoimento de Freire Gomes na segunda-feira. Ao confirmar reuniões no Palácio do Alvorada e discussões sobre a instauração de Estado de Sítio, de Defesa ou GLO no país após as eleições de 2022, o militar disse ter sido chamado pelo ex-presidente para discutir o documento, que chamou de “estudo”.
No depoimento, Freire Gomes disse que os instrumentos estão previstos na Constituição e que, por isso, não lhe causou “espécie”. A versão apresentada foi questionada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, que considerou que a fala estava diferente do que o militar havia dito à Polícia Federal (PF) no ano passado. No fim da audiência, o ministro leu trechos do depoimento, que foram confirmado por Freire Gomes.
Entre as declarações de Baptista Junior estão a confirmação de que presenciou o então comandante do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, ameaçar o ex-presidente de prisão após uma reunião em 2022. A ordem de prisão foi negada por Freire Gomes na segunda-feira, quando o ex-chefe do Exército depôs ao STF na ação que trata sobre a trama golpista.
“O general Freire Gomes é uma pessoa polida, educada. Logicamente ele não falou essa parte com agressividade com o presidente da República, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, com muita calma, mas colocou exatamente isso: ‘se o senhor tiver que fazer isso, vou acabar lhe prendendo’, disse Baptista Junior aos ministros do STF.
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Baptista Junior também afirmou ao STF que o ex-chefe da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, colocou as tropas da força “à disposição” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Em uma dessas reuniões, eu tenho uma visão muito passiva do almirante. Eu lembro que o ministro Paulo Sérgio e eu conversávamos mais, debatíamos mais, tentávamos demover mais o presidente. Em uma dessas reuniões, chegou o ponto em que ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente Bolsonaro”, relatou, se referindo a uma reunião da qual teria participado.
O brigadeiro é testemunha na ação penal que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, e seu depoimento é considerado um dos mais importantes nessa etapa do processo.
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Em outro momento da oitiva, Baptista Junior ressaltou que o chefe da Marinha colocou as tropas à disposição de Bolsonaro ao responder ao questionamento de uma das defesas dos acusados.
“Eu não fiquei sabendo à toa que a Marinha tem 14 mil fuzileiros” afirmou, em referência à declaração de Garnier.
Ao depor na Primeira Turma da Corte, o brigadeiro também afirmou que ele e o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, estavam alinhados, e que Garnier tinha uma posição isolada.
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“Infelizmente, uma vez falei a ele que nada pode ser tão pior para as Forças Armadas que não ter uma postura de consenso, e, talvez isso tenha sido o mais difícil, o almirante Garnier não estava na mesma postura que Freire Gomes e eu”, pontuou.
O brigadeiro foi indicado no processo como testemunha pela acusação, feita pela Procuradoria-Geral da República ( PGR).