Delfim: “estamos em uma situação desconfortável, mas o apocalipse não está na esquina”

Delfim ressalta que, até 2008, vínhamos crescendo depressa, caímos em 2009, subimos até 2010 e depois declinamos e há uma ameaça ao crescimento, com o Brasil murchando

Lara Rizério

Delfim Netto (Divulgação)

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SÃO PAULO – O atual momento da economia brasileira é muito interessante e é decisivo devido às eleições, que devem contribuir mais uma vez para o equilíbrio entre urna e mercado. Em palestra na Fecap, o ex-ministro da Fazenda destacou que os fundamentos básicos da economia brasileira estão desconfortáveis, mas o País também sofre com o excesso de pessimismo. “Estamos em uma situação desconfortável, mas não tem porque pensar que os cavaleiros do apocalipse estão na esquina”, ressaltou.

Delfim ressalta que, até 2008, vínhamos crescendo depressa, caímos em 2009, subimos até 2010 e depois declinamos e há uma ameaça ao crescimento, com o Brasil murchando. Para explicar isso, o economista destaca uma série de fatores. Unidos, eles convergem em um quadro de atenção, mas não são tão ruins por si só.

Exemplo disto é o déficit público, em trajetória crescente, mas que não caminha para uma desintegração. A dívida bruta é estável, a despeito de tudo, afirma. “Estamos numa situação desconfortável, mas não é nenhuma tragédia”, ressaltou.

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Há também a fala de que a inflação é persistentemente alta. Para Delfim, apesar da inflação não estar fora de controle, o governo “namora” persistentemente com o teto da meta de 6,5%, o que é uma diferença bastante grande. “Ela contribui para distorcer os preços relativos e reduz a produtividade na economia. Não houve uma perda de controle [dos preços]”. Porém, afirma, controlar os preços administrados foi devastador por destruir não só as finanças da Petrobras, mas também por afetar o setor sucralcooleiro, que era uma das áreas promissoras da atividade nacional.

Delfim ressalta ainda o problema dos preços administrados, justificando-os através das expectativas dos agentes para a economia. “O que se espera do futuro determina o comportamento do presente”, afirma, destacando que o “drama” é que espera-se que em alguma hora os preços terão que aumentar. “Dependendo da credibilidade do governo, aumenta ou diminui o custo do ajuste. Se entregar o governo para quem acha que vai fazer o certo, o custo é menor do que com quem não vai fazer”.

Outro problema é a deterioração da indústria, que foi dizimada pela sobrevalorização do câmbio para controlar a inflação, “ao invés de utilizar a política monetária”.

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Desta forma, a situação é preocupante, mas não há nada desesperador: nas transações correntes, os fundamentos econômicos são melhores do que no passado. Porém, é melhor tem atenção, por que a situação pode se deteriorar mais para frente. Os problemas unidos são quase trágicos, afirma, tornam o processo difícil, mas nada tão ruim.

Outros motivos de preocupação são o abandono da política comercial como instrumento de crescimento, com a participação brasileira nas exportações mundiais estagnada, sendo boa parte deste movimento devido ao uso do câmbio para o controle dos preços, abandonando o vetor que puxa a economia.

Para tentar conter este movimento de deterioração, aponta Delfim, é preciso desenvolver instrumentos mais sofisticados com mais quantidade de capital. Além de aumentar o volume de capital e educar as pessoas para aumentar o capital. “Por isso estamos batendo na parede”, afirma, destacando que estas coisas não acontecem no Brasil.

Porém, afirma Delfim, o governo não tem votos só por que errou, mas porque acertou também. Seu antecessor, Lula, distribuiu melhor a renda sem estragos devido ao ambiente melhor lá fora e o aumento dos termos de troca. “O andar de baixo melhorou em muitos aspectos ao absorver os trabalhadores”.

“É preciso olhar também para a ascensão social. O mercado e a urna têm um movimento de equilíbrio: se o mercado só pensa em crescimento, a urna vem e corrige e vice-versa. Não há irracionalidade nos dados preliminares das eleições”, afirma, destacando que há um equilíbrio entre a urna e o mercado.

“Quem recebeu as benesses, não viu as dificuldades ainda que estamos vendo. Desde 2003, subimos degraus da escada, mas faz dois anos que nós não crescemos. Quando descermos um degrau, pode haver um impacto eleitoral fortíssimo”, ressaltando que, antes disso, não “se pode ficar triste”.

Porém, Delfim destacou que “houve uma destruição de todas as condições isonômicas”, com aumento da carga tributária sem que houvesse prestação de serviços e com uma cobrança de imposto regressiva.

Além disso, a nossa taxa de juros real é a maior do mundo. “Nós somos o último peru com farofa do mercado internacional”, brincou o economista. Além disso, o setor industrial sofre com uma das energias mais caras do mundo. “Acho que caiu a ficha e precisamos corrigir isso”. “Nós matamos o estado de espírito do desenvolvimento. Mas tudo isso é corrigível”, conclui Delfim.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.