Delação se une a isolamento e forma coquetel perigoso: qual o efeito sobre Dilma?

Em meio ao turbilhão que a presidente Dilma Rousseff vem enfrentando nesta semana, foi acrescentado um ingrediente que poderá ser explosivo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio ao turbilhão de emoções que a presidente Dilma Rousseff vem enfrentando nesta semana, foi acrescentado um ingrediente que poderá ser explosivo. 

Segundo informações da Folha de S. Paulo, a Andrade Gutierrez afirmou ter feito pagamento ilegal para a campanha da presidente em 2010. A revelação foi feita no acordo de delação premiada de 11 executivos da Andrade e é a primeira citação direta de irregularidade apurada pela Lava Jato que envolve campanha de Dilma. 

Em entrevista à Bloomberg, o sócio e diretor da Arko Advice, Thiago de Aragão, ressaltou que a presidente está em uma situação cada vez mais complicada: “a delação da Andrade vai acelerar ruptura maior de Dilma com o PT, pois o nível de radicalização do partido para se defender vai aumentar”, afirmou. 

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“Essa delação não coloca a presidente mais para baixo, mas impede que tenha possibilidade de se reerguer no curto prazo e coloca pressão social aos temas do TSE e impeachment e põe mais lenha na fogueira. Não é coincidência que ontem Marcelo Odebrecht tenha autorizado a delação de outros diretores da Odebrecht e hoje sai a delação da Andrade”, disse. Segundo Aragão, está havendo descrença na possibilidade de o governo salvar os presos e a delação é a mais viável, o que abrirá a “porteira” para novos fatos.  

De acordo com o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro, não se pode negar que a chance de impeachment aumentou, em meio às novidades desta semana e com o isolamento da presidente em relação ao PT. O impeachment ganha mais força nesse cenário do que a cassação da chapa Dilma-Michel Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), este último sendo um processo bem demorado, afirma Ribeiro, enquanto o impeachment pode acontecer levando em conta a deterioração do apoio à presidente no Congresso.

Porém, ressalta, a delação da Andrade, por se referir à campanha anterior, de 2010, não deve ter um efeito tão direto na já deteriorada relação entre a Dilma e O PT. Por outro lado, os temores por novas delações podem afetar a relação entre a presidente e o partido. “O cenário é nebuloso, mas não há dúvida de que os riscos para Dilma aumentaram”.

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O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, destacou à Bloomberg que se caminha para uma “deterioração incontornável da presidente”. As chances de saída de Dilma ocorra via TSE parecem de maior peso, mas o processo de impeachment pode se acelerar, “dado que seria do interesse agora do PMDB que isso acontecesse”, afirma. “As chances hoje aumentaram sobremaneira, especialmente porque a presidente tem conseguido desagradar seu próprio partido”, disse Vale. “A própria sensação de paralisia afunda mais a economia, acelerando todo o processo”.

“Diria, assim, que há 70% de chance que ela caia, ou que apareça alguma solução que lhe tire poder, não sendo claro ainda timing e modo de se fazer isso”, destaca o economista. Porém, o mercado ainda não precificou possível saída de Dilma pois o timing e os meios para isso acontecer não estão claros. “Isso tende a se acelerar com a percepção da inviabilidade da presidente”. Caso ela fique, afirma Vale, a chance de algum passo crível de ajuste fiscal com Dilma como presidente é “zero‘‘: “a presidente não tem força para conseguir aprovar mais nada no Congresso”

Segundo o economista, o cenário em que Dilma permaneça no governo “vai levar a uma queda de PIB de quase 5% este ano‘‘ e de contração de 1% ano que vem, com viés de baixa. ‘‘Caso ela saia, a recuperação já se daria em 2017, com expansão de 0,6%”. 

Porém, segundo Flávio Caetano, advogado da presidente na campanha de 2014, “não há possibilidade legal de cassação de mandato na hipótese de se provar irregularidade em campanha anterior”. “As campanhas de 2010 e 2014 não se comunicam para efeitos de Justiça Eleitoral”, disse o advogado.

Para Richard Back, analista político da XP Investimentos e autor do blog Conexão Brasília pelo InfoMoney, a notícia não provoca grandes alterações no cenário político geral. Pode até trazer novos arranhões à imagem da presidente Dilma Rousseff, mas não deve, por si, ampliar o risco de impeachment. O especialista lembra que a situação seria mais complicada se impactasse diretamente o PMDB ou prejudicasse mais nas relações com o PT. Na avaliação dele, a relação entre Dilma e o partido que a elegeu segue ruim, mas teve uma trégua com o afastamento de José Eduardo Cardozo da Justiça e os acenos de Jaques Wagner ao ex-presidente Lula pelas redes sociais.

(Com Bloomberg)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.