Delação de Machado é grave e constrangedora, mas governo Temer tende a sobreviver

Delações mostram que Lava Jato não permite cenário estável para a política - mas cenário mais provável ainda é de confirmação de Temer em agosto

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Se o presidente interino Michel Temer estava comemorando semanas de maior calmaria no campo político, ele já pode ligar o sinal de alerta nesta quarta-feira (15). Além da derrota do presidente afastado da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha na Comissão de Ética ser um risco para o presidente interino, mais detalhes da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que envolve diretamente o presidente em exercício aumentaram o risco para ele. 

Nesta tarde, a íntegra da delação premiada de Machado veio à tona. A investigadores, o executivo falou que Temer pediu doação de R$ 1,5 milhão de propina para a campanha de Gabriel Chalita (ex-PMDB) à Prefeitura de São Paulo, em 2012. A conversa teria ocorrido numa sala reservada da base aérea de Brasília. Em maio, foi divulgado um dos áudios do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e Machado, em que já sinalizava que Temer pediu doações para Chalita. A notícia foi negada por Temer, que na época afirmou que nunca tinha se encontrado em lugar inapropriado com Machado. Porém, trouxe um forte efeito – mesmo que temporário –  para os mercados. 

Conforme destaca o analista político da Barral M. Jorge Juliano Griebeler, o cenário que se aponta no momento é de maior cautela, com os políticos devendo esperar se há provas sobre a doação por meio de propina. Griebeler reforça que esses tipos de acusações terão mais impacto até a votação do impeachment definitivo da presidente, que aumentam a turbulência política e pode ser usado para engrossar o discurso da “nova oposição” para atacar o impeachment. Contudo, vale ressaltar, as delações que estão vindo à tona mostram um ambiente em que todos os partidos políticos estão envolvidos, inclusive o PT de Dilma Rousseff – e isso não a beneficia neste processo. 

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“A acusação contra o presidente interino é grave, mas não deve afetar a base de apoio dele no Congresso”, afirma o analista político. Griebeler diz ainda que as acusações contra Temer tratam de eventos ocorridos em 2012: “embora para a opinião pública haja pouca diferença se o fato ocorreu no atual mandato ou no anterior, na área jurídica é uma questão importante”.

Sobre Cunha, o analista político ressalta que não se pode descartar a possibilidade de uma delação premiada de Cunha, ainda mais com as acusações existentes contra sua mulher Cláudia Cruz e investigação contra sua filha Danielle Cunha. “Estes fatores, somados à vontade de não cair sozinho e levar possíveis aliados que traíram assim como  desafetos, aumentam as chances de que Cunha recorra ao instrumento de delação premiada”, ressalta.

Para ele, não é possível medir quais os efeitos de uma possível delação de Cunha para Temer, pois ele pode revelar acontecimentos que prejudiquem outros partidos, como o PT e o PSDB. “Ainda, caso ele recorra à delação premiada, ela não deve sair antes da conclusão do impeachment, de forma que não afetaria a votação do processo pelo Senado”.

O relatório do Citi também mencionou voto pela cassação de Cunha ontem no Conselho de Ética como mais incertezas para a administração de Temer. Já a Eurasia escreveu em relatório que se Cunha for realmente cassado estaria disposto a cooperar com as autoridades para evitar a prisão, tornando-se um risco chave para a administração Temer. “É razoável esperar que muitos dos seus colegas do PMDB – incluindo Temer -possam ser afetados”, diz o relatório. Contudo, Cunha negou em sua conta de Twitter que tenha falado com alguém sobre delação até porque “não pratiquei crime e não tenho o que delatar”.

Por enquanto, destacou a Arko Advice em entrevista à Bloomberg, governo Temer tende a sobreviver, sempre com turbulência. A delação de Machado não muda a previsão de Temer confirmado em agosto e o teor está longe de ser um problema fatal e a situação é contornável. Contudo, vale destacar: a Lava Jato não permite governo estável no Brasil hoje. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.