Deixar sangrar? Oposição diverge sobre se deve haver ou não impeachment de Dilma

Não é só a relação PT-PMDB que mostra divergência; falas de importantes líderes do PSDB contra impeachment da presidente geraram reações bastante contundentes em outros partidos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Unidos nas críticas ao governo de Dilma Rousseff, os partidos de oposição têm apresentado divergências sobre suas estratégias e principalmente, sobre um tema bastante espinhoso.

As especulações sobre se deve defender ou não impeachment da presidente – em meio ao descontentamento da população com as medidas de ajuste e o ambiente bastante complicado de articulação política no segundo mandato – aumentam de forma proporcional à queda de popularidade da presidente. 

Enquanto o PSDB rechaça as articulações sobre impeachment – ao mesmo tempo em que se posiciona como oposição e procura participar de manifestações contrárias à presidente -, líderes de outros partidos oposicionistas ao governo se mostram favoráveis à tese do impeachment, o que ficou bem mais claro após as falas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do senador Aloysio Nunes na última segunda-feira.

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Em seminário no Instituto FHC, o ex-presidente tucano disse que “não adianta nada tirar a presidente”, enquanto Aloysio afirmou que não quer que a Dilma saia. “Quero sangrar a presidente. Não quero um país presidido por Michel Temer”. Em entrevistas anteriores, o ex-presidenciável Aécio Neves já havia dito que o pedido de impeachment não estava na pauta do partido, mas afirmou que não é crime falar sobre o assunto. 

As falas dos tucanos geraram reações diversas em outros partidos, com seus líderes se manifestando rapidamente nas redes sociais. O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), manifestou-se rapidamente contra as declarações de Aloysio e disse que, “diferentemente do PSDB, vou exigir a apuração dos fatos e os desdobramentos necessários para que possamos esclarecer a toda a sociedade brasileira a situação de total desgoverno e corrupção. Não dá para repetir o mesmo modelo que a Oposição optou em 2005 com o Mensalão, de esperar o presidente Lula sangrar. Quem sangra hoje é o Brasil”. 

Aloysio rebateu as falas e chamou a crítica de Caiado de “espalhafatosa” a “uma posição que não é a minha, como se minha fosse, chegando ao ponto de identificar, a partir de uma frase absolutamente desconectada do seu contexto, uma divergência de fundo entre o PSDB e DEM” e destacou que não fugiu do que normalmente fala em inúmeros pronunciamentos públicos.

“O impeachment, que pode ser proposto por qualquer cidadão, inclusive pelo senador Caiado, não é para mim um objetivo estratégico, mas o fruto de uma circunstância jurídico-política que o torne inevitável para a salvaguarda dos interesses do País. […] Cabe a pergunta: avalia o senador que essas condições já estão reunidas? Se estão, por que o líder do DEM ainda não protocolou o pedido de abertura do processo?” Caiado rebateu mais uma vez, ao dizer que o artigo 86 parágrafo 4º protege e exclui a presidente de ser responsabilizada por atos estranhos ao exercício de suas funções. Mas não impede a presidente de ser investigada.

Essa que deve ser a nossa luta. Por que Dilma foi excluída das investigações? Lula a indicou presidente do Conselho da Petrobras, ela autorizou a compra de Pasadena. Ela nomeou Graça Foster, diretores, foi citada pelos delatores. Mesmo assim não pode ser investigada?”, questionou Caiado. “Caro colega, não vou lhe acompanhar na sangria, vou lutar para saber se Dilma e Lula tiveram responsabilidades sobre os crimes praticados contra a Petrobras. É isso que o povo brasileiro espera de nós. 
Ao finalizar, cito um pensamento que você me ensinou”, concluiu em seu texto.

Já o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, manifestou-se em linha com Caiado, ao dizer que “alguns setores oposicionistas cometem um erro crasso ao imaginarem que pode ser correto politicamente deixar a Dilma sangrar! Quem está sangrando é o país e as mobilizações da cidadania estão dizendo isto e ao mesmo tempo exigindo mudança de rumo, já. E alertam, senão a transfusão pode vir a ser inócua e temerária”. 

Pelo que parece, não é somente o PT e a base aliada que tem divergências sobre a forma de condução do Brasil. Os partidos oposicionistas também têm posições divergentes sobre questões bastante relevantes para o País. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.