Decisão rápida de Michel Temer desidrata seu principal adversário político

Em questão de dias, Rodrigo Janot vai de protagonista da bomba contra o governo a principal derrotado na sucessão da PGR

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A semana começou com a figura de Rodrigo Janot ocupando os holofotes da política nacional com a apresentação da denúncia contra o presidente Michel Temer junto ao Supremo Tribunal Federal por suposta prática de corrupção passiva e pode encerrar com a desidratação do procurador-geral da República, após uma avalanche de acontecimentos esperados e inesperados.

Embora tenha visto seu aliado e candidato a sucessor preferido, o subprocurador Nicolao Dino, liderar a lista tríplice da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) elencada pela categoria, a decisão do peemedebista por escolher Raquel Dodge, segunda mais votada entre os pares, na contramão de uma praxe adotada desde o governo de Luiz Inácio Lula da Silva representa uma dura derrota ao atual PGR. Isso porque a escolhida atua como uma das principais opositoras de Janot na instituição. Em setembro, Raquel Dodge será a primeira mulher a comandar a PGR na história do país, e o futuro de marcas da gestão de seu antecessor ainda é incerto.

Do lado das acusações contra o presidente Michel Temer, a despeito de toda a repercussão e do terremoto político que causaram e causarão por muito tempo, inclusive obstruindo o item principal da agenda de reformas do governo, há uma crescente percepção de que faltou robustez de provas no material apresentado. Apesar da contundência e a gravidade da conduta assumida pelo peemedebista em encontro com Joesley Batista — no mínimo pela omissão (prevaricação) em relação às sérias confissões de crimes cometidos pelo empresário –, especialistas veem lacunas e deficiências na peça apresentada ao Supremo Tribunal Federal e agora encaminhada à Câmara dos Deputados.

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Quem teve a oportunidade de ler a denúncia na íntegra se deparou com uma acusação baseada na gravação de conversas e delações premiadas. Há grande dificuldade em comprovar que o presidente foi o beneficiário final da mala com R$ 500 mil entregues a Rocha Loures, embora este tenha sido apontado como interlocutor confiável. O resultado do curto período de investigação não trouxe o “caminho do dinheiro”, laudos bancários ou tributários. Este foi exatamente um dos pontos explorados por Temer em pronunciamento agressivo, marcado por um enfrentamento a Joesley Batista e, principalmente, Rodrigo Janot.

Em seu discurso, o enfraquecido e cada vez mais contestado presidente — que teve dificuldades até para reunir aliados de peso no evento — explorou outro ponto fraco da estratégia do procurador-geral em, atento ao desgaste político gerado ao presidente, optar por fatiar a denúncia em três. Para Temer, tal decisão mostra a politização do processo e uma iniciativa a prejudicar a retomada da economia brasileira por meio do atraso na agenda de reformas. A despeito da grave crise em que está imerso, o peemedebista se esforça para desgastar a imagem de Janot. A ideia é vincular ao PGR a uma imagem de perseguição de lideranças políticas e a politização de processos.

Mas o principal ataque a Janot foi o “timing” em que se deu o anúncio de Raquel Dodge, mesmo alguns meses antes da troca de comando na PGR. Com a confirmação da vitória da opositora, as posições do procurador-geral serão vistas com maior reserva, tendo em vista a consequente perda de poder. A celeridade de Temer neste movimento também dificulta a possibilidade de Janot contestar a legitimidade de o presidente escolher quem comandará a Procuradoria, tendo em vista a denúncia que tramita contra ele (e as outras duas que ainda estão por vir). Derrotado, ele poderá ser acusado de agir de acordo com seus próprios interesses.

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Em questão de dias, parte do poder de Janot pode ter se dissipado. Vale lembrar que, embora não tenha sido votada pela maioria dos procuradores, Raquel Dodge recebeu o apoio de 587 procuradores — 34 a menos que Nicolao Dino –, o que lhe garante respaldo na categoria e evita futuras dificuldades políticas e institucionais.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.