De elefante branco à Brazuca em chamas: o que os “gringos” estão falando de nós?

InfoMoney acompanhou as publicações de 7 importantes agências de notícias internacionais para sentir o que os estrangeiros estão esperando da Copa do Mundo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – À medida que a Copa do Mundo vem se aproximando, o Brasil vira mais uma vez o foco da mídia mundial. Mas desta vez nem tanto pelo evento em si: quem tem roubado a cena na imprensa internacional são os manifestantes, que justamente estão mostrando a contrariedade com a realização do maior evento do mundo no País, além de indicar também os problemas enfrentados para fazer o que seria uma das “maiores festas” dos últimos anos.

No último final de semana, o portal CNBC reproduziu uma matéria do Global Post explicando quem são os “anarquistas” algozes da Copa, em referência aos Black Blocs, que ganhou destaque por insurgir contra a polícia e causar tumultos durante as manifestações.

De acordo com a reportagem, a polícia alega que os militantes formam um grupo extremista, enquanto a imprensa local tem publicado denúncias alegando que os Black Blocs são financiados por estrangeiros com a intenção de estragar o momento de glória da nação.

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Porém, em declarações ao Global Post, um veterano do movimento afirmou que o Black Bloc não é exatamente uma organização. Pelo contrário, eles não têm liderança, mas afirmou que estão com raiva e determinados “a levantar o inferno”.

O veterano, chamado de AM, explicou ao jornal que está irritado com os gastos de US$ 11 bilhões na Copa do Mundo, enquanto o Brasil se defronta com diversas deficiências no campo da educação e saúde. “A crise é mundial. As pessoas estão vendo que a democracia representativa não representa ninguém – seja no Brasil, Londres, na Grécia ou em qualquer lugar. Quando as pessoas vão para as ruas, elas se tornam atores políticos”, ressaltou.

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Cadê o entusiasmo, questiona o FT
Como não poderia deixar de ser, o jornal britânico Financial Times também teceu críticas sobre o evento. Em matéria do último final de semana, o FT destacou que, mesmo não sendo à toa o título de que o Brasil é o País do Futebol por ter ganhado 5 Copas do mundo, os brasileiros estão pouco entusiasmados com o torneio.

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E, para a publicação, não é somente a onda de greves e protestos que está dando essa impressão: o “burburinho nas ruas”, que geralmente precede a Copa do Mundo com as ruas sendo enfeitadas, não está muito em evidência este ano.”Normalmente, estes movimentados já teriam começado logo após o Carnaval no início de março”, afirmou.

Com isso, o jornal britânico questiona se o Brasil ainda é o País do Futebol. Para a FT, duas razões justificam a ambivalência dos brasileiros: o desânimo em meio às críticas de corrupção no evento e os fatores demográficos. Sobre este segundo fator, a reportagem explica que o Brasil está ficando mais velho e mais ocupado do que era nas décadas anteriores e, com isso, há menos tempo para se pensar em futebol.

“O governo está fazendo o seu melhor com as propagandas dizendo brasileiros para encenar a ‘Copa das Copas’, ou a maior Copa do Mundo de todos os tempos. Apresentando números incompreensíveis sobre os supostos benefícios do torneio para o emprego e o investimento, os anúncios tentam convencer os brasileiros o torneio é o seu torneio”, ressalta a publicação. Contudo, o FT acredita que, com o evento se aproximando, o antigo entusiasmo e a energia devem voltar: “só que agora, com outras coisas em mente além do jogo bonito”.  

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Dilma e os elefantes brancos
Além de falar sobre o sentimento dos brasileiros em relação à Copa do Mundo, o Financial Times também destacou os protestos que varrem o Brasil às vésperas do evento, em um momento bastante complicado para Dilma Rousseff, que é pressionada enquanto se aproximam as eleições presidenciais de outubro.

Em outro artigo, o FT ainda ressaltou os “elefantes brancos” com os quais o Brasil deve se deparar após a realização do evento, com custos muito altos para a construção de estádios em cidades que não há nem mesmo um torneio bem organizado de futebol. Muitas cidades-sede menores ainda não sabem claramente como viabilizar financeiramente os seus estádios após o fim do torneio, enquanto grandes projetos de infraestrutura permanecem inacabados.

No final de abril, FT fez críticas ao governo brasileiro tendo como pano de fundo a Copa, que terá início em menos de dois meses. Segundo o jornal, o evento é uma nuvem negra no horizonte de Dilma Rousseff, que é candidata à reeleição este ano. Além de questionar a capacidade do governo em fazer com que o Brasil sedie este complexo evento, a matéria destacou ainda as manifestações ocorridas durante a Copa das Confederações, em junho de 2013, que teriam chocado a classe política brasileira. 

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A reportagem destaca que as manifestações se intensificaram mais no Rio de Janeiro, apontando a falta de infraestrutura e a falha das políticas de pacificação de favelas, fazendo a população ficar assustada. E avalia: “se os manifestantes retornarem às ruas, não serão necessários muitos incidentes envolvendo gangues cariocas e turistas para que ocorram dúvidas quanto a competência de Dilma Rousseff”.

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El País: Imagine in World Cup
Já o jornal espanhol El País publicou matéria para o seu site em português com o título “Imagine in World Cup”, ressaltando o caos nos aeroportos do País em dias normais e por isso questionou: “imagina na Copa?”. 

“A espera para sair do País é surpreendente até para os brasileiros que suportam filas de mais de meia hora só para mostrar o passaporte. No dia 24 de abril por exemplo, duas horas antes da saída de um voo internacional, as comissárias apressavam os passageiros a entrarem rapidamente na área de embarque para não perder o avião”, destacou a publicação.

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O El País lembra que os aeroportos do Brasil se preparam para receber cerca de 600 mil visitantes durante a Copa sendo que, num dia normal, o aeroporto de Guarulhos (SP) recebe 5 mil estrangeiros, com quase 5 mil saindo diariamente pelo mesmo lugar. 

Protesto no Galeão

National Post: protestos até na frente do ônibus da seleção
jornal canadense National Post destacou os protestos que foram feitos durante a chegada da seleção brasileira no centro de treinamento em Teresópolis (RJ). Algumas centenas de manifestantes protestaram contra os altos gastos do governo para realizar o evento.

Dentre os cartazes, destacam o jornal, estavam o “Não vai ter Copa, vai ter greve” e “Precisamos de escolas e não de estádios”. Os manifestantes eram compostos principalmente de professores e funcionários da educação que exigem melhores escolas. O National Post publicou ainda diversas fotos das manifestações. 

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Protestos 11

Reuters: Copa é um campo minado para Dilma?
a agência de notícias Reuters destacou que a Copa se converteu em uma dor de cabeça para a presidente Dilma, em meio à pressão da FIFA, os protestos sociais em um momento crucial para o Brasil e os diversos problemas econômicos que enfrenta: baixo crescimento e alta inflação. 

Na melhor das hipóteses, a presidente Dilma poderia tentar uma ligação temporária entre o triunfo na Copa e as eleições. Porém, esse entusiasmo provavelmente se desgastaria em poucas semanas, uma vez que há um importante intervalo entre julho e outubro, e o entusiasmo pode esfriar. Já na pior das hipóteses, a saída precoce do torneio poderia aumentar as frustrações com a forma como o Brasil está e alimentar um crescente desejo de mudança. 

“Sem o time da casa para torcer, mais brasileiros podem se sentir tentados a se juntar aos protestos de rua, criando uma situação potencialmente volátil para Dilma administrar. Assim, o que era para ser um orgulho nacional pode se tornar um campo minado político para a presidente”, ressaltou a Reuters. 

Protestos 3

Der Spiegel: “brazuca” pega fogo
Em meados de maio, a revista alemã Der Spiegel destacou em reportagem os riscos da Copa no Brasil, tendo como imagem da capa a “Brazuca”, bola oficial do evento, pegando fogo como um meteoro que cai no Rio de Janeiro.

A revista destacou ameaças de greve e riscos de distúrbios, além de citar o noticiário repleto de violência e o grande descontentamento da população com a economia, além de insegurança, atrasos em obras, educação e saúde. 

O Der Spiegel entrevistou o fundador da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa. Ele se disse a favor das manifestações durante a Copa. “Nós não vamos ganhar nada com esta Copa. Nada vai mudar para nós”, afirmou. 

Der Spiegel

NYT faz questionamentos sobre a Copa no Brasil  
O New York Times também destacou, em meados de abril, os atrasos e os altos custos nas obras da Copa, que são somente a ponta mais visível dos problemas dos problemas de infraestrutura enfrentados pelo Brasil. Esta situação, apontou o jornal, demonstra a fraqueza do capitalismo de Estado no Brasil. 

A desaceleração da economia é apontada como um dos pontos responsáveis pelo atraso ou abandono de importantes obras. Dentre elas, a Ferrovia Transnordestina, que compõem o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) – que foi um dos grandes catalisadores políticos para Dilma Rousseff em sua eleição à presidência – parques eólicos sem conexão com linhas de transmissão, além de um parque abandonado em Natal (RN) e o hotel Glória, no Rio de Janeiro, que teve financiamento do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). 

“Os fiascos estão se multiplicando, revelando uma desordem que é infelizmente sistêmica. Estamos despertando para a realidade que imensos recursos foram desperdiçados em projetos extravagantes enquanto nossas escolas públicas ainda são uma bagunça”, disse ao jornal Gil Castello Branco, diretor da ONG Contas Abertas. Já o professor do Insper, Sérgio Lazzarini, destacou que “muitas obras nunca mereceram dinheiro público”, destacando ainda que o próprio governo cria os riscos em projetos que o próprio deveria evitar.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.