“Day after”: o que acontecerá com a economia e o mercado após a votação do impeachment?

Análises falam em guinada à esquerda caso processo seja aprovado e turbulência, mas com início de recuperação caso impeachment passe

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff ocorrerá na Câmara dos Deputados no próximo domingo (17) e, de acordo com o mapeamento de jornais como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, já há adesões suficientes para que o processo vá para o Senado, com 342 deputados votando a favor da abertura do processo. As indicações são de que, se o processo passar na Câmara, o Senado não reverterá o processo e Dilma estaria perto de sair. Mas quais são os cenários apontados para o pós-votação do impeachment?

Em carta ao mercado assinada pelos gestores Alexandre Póvoa, Daniela Pfeiffer, Eduardo Roche e Antonio Dupim, a Canepa Asset coloca dois possíveis caminhos para os desdobramentos do processo que terá uma primeira definição no domingo.

Dilma segue presidente
O primeiro, em que a presidente Dilma Rousseff continua no poder, mostra boas chances de que ela não consiga aprovar reformas importantes com o apoio de apenas um terço do Congresso. Neste caso, ela sofreria pressão do PT para tomar medidas de expansão dos gastos para tentar reaquecer a economia e distribuição mais farta de crédito. A Canepa vê como bastante difícil que ela conceda autonomia para a articulação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rumo a uma política de conciliação com o mercado como a adotada em 2003. 

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Na mesma direção vai o Barclays, que, em relatório, afirma que caso o impeachment não for aprovado, ou na Câmara ou no Senado, o governo se inclinaria para políticas bastante heterodoxas, em linha com o programa do PT, cujas consequências são preocupantes. O ex-presidente Lula estaria por trás das decisões do governo, como a sua nomeação ao cargo de ministro sugere. Com isso, o Barclays teme que as reservas internacionais possam ser usadas e aumentando as preocupações sobre a solvência nacional.

Além disso, o governo vai também deve aumentar os gastos sociais, enquanto reverteria apenas parcialmente alguns dos subsídios dos últimos anos. O mais preocupante, afirma, é de não haver nenhum senso de urgência para colocar as contas fiscais em qualquer trajetória de consolidação, como toda a comunicação da equipe econômica já aponta neste direção. “A falta de compromisso com a solução fiscal deve arrastar o sentimento ainda mais para baixo e poderia levar a uma recessão neste e nos próximos, nós acreditamos”.

“Com limites para as políticas que podem ser realizadas, uma vez que pode levar a preocupações de hiperinflação em meio a um caminho de aumento da dívida descontrolada, e, portanto, de temores de insolvência, é difícil imaginar como este governo poderia tentar permanecer no poder com um apoio político tão frágil após este processo de impeachment. O governo perdeu muitos partidos de coalizão, especialmente o PMDB”, destaca o banco. Assim, para o Barclays, recorrer a políticas de curto prazo podem ter consequências desastrosas a médio prazo. 

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Com tudo isso em vista, a Canepa acredita que o Ibovespa cairia aproximadamente 25%, a 40 mil pontos e os DIs curtos recuariam com força, diante de perspectivas de que o Banco Central cedesse ao PT e cortasse juros.

Temer tira o “vice” do cargo
O segundo cenário, de impeachment, teria como bastante provável um governo de transição liderado por Michel Temer, que tentaria “evitar que as coisas continuem piorando” até as eleições de 2018. “Dificilmente, sem a legitimidade do voto popular e com a insatisfação geral em relação aos políticos, o novo governo conseguirá emplacar uma agenda de reformas mais profunda”, diz a carta da Asset.

O Barclays, concorda com a possibilidade de um governo de transição, que deverá ser turbulento e, uma vez que o País ainda está dividido. Temer deve enfrentar dificuldades para conseguir uma coalizão necessária para a realização de reformas estruturais necessárias que colocariam o Brasil numa trajetória fiscal mais sustentável. Porém, haveria algumas mudanças na política macroeconômica que seriam positivas para as expectativas de inflação. 

A mais importante delas aconteceria no mercado de crédito. Em linha com o programa do PMDB “Uma Ponte para o Futuro”, a expectativa é de que o uso de bancos públicos irá cair, em um forte contraste com as políticas preconizadas pelo PT, levando a uma política monetária mais eficiente. 

Há vários desafios a partir do quadro econômico atual, mas as mudanças levariam a um cenário mais tranquilo até o próximo ciclo eleitoral, em outubro de 2018. “Nós não esperamos que os déficits fiscais se reverterão neste ínterim, e a dívida bruta provavelmente vai continuar a subir, atingindo 87% do PIB até 2018, ante 67% no ano passado”.

Afirma o banco que uma mudança ótima seria a remodelação do Executivo e também do Legislativo. Para o Barclays, a mudança do governo é uma condição necessária, mas não suficiente, para aprovar reformas estruturais e restabelecer a confiança. O governo precisará fazer mudanças constitucionais que estão deixando o orçamento rígido. “Isso exigirá algo contrário ao que ocorre agora: lideranças políticas no Executivo e Legislativo, sem implicações na Operação Lava Jato, além de um congresso menos fragmentado”.

O Barclays avalia que, em 2018, um Legislativo menos fragmentado surgirá: com o fim do financiamento privado de campanha, o banco avalia que muitos partidos devem se fundir para reduzir os custos. Por outro lado, “a combinação de exaustão da população com a política e as regras mais duras para doações de campanha podem levar as partes a procurarem candidatos apolíticos com algum reconhecimento de nome, como tem sido o caso em outros países com a eleição de celebridades e líderes de opinião, que não têm nenhuma ligação direta com a Lava Jato. Este é um risco que poderia levar o país para a extrema direita ou extrema esquerda do espectro político, como observado nesses outros países”. 

Para o banco, até 2018, a turbulência e a incerteza provavelmente vão continuar.

Alternativamente, Temer poderia criar um ministério de alto nível e se aproveitar dos dois terços de base teórica no Congresso para propor reformas profundas e duradouras. Esta segunda hipótese, contudo, é vista como bastante improvável para a Canepa.

Para a Asset, em um cenário de impeachment, apesar de toda a turbulência, a Bolsa deve subir até os 59 mil pontos e os DIs curtos também registrariam alta, precificando a austeridade de um novo BC mais ortodoxo. No entanto, os gestores esperam uma correção a partir de maio por causa da “grave situação econômica brasileira”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.