Datafolha indica fim da lua de mel de Bolsonaro e decisão difícil à frente

Se for percebido como líder pouco popular pelo mundo político, presidente naturalmente terá posição diminuída nas negociações, o que tende a reforçar a demanda por concessões. Pressão da base, porém, deve persistir

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Perto de completar 100 dias no comando do país, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) registra a pior avaliação entre os presidentes eleitos para um primeiro mandato desde a redemocratização de 1985, segundo o Datafolha. De acordo com a pesquisa, 30% dos brasileiros consideram o governo do pesselista ruim ou péssimo, ao passo que 32% o avaliam como ótimo ou bom e 33%, regular. O resultado é similar ao apresentado pela pesquisa XP/Ipespe na última sexta-feira (5).

Conforme analisaram Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, e Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do instituto, o desempenho de Bolsonaro se explica em boa medida pela imagem transmitida por ele no cargo em pouco mais de três meses de governo. Para parcela relevante dos entrevistados, o presidente é despreparado (44%) e indeciso (42%). A pesquisa também mostrou que metade dos entrevistados julga que Bolsonaro “trabalha pouco”.

Na região Sul, onde conquistou 68% dos votos válidos nas eleições, Bolsonaro agora tem seu governo classificado como ótimo ou bom por apenas 39%. Para 54% dos sulistas, o presidente fez menos do que o esperado. No Sudeste, onde obteve 65,4% dos votos válidos, o quadro segue tom parecido: 59% de eleitores frustrados.

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De um lado, há quem veja na sucessão de polêmicas envolvendo o governo um motivo para a perda de popularidade de Bolsonaro. De postagem obscena no Twitter à determinação ao Ministério da Defesa para as “comemorações devidas”, em quartéis, no último dia 31 de março, em referência à ditadura militar, comportamentos adotados pelo presidente renderam críticas neste início de gestão.

Por outro lado, também pesa o persistente quadro de fragilidade econômica e de alto nível de desemprego, em média de 12,4% no trimestre encerrado em fevereiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). São 13,1 milhões de pessoas desempregadas e 4,9 milhões de desalentadas, que desistiram de procurar emprego.

O fato de a agenda prioritária do governo nestes primeiros meses ser a impopular reforma da Previdência também pode ajudar a explicar o movimento de perda de aprovação mais abrupto vivenciado pelo presidente Bolsonaro. Tal agenda costuma sofrer rejeição ainda maior entre eleitores de baixa renda e da região Nordeste, justamente os recortes em que o presidente tem pior desempenho e performou pior na eleição.

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Os números marcam o fim do período de lua de mel do presidente com o eleitorado, movimento que também se mostrou com intensidade no mercado financeiro. E, no caso de Bolsonaro, a popularidade tem peso ainda mais relevante para sua governabilidade, dado o pouco espaço destinado a alianças políticas e tendo em vista os atritos experimentados com o parlamento.

Se for percebido como líder pouco popular pelo mundo político, o presidente naturalmente terá posição diminuída nas negociações, o que tende a reforçar a demanda por concessões. Neste caso, a rota de colisão com os anseios do núcleo duro do eleitorado bolsonarista se faria ainda mais visível.

O resultado do Datafolha coloca Bolsonaro diante de uma escolha importante: ou se convence da necessidade de composição com a política, dando continuidade ao movimento feito na semana anterior de se reunir com presidentes partidários. Ou  dobra a aposta da radicalização do discurso, voltando-se para seu eleitor mais fiel. O desfecho deste processo influenciará os próximos passos do governo, como a da reforma previdenciária.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.