Da intervenção inócua para Temer ao ‘teflon’ de Lula: 5 conclusões com a nova pesquisa eleitoral

Levantamento divulgado na última terça-feira confirmou indicações de sondagens anteriores, mas também trouxe novas informações para a compreensão das disputas que tomarão corpo nos próximos meses

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Na última terça-feira (6), foi divulgada uma nova edição da pesquisa CNT/MDA, com o cenário para as eleições presidenciais e a avaliação dos brasileiros sobre alguns dos principais temas em debate no país. O levantamento confirmou indicações que sondagens anteriores já apontavam, mas também trouxe novas informações para a compreensão das disputas que tomarão corpo nos próximos meses. Com um quadro ainda tão aberto, os números podem ser úteis para fazer dissipar a espessa névoa que incide sobre o jogo pela sucessão de Michel Temer no Palácio do Planalto. A seguir, listamos algumas possíveis interpretações dos dados apresentados:

1. O teflon de Lula

O levantamento de ontem mostrou algo que pesquisa realizada pelo instituto Datafolha já havia revelado uma semana após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em segunda instância, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com ampliação de pena, para 12 anos e 1 mês de prisão: a resiliência do líder petista. Mesmo com uma nova enxurrada de manchetes negativas, Lula não perdeu em intenções de voto, embora os riscos de inelegibilidade tenham crescido com o avanço do processo, assim como de prisão.

Como lembrou Mauro Paulino, diretor do Datafolha, episódios anteriores confirmam a resistência de Lula a fatos negativos. “Durante o auge do noticiário sobre o ‘mensalão’, Lula perdeu prestígio e depois acabou recuperando. Mais recentemente, na condução coercitiva e no depoimento, que foram amplamente divulgados, ele ganhou popularidade. Essa resistência que Lula apresenta perante a opinião pública, baseada na lembrança que as pessoas têm de seu governo, principalmente os menos favorecidos, me faz crer que, com a eventual prisão ou mesmo mais pessoas tomando conhecimento da condenação, ele tem tendência a ser beneficiado”, disse em entrevista concedida ao InfoMoney em fevereiro. O especialista não descarta que a narrativa de que o ex-presidente é vítima de uma perseguição política possa ter apelo popular, contudo, pondera ser necessário aguardar próximos estudos.

A ausência de uma queda no desempenho de Lula nas pesquisas eleitorais não chega a surpreender os analistas. Em janeiro, Paulo Gama, da XP Investimentos, já dizia não esperar reações bruscas ao julgamento no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). “Acho que os eleitores dele não ignoravam que ele havia sido condenado, e não vai ser mais uma, ainda que com essa perspectiva de inelegibilidade, que vai fazer com que esse eleitor olhe de maneira diferente para a situação”, observou em entrevista ao programa Conexão Brasília.

Conforme mostrou a pesquisa divulgada ontem, dos nomes avaliados, Lula é o possível candidato com menor taxa de rejeição. 46,7% dos entrevistados disseram que não votariam nele de jeito nenhum. Eis os percentuais apresentados por seus adversários: Ciro Gomes, 47,8%; Geraldo Alckmin, 50,7%; Jair Bolsonaro, 50,4%; Marina Silva, 53,9%; Michel Temer, 88,0%; Rodrigo Maia, 55,8%.

2. PT sem ‘plano B’ efetivo

Com os riscos cada vez maiores de o ex-presidente Lula ser impedido de disputar as eleições, o PT enfrenta dificuldades na construção de outra candidatura. Mesmo que o partido sustente não trabalhar com um “plano B” neste momento, o desempenho dos principais nomes ventilados como possíveis substitutos de Lula nas pesquisas preocupa. Não será tarefa fácil a sigla construir uma candidatura competitiva até outubro, mesmo com o histórico favorável de transferência de votos de seu maior líder. Por outro lado, segundo o levantamento CNT/MDA, 26,4% dos eleitores disseram que poderiam votar dependendo do candidato e 16,4% votariam em qualquer nome apoiado pelo petista. Em um pleito fragmentado, tais índices podem garantir uma vaga no segundo turno.

Nesse sentido, a força do líder petista não pode ser subestimada, mesmo caso seja confirmada sua impossibilidade de participar diretamente da corrida presidencial. “Ele vai continuar sendo um cabo eleitoral importante na disputa, principalmente para o PT e para os candidatos do campo da esquerda no Nordeste, principalmente”, observou o analista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice.

3. Bolsonaro não veio para brincar

Em contraste com todo o ceticismo que recai sobre a viabilidade de sua candidatura, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) mantém bom desempenho nas pesquisas. Nos cenários em que o nome de Lula não é considerado, o parlamentar lidera com folga a corrida presidencial, mesmo sendo sua primeira participação em uma disputa desta magnitude. Ainda há muitos desafios ao ex-capitão do Exército, mas não se pode negar que sua candidatura é uma realidade e que não pode ser desconsiderada a chance de ele avançar para o segundo turno.

Enquanto a centro-direita busca consolidar um nome para a corrida presidencial, Bolsonaro já faz estragos em bases tradicionalmente tucanas, roubando eleitores que Geraldo Alckmin terá de se esforçar para recuperar. Conforme apontado pelo Instituto Paraná Pesquisas, além de liderar a disputa em nível nacional quando Lula não é avaliado, o deputado aparece na dianteira em três dos principais colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

4. Problemas na centro-direita

Nenhum nome pró-reformas econômicas encantou o eleitorado até o momento. No cenário com Lula na disputa, a soma de votos em Alckmin, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Michel Temer chega a 7,9%. Sem o ex-presidente, o percentual sobe pouco, para 10,7%. Na avaliação da equipe de análise política da XP Investimentos, o mau desempenho de tal espectro político favoreceria uma aglutinação entre os partidos da coalizão que surgiu com o impeachment de Dilma Rousseff. Por outro lado, o ambiente também incentiva candidaturas, ao permitir que todos sonhem em ser esse nome capaz de unificar a centro-direita.

Hoje, acredita-se que Geraldo Alckmin largue na frente, muito em função da estrutura partidária do PSDB, da máquina paulista e dos avanços realizados em costuras de alianças. O tucano, porém, enfrenta grandes dificuldades em crescer nas pesquisas. Até o momento, ele não “empolgou”, o que amplia a pressão sobre seu nome. No momento em que ele deixar o Palácio dos Bandeirantes para confirmar sua candidatura ao Palácio do Planalto, Alckmin precisará mostrar aos potenciais aliados que é um nome viável para a disputa de outubro.

As dificuldades e resistências próprias para uma aproximação com o núcleo duro do atual governo são outro obstáculo ao tucano. Apesar de impopular, Michel Temer faz parte de um importante partido, com ampla capilaridade, recursos e precioso tempo de televisão. Além disso, o emedebista detém o controle da máquina pública, o que pode fazer muita diferença em um pleito com maiores dificuldades de financiamento.

5. Economia e intervenção no RJ não ajudam Temer

A avaliação dos brasileiros sobre o governo apresentou uma pequena melhora, dentro das margens de erro. Essa poderia ser uma notícia positiva para o presidente Michel Temer. Contudo, quando se observa a percepção dos entrevistados acerca da intervenção federal na segurança pública do estado do Rio de Janeiro, nota-se que o emedebista até o momento ganhou muito pouco capital político com o evento. Segundo o levantamento CNT/MDA, 69,0% dos entrevistados são a favor da medida. Outro dado curioso: 62,8% são a favor da criação do Ministério da Segurança Pública.

“Apesar de uma leve queda na desaprovação, o fato de a intervenção ter apoio popular ainda não se traduz em uma melhora na avaliação dele. Além disso, uma parcela considerável do eleitorado ainda acha que o Brasil está em recessão. Não há sensação de melhora no dia a dia das pessoas”, observou Borenstein. Segundo a pesquisa divulgada ontem, apenas 28,6% dos entrevistados acreditam que o país começa a sair da crise econômica. Outros 65,4% consideram que o país permanece em crise.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.