Crise política é maior ameaça à economia do Brasil, ressalta consultoria britânica

O escândalo de corrupção na Petrobras, que saltou para o topo de uma já longa lista de problemas que enfrentam o governo da presidente Dilma Rousseff e a economia do Brasil

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O escândalo de corrupção na Petrobras se transformou no maior vento contrário que o Brasil enfrenta na economia, de acordo com a consultoria Capital Economics. E, segundo a consultoria, a vítima mais imediata tem sido o real, que caiu para uma mínima em onze anos e parece destinada a elevar as taxas de juros ainda mais nos próximos meses. “Mas talvez mais importante, a crise parece que seja, provavelmente, o último prego no caixão da tão necessária reforma econômica”.

Durante a semana passada, a situação continuou a partir do escândalo de corrupção na Petrobras, que saltou para o topo de uma já longa lista de problemas que enfrentam o governo da presidente Dilma Rousseff e a economia do Brasil.

E, nesta atualização, durante a semana passada, a expectativa e a divulgação da lista dos nomes dos que serão alvo de inquéritos no esquema de corrupção na Petrobras saltou para o topo de uma já longa lista de problemas que enfrenta o governo da presidente Dilma Rousseff.

“No passado, nós argumentamos que o escândalo tinha o potencial para dividir a coalizão do governo e inviabilizar o programa do presidente Rousseff, que inclui o planejamento de um aperto fiscal. E eventos ao longo dos últimos dias sugerem que estas preocupações foram confirmadas. Na semana passada, surgiram notícias que o líder do Senado Renan Calheiros estava em uma lista de mais de 50 políticos a serem investigados.

Pouco depois, ele deu o passo altamente incomum de rejeitar um decreto presidencial de medida provisória tratando-se da desoneração da folha de pagamento (e fazia parte dos planos de austeridade do governo). Assim, Renan deu uma resposta direta à sua inclusão na lista de políticos a serem investigados.

E o que vem depois? A equipe de análise econômica da consultoria destaca que não pretende fazer uma visão política sobre o assunto, mas destaca que está claro que a crise tem escalado para o que se aponta uma paralisia do governo, que já tinha uma coalizão já frágil. E ela se acentuou com o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, abertamente hostil para muitos dos planos da presidente Dilma. E com a maior parte dos 50 ou mais políticos sob investigação vindo, há uma margem clara para uma maior fragmentação.

Alguns argumentaram que tudo isso poderia desencadear um plano para remover a presidente Dilma Rousseff do poder. “Mas, enquanto o seu apoio está prejudicado no Congresso, a menos que a investigação mostre uma ligação direta de Dilma no escândalo, a probabilidade de impeachment permanece baixa. Em vez disso, é mais provável que o seu programa de governo enfrente um impasse no Congresso e Dilma se torne uma presidente “carta fora do baralho”.

E as implicações econômicas? “Se estivermos certos, haverá sérias implicações para a economia e mercados financeiros”. No campo político, pode comprometer os planos de austeridade do governo, uma vez que cerca de metade das medidas fiscais previstas exige aprovação pelo Congresso. “Se o Congresso rejeita as medidas, o governo terá que alterar os planos (atrasando assim a execução) ou aceitar derrapagem orçamental. Este último irá resultar em um déficit orçamentário maior e, consequentemente, exigir política monetária mais apertada. Como as coisas estão, com o real no patamar de R$ 3,00, esperamos pelo menos mais uma alta de 0,50 ponto percentual na Selic, mas os sinais de que os planos fiscais estão sendo diluídos justificaria novos aumentos”.

A segunda área-chave que será afetada pela crise política é o mercado financeiro. O real já caiu 15% em relação ao dólar até agora. É fato que o dólar ganhou forças no mundo todo, mas o real caiu mais do que todas as moedas dos grandes países emergentes, o que sugere que as preocupações políticas já estão começando a pesar sobre os mercados financeiros. A Capital Economics destacou esperar que o dólar acabasse o ano em R$ 2,85 mas, tendo em conta os vários problemas econômicos e políticos enfrentados pelo Brasil, revisou sua previsão para R$ 3,20.

A terceira área que será afetada pela crise política é a economia,uma vez que pode pesar sobre a decisão dos consumidores e a confiança das empresas. “Mas, mais fundamentalmente, as divisões crescentes na coalizão de governo significa que a probabilidade de que aconteçam as reformas radicais necessárias para relançar a economia é praticamente inexistente”. E, com as chuvas fortes diminuindo o risco de racionamento de energia, a crise política é o principal fator para se ter atenção, afirma a Capital Economics. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.