Crise no Brasil vai piorar antes de melhorar, diz Financial Times

O jornal cita as manifestações do último dia 15 em meio ao descontentamento da economia e diz que Brasil caiu em desgraça por sua própria culpa

Lara Rizério

SÃO PAULO – Em matéria do último final de semana, o jornal britânico Financial Times afirma que o Brasil deixou seu estado de graça – e por sua própria culpa. E a situação nacional irá piorar muito antes de melhorar. O jornal cita as manifestações do último dia 15, destacando que mais de 1 milhão de manifestantes foram às ruas para expressar o seu descontentamento, em meio ao possível racionamento, o escândalo de corrupção na Petrobras e à desaceleração na economia.

O FT destaca ainda o Datafolha, mostrando a presidente Dilma Rousseff com uma aprovação de 13%, a menor já registrada desde Collor. “Parece que foi ontem que o país foi festejado como a ‘bola da vez’. Portanto, a sua queda em desgraça tem sido espetacular. Infelizmente, a situação ainda pode piorar”.

E uma grande parte da culpa recai sobre o próprio Brasil, afirma o jornal. Durante grande parte da década de 2000, o País desfrutou de um boom de commodities sem precedentes. Isso reforçou seus termos de troca, inchou as receitas do governo, impulsionando salários internos e um boom do crédito interno. “Quando os investidores clamavam para comprar em 2010 US$ 70 bilhões através da oferta de ações da Petrobras – a maior do mundo – o Brasil realmente parecia ser ‘O melhor país do Mundo’. Na realidade, estava se montando a correção de um boom de crédito em que o Brasil colheu os benefícios da globalização, sem qualquer disciplina. Agora, o processo está acontecendo em marcha à ré”.

E o colapso na moeda, com queda de quase um terço em relação ao dólar em apenas seis meses, é uma reprecificação dramática da economia. Mas a taxa de câmbio real ponderada pelo comércio, que ajusta para a inflação, ainda é maior do que a sua média de 20 anos. Os custos unitários do trabalho também são maiores, em termos de dólares, do que em 2010. Assim, a moeda pode enfraquecer mais, diz o jornal.

O jornal destaca ainda que as taxas de juros subiram para conter a inflação, mas também para compensar os investidores estrangeiros em meio à alta do risco-País. No plano interno, no entanto, as taxas mais elevadas vão prejudicar os brasileiros endividados, somando-se ao aperto em decorrência do plano de austeridade elaborado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

A disciplina de globalização está sendo sentida em outras maneiras também, em meio a acusações e investigações de diversos políticos em decorrência dos escândalos na Petrobras. “Dilma Rousseff, presidente do Conselho da Petrobras antes de se tornar presidente, até agora tem sido poupada. Mas as chances de impeachment, enquanto estavam em última análise sendo mínimas, estão subindo”.

“O governo, no poder há 12 anos, culpa fatores externos pela situação. Mas a confusão é em grande parte de própria autoria do Brasil. Para ter um contrafactual, basta olhar para países como Chile, Colômbia e Peru. Eles experimentaram boom das commodities e crédito semelhantes, mas sem as mesmos ressacas. As suas economias ainda estão crescendo rápido”, ressalta a publicação.

Porém, aponta o FT, nem tudo é totalmente ruim para o Brasil. O país tem um longo caminho para ser hiperinflacionário e suas instituições estão fortes, especialmente o Judiciário, citando o mensalão, em que vários políticos de alto nível foram condenados. “Agora, outros estão no banco dos réus por causa do escândalo Petrobras também. Separadamente, Eike Batista, um ex-bilionário acusado de insider trading, pode ir para a cadeia. Isso teria sido impensável há alguns anos atrás, quando a impunidade reinava”, afirma.

E conclui: “s crise no Brasil é ruim e provavelmente vai piorar antes de melhorar. No entanto, poderia ter sido ainda pior. É um progresso para “o país do futuro”, como diz o clichê. Acima de tudo, isso significa que o Brasil ainda tem um (futuro)”.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.