Crimeia decidirá futuro neste domingo: mas o que isso significa para o mercado?

A princípio, os efeitos da crise entre Ucrânia e Rússia seriam restritos, mas uma escalada das tensões podem aumentar as chances de uma guerra e afetar ainda mais a percepção para ativos de risco

Lara Rizério

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SÃO PAULO – No próximo domingo (16), a população da Crimeia irá às urnas em um referendo que decidirá se o país se separará da Ucrânia ou se será anexada à Rússia. As autoridades internacionais devem rejeitar o resultado do referendo mas, nem assim, ele deve ser ignorado pelo mercado.

“Parece que este referendo está pré-ordenado e poderemos facilmente prever o resultado deste pleito”, ressaltou o primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk em entrevista à CNBC na véspera. Os líderes do atual governo do país criticam a realização do referendo e questionam a legitimidade da votação, assim como autoridades internacionais, que também criticam a Rússia por potencializar os conflitos na região. 

A Crimeia é historicamente ligada a Rússia, mas é parte do território ucraniano. Enquanto líderes favoráveis à união com Moscou querem utilizar o pleito para legitimar o processo para unificação da Rússia, os ucranianos e outras autoridades internacionais rechaçam a votação. Assim, caso os votos aprovem a anexação da Crimeia à Rússia, já há a indicação de que os aliados ocidentais podem aplicar sanções contra Moscou.

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A região tem uma extrema importância estratégica para a Rússia por conta de sua localização geográfica e, desde que o primeiro-ministro ucraniano apoiado pelo Kremlin, Victor Yanukovych, foi deposto, há suspeitas de que as tropas russas tenham entrado na Crimeia. Isso embora o presidente russo, Vladimir Putin, tenha negado isso sistematicamente. 

A população da Crimeia se, como no cenário mais provável, votar conforme a sua etnia, a opção em aderir à Rússia irá dominar. Porém, cerca de um quarto da população fala e se identifica como ucraniano, enquanto há uma minoria – mas substancial – de tártaros, o que remonta para um quadro bastante difícil e dividido para o referendo do final de semana. 

Tensão reside no que a Rússia irá fazer
Mas as reais preocupações do mercado residem sobre o que a Rússia deve fazer após o resultado do referendo. Depois de horas de discussões com o secretário de estado norte-americano, John Kerry, a Rússia deixou claro que não iria tomar quaisquer decisões sobre a Crimeia mesmo após o referendo, enquanto os EUA reiteraram a visão de que este evento é ilegítimo.

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A região fronteiriça com a Rússia, Donetsk, deve se tornar o próximo ponto de tensão para os dois países. A região tem visto confrontos violentos entre as forças pró-russas e pró-ucranianas nos últimos dias. O governo ucraniano pediu à comunidade internacional para lidar com os “atos de agressão e à tentativa de anexar a Crimeia à Rússia”, o que pode significar sanções contra o país de Putin.

E o mercado: como deve reagir?
Em meio a essas tensões crescentes, os investidores devem seguir longe de ativos de risco, no caso, também do mercado de ações. E a volatilidade, que já está sendo sentida nos últimos pregões das bolsas pelo mundo, continuará se a Crimeia decidir deixar a Ucrânia. Com o “sim” da Crimeia e uma possível intervenção militar russa, as sanções feitas pelos EUA poderiam se materializar. 

Conforme destacou o diretor de pesquisa de mercados emergentes do Standard Bank, Timothy Ash, à CNBC, o “dinheiro real está finalmente percebendo que a situação é séria”. 

A incerteza sobre a Crimeia alimenta a volatilidade nos mercados acionários e, mesmo que as tensões se concentrem na Europa, uma vez que boa parte do gás vem da Ucrânia – impactando o frágil crescimento econômico europeu – outros países também são afetados. 

Apesar dos problemas na região terem um impacto mais forte apenas na Europa, os mercados emergentes parecem ser um lugar lógico para começar os descontos. Mesmo com os problemas da Ucrânia serem restritos, os investidores devem seguir cautelosos, uma vez que é um “ponto de inflamação” geopolítica global. 

Para o Market Watch, o economista-chefe de Princeton, Bernard Baumohl, destacou que “muita coisa está em jogo neste final de semana”. Será que Putin irá dobrar e desencadear uma guerra contra a Ucrânia? Tal ato aumenta o espectro de um confronto militar direto entre os EUA e a Rússia, disse Baumohl. “Ou será que os líderes mundiais e, particularmente, os colegas oligarcas de Putin vão pressioná-lo a buscar uma solução diplomática para a crise?”, destacou. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.